Hoje o Brasil tem cerca de 6 milhões de mulheres vivendo em
favelas, majoritariamente concentradas nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro. Em sua maioria elas são negras, casadas e mães, somam um montante de
renda anual de R$ 24 bilhões e chefiam 40% dos lares.
Na passada quinta (7), às 18h30, na Livraria da Vila do
Shopping JK Iguatemi (SP), Renato Meirelles e Celso Athayde lançaram Um país
chamado favela (Gente Editora, 168 p.). O livro reúne os principais dados da
maior pesquisa já realizada sobre a realidade das favelas brasileiras. O
Instituto Patrícia Galvão participou do projeto buscando identificar quem são
as mulheres que residem nessas comunidades. Os dados mostram a força política e
econômica desse segmento da população e suas demandas por cidadania efetiva. No
dia 14, o lançamento acontece no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa do
Shopping Leblon.
Hoje o Brasil tem cerca de 6 milhões de mulheres vivendo em
favelas, majoritariamente concentradas nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro. Em sua maioria elas são negras, casadas e mães, somam um montante de
renda anual de R$ 24 bilhões e chefiam 40% dos lares. Entre as que contam com
trabalho remunerado, 44% têm emprego formal. E em dez anos dobrou a
escolarização de nível médio dessas mulheres, saltando de 16% para 30%. No
entanto, demandas básicas de políticas públicas que poderiam assegurar maior
autonomia e cidadania a essas brasileiras ainda não foram atendidas. Mesmo o
mercado parece não enxergar as necessidades e potencialidades desse segmento,
realçando o preconceito historicamente sentido pelos que vivem nessas áreas.
Ainda de acordo com o estudo, a melhoria das condições de
vida, possibilitada pelo aumento da média salarial em 54,7% desde 2003, leva a
que 2 em cada 3 moradoras entrevistadas não desejem sair da comunidade onde
vivem para morar em outro bairro. “Morar na favela não foi uma escolha, e sim
uma necessidade. Mas embora ainda enfrentem preconceito e as dificuldades não
tenham desaparecido, os moradores e moradoras tendem a avaliar o momento atual
como marcado por dias melhores”, afirma o diretor do Data Popular Renato
Meirelles.
51% conhecem uma
mulher que sofreu agressão doméstica
Entre os entrevistados (homens e mulheres), 51% dos
moradores de favelas afirmaram conhecer alguma mulher que já sofreu agressão de
um atual ou ex-parceiro e 46% conhecem algum homem que já agrediu a parceira.
Esses patamares são muito similares aos verificados em outras pesquisas de
caráter nacional, não apontando desequilíbrio entre os índices de violência
doméstica nas comunidades e fora delas.
Ainda no aspecto da violência, chama a atenção o fato de 20%
dos moradores das favelas conhecerem ao menos uma mulher que já foi estuprada.
O dado pode refletir o efeito dos laços de solidariedade ressaltados pelas
mulheres durante a pesquisa, que favorecem a relação de confiança das vítimas
para relatar o ocorrido a amigas e familiares. Entre as entrevistadas, 66% têm
parentes morando na mesma localidade.
Hospitais, postos
policiais, creches e serviços são principais demandas
Mais de 87% dos entrevistados (homens e mulheres) relataram
ter disponíveis serviços como saneamento básico, coleta de lixo, energia elétrica,
posto de saúde, escola e transporte públicos na rua ou na favela onde moram. No
entanto, 55% afirmaram não ter acesso a hospital público na comunidade, 50%
relataram ausência de posto policial na favela e 32% mencionaram a falta de
creches públicas.
Os números estão em consonância com a demanda dessas
mulheres por autonomia econômica e segurança/proteção contra a violência, e
evidenciam também forte demanda por cidadania.
“Tem crescido na sociedade brasileira como um todo o espaço
ocupado pela mulher, e o número de mulheres chefes de família é maior nas
favelas que no asfalto.Mas, elas ainda encontram um conjunto de dificuldades
para conseguir desempenhar todos os papeis que têm. Temos 25% de mães solteiras
nas favelas, por exemplo. E que tipo de políticas públicas temos para essas
mulheres? Elas reclamam da ausência de creches, do transporte público que faz
com que levem muito mais tempo para ir e voltar do trabalho. E, para falar de
igualdade de gênero e do papel da mulher na sociedade, é preciso discutir o
conjunto de políticas públicas de suporte à promoção dessa igualdade”, destaca
Meirelles.
24% têm Bolsa Família
e para 53% já faltou dinheiro para compra de alimentos
A pesquisa levantou ainda que 24% são beneficiários do Bolsa
Família (recebem ou vivem no mesmo domicílio com alguém que recebe o
benefício). Esse dado, associado ao índice de 44% de participação no mercado de
trabalho, aponta no sentido oposto do senso comum que reputa ao programa um
“incentivo à acomodação”. Entre as entrevistadas, 74% avaliaram que a vida
melhorou no último ano e, dentre elas, a maioria absoluta credita essa melhora
ao esforço próprio e à fé.
O índice de recebimento do Bolsa Família também demonstra
que a vida na favela, apesar da melhoria das condições sociais, ainda é difícil
– 53% afirmaram já ter vivido o drama de não ter dinheiro para comprar
alimentos.
O mercado não enxerga
a favela
A pesquisa foi realizada com a perspectiva de mostrar como
as favelas são também espaços de oportunidades. E os resultados revelam o que
Renato Meirelles qualifica como “ignorância e desprezo” dos planejadores de
negócios. A maioria dos moradores (homens e mulheres) relatou que só têm acesso
à compra de vestuário, calçados e eletroeletrônicos fora da comunidade ou em
bairros distantes de suas residências. “Tem muita gente morando nas favelas,
pessoas que consomem roupas, serviços bancários e de turismo, etc, e que exigem
e necessitam do mesmo conforto e praticidade para adquirir que os moradores do
asfalto. As empresas que souberem entender essa demanda têm muito mais chance
de dar certo. Até porque, se é verdade que as mulheres estão mais no mercado de
trabalho, não é verdade que os homens dividiram as tarefas domésticas com
elas”, ressalta Renato.
A pesquisa
O levantamento quantitativo domiciliar foi realizado em
parceria entre o Instituto Patrícia Galvão, o Data Popular e o Data Favela de
10 a 18/05/2013, em 100 municípios escolhidos através de sorteio amostral.
Foram entrevistadas 1.501 pessoas maiores de 18 anos. Os dados receberam
ponderação para as variáveis sexo, idade, PEA e região, segundo parâmetros
obtidos na PNAD/IBGE para as áreas urbanas. A margem de erro é de 3 pontos
percentuais para mais ou menos.
Fonte: Agência Patrícia Galvão
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