Um dos crimes mais nojentos, o tráfico de seres humanos
também é um dos mais perversos e está acontecendo em Mato Grosso. Em Cuiabá,
pelo menos seis jovens entre 18 e 24 anos já teriam sido “vendidas” para outros
países. Duas das meninas de 19 anos, no entanto, chegaram a viajar. Uma delas,
uma estudante de economia foi para Belo Horizonte, em Minas Gerais. A outra,
uma estudante de enfermagem, ficou em Natal, no Rio Grande do Norte. As duas
conseguiram escapar dos bandidos.
As quadrilhas, uma delas agindo em Cuiabá, são formadas por
pseudos intelectuais disfarçados de “bons moços”. Pessoas de classe média alta.
Gente bem vestida, de bom português e de conversa fácil. O tráfico é bem ao
estilo do roteiro da Novela “Salve Jorge”, da Rede Globo de Televisão.
Uma das sobreviventes, uma jovem universitária de 19 anos,
moradora da Baixada Cuiabana, aceitou conversar com exclusividade – sem se
identificar, é claro -, com a reportagem do Portal de Notícias 24.
A moça conta que teve sorte, pois sem saber que seu destino
era a Espanha, onde além de dançar em boates e fazer Striptease também teria
que fazer programas sexuais, estava disposta a aceitar a proposta tentadora
para uma pessoa desempregada e com muitas dívidas.
Pior, a jovem viraria escrava-branca e iria correr até risco
de morrer. A proposta de “trabalho” seria como enfermeira de uma grande clínica
particular de estética em Madri. Salário inicial de três mil Euros, quase R$ 9
mil.
A abordagem da jovem foi com um rapaz bem vestido na entrada
de um dos shoppings de Cuiabá. Ele (o intermediário da quadrilha, também
conhecido como “cafetino” ou “cafetão”, pessoa paga para selecionar mulheres
para programas sexuais); se aproximou, segundo a jovem, pedindo uma simples
informação: “Você pode me informar onde fica a sede da Polícia Federal?
De boa conversa, o “cafetino” até então desconhecido,
segundo a jovem começou a falar coisas que. chamaram a atenção da jovem, que
por coincidência, estava atrás de um emprego, pois estava prestes a trancar a
matrícula na universidade por falta de pagamento. “Essa proposta caiu do céu,
mas com certeza iria me levar ao inferno”, brinca a jovem.
Da conversa informal na entrada do shopping, a jovem conta
que o homem que se apresentou como estudante de Medicina e se identificou como
Kaito, a convidou para almoçar. Ela recusou alegando que estava sem dinheiro,
mas ele garantiu “que seria um prazer almoçar com uma pessoa tão simpática”.
Até então sem saber de nada, a jovem conta que durante o
almoço Kaito disse que recebeu convite para trabalhar em Nova Iorque e estava
de viagem para Natal antes de embarcar para os Estados Unidos.
Disse que foi convidado por uma agência de emprego
internacional, especializada em levar pessoas para trabalhar em outros países.
Afirmou que a empresa era séria e a conversa foi ficando interessando ainda
mais para a jovem. Até que ele indicou a mesma agência para a estudante de
Cuiabá.
“Vou viajar para Natal, e antes de embarcar para os Estados
Unidos te ligo. Talvez, se der certo, até mesmo nas próximas 48 horas”, disse o
homem. Depois do almoço ele disse que iria para o hotel pegar a bagagem, pois
viajaria no final da tarde.
Mesmo ansiosa, a jovem percebeu que o homem não a convidou
para ir para a cama, como faziam quase todos outros que ela havia conhecido até
então. “Ele foi educado, gentil. Sinceramente, não dava, como não deu, para
perceber que ele era um bandido de alto nível”, mencionou a jovem.
Dito é feito. Em menos de 28 horas a estudante cuiabana
recebeu uma ligação que quase a deixa sem fôlego. “Você quer trabalhar fora do
Brasil. Ainda não sei para onde, mas posso garantir que a agência vai
convidá-la, pois eu dei boas referências de você”, afirmou o “cafetão”.
Mais 48 horas depois, um,a mulher ligou. Se apresentou como
Sueli, como secretária de uma empresa denominada Agência de Emprego
Internacional e conversou com a jovem referendada pelo tal Kaito. A proposta
foi viajar para a Espanha, onde trabalharia como enfermeira com salário de quase
R$ 10 mil.
Aceitei, afirma a jovem. Dois dias depois ela conta que
chegou a passagem para ela embarcar para Natal. Lá, no entanto, as coisas
começaram a mudar de figura. Uma mulher foi buscá-la no aeroporto e a levou
para um hotel meio “chinfrin”, nada parecido com estrutura oferecida por uma
empresa que se dizia multinacional.
“Calma. Falei comigo mesma”, narra a jovem. No dia seguinte
a mesma mulher trouxe um contrato escrito em inglês, alegando que se tratava da
Clínica onde ela iria trabalhar em Madri. Só que, durante um ano a estudante
teria que pagar à agência, mais de R$ 10 mil dólares. “Fiz as contas e dava
para pagar”, afirmou a estudante cuiabana.
Só que, 24 horas antes do embargue, um homem que eu nunca
tinha visto chegou com outros dois em um carro e me entregou um envelope grande
com meu passaporte. Dentro, no entanto, havia vários documentos. “Ao ler,
descobri que o passaporte e os documentos estavam em nome de outra mulher.
Tremi ao descobrir que eu viajaria com documentos falsos”, afirma.
Minutos depois, a mulher que se identificou como Sueli foi
até o hotel e conversou comigo. Uma conversa, no entanto, em forma de instrução
para que eu não caísse em contradições. “É uma questão de segurança, só isso,
as autoridades brasileira são cheia de marra e gostam de desconfiar de tudo,
por isso nós agimos sempre assim”, disse a mulher que saiu em seguida.
“Como eu estava sempre calada e aceitando tudo o que eles
diziam, ninguém desconfiou que eu já tinha certeza que iria cair em uma plano
diabólico e meu destino não seria uma clínica, mas sim uma boate. Foi ai que eu
resolvi agir”, conta a estudante.
Ela conta que como a viagem dela era apenas na noite do dia
seguinte, ela resolveu pedir ajuda. Falou com um funcionário do hotel que
deixou que ela usasse o computador. No Google ela descobriu que não existia
nenhuma agência com aquele nome de Agência de Emprego Internacional.
“Sai do hotel rapidamente sem sequer olhar para trás. Na rua
liguei para minha família e fui direto para o aeroporto aguardar a ordem de
passagem que o meu pai estava providenciando. À noite voltei para Cuiabá.
Graças a Deus descobri a tempo que estava sendo levada como prostituta, e não
como enfermeira para a Espanha”, conclui a jovem que completou 20 anos na
semana passada.
A outra jovem não aceitou conversar com a reportagem, mas
confirmou que também escapou por pouco das garras de uma quadrilha que age em
Cuiabá e manda garotas para outros países para trabalharem como prostitutas e
dançarinas de boates.
A jovem afirmou que chegou a viajar para Belo Horizonte, mas
que sua família descobriu que ela iria cair no golpe a tempo e conseguiu
resgatá-la antes do embarque. As duas estudantes, por recomendações de seus
familiares, não registraram queixa-crime na Polícia.
Existem denúncias, de que além das duas jovens estudantes
cuiabanas que conseguiram escapar da quadrilha, outras quatro jovens foram
levadas de Cuiabá para outros países nos últimos dois anos.
As quatro jovens foram levadas, possivelmente pela mesma
quadrilha, pois as duas vítimas que escaparam descrevem o “cafetão” como sendo
o mesmo homem nos dois casos. A reportagem tentou contato com a Polícia Federal
(PF) de Mato Grosso, mas não conseguiu falar com ninguém neste sábado (24).
Fonte: www.24horasnews.com.br
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