“Estou absolutamente convencido
de que Maria Madalena estava apaixonada por Jesus”. O escritor e jornalista
Pedro Miguel Lamet atreveu-se a romantizar a vida, e o amor, de um dos
personagens menos conhecidos e, ao mesmo tempo, mais menosprezados, da história
da Igreja: Maria de Madalena.
Em Não sei como amar-te (Mensajero), que foi
apresentado na segunda-feira – com a presença de um notável público – na
Pontifícia Universidade Comillas, o jesuíta apresenta, através de 23 cartas, o
que poderia ter acontecido, aconteceu, e não aconteceu, entre Jesus e esta
mulher, “uma vítima, uma postergada”.
A reportagem é de Jesús Bastante
e publicada por Religión Digital, 24-05-2016. A tradução é de André Langer.
Um livro “profundamente belo”,
como o definiu María Ángeles López, redatora-chefe da Revista 21. “Uma novela
costurada com poesia”, apontou a jornalista, que agradeceu ao autor o fato de
que “coloque esta mulher como protagonista e que tente ler o Evangelho com um
olhar feminino”. Hoje, assim como antanho, a mulher “é postergada” em “uma
instituição tão misógina e patriarcal como a Igreja”.
“Este é o século da justiça
reparadora com as mulheres”, assinalou López, que denunciou como “a Igreja faz
tantos esforços para enterrar as mulheres e a revolução do amor do Evangelho de
Jesus”, que são necessárias as “mudanças, embora pequenas, que se pressentem
desde a chegada de Francisco”.
A educadora Carmen Guaita, por
sua vez, qualificou a novela de Lamet como “um livro deslumbrante”, que narra
“23 cartas de amor profundo, um amor que evolui, cresce e que chega a
surpreender a todos, inclusive a protagonista”. “Maria se apaixona por um
homem, antes do Calvário e da Ressurreição. Apaixona-se por um homem que come,
transpira e se cansa. É um amor anterior à fé”.
Para Guaita, “Maria Madalena foi
uma apóstola, uma mulher muito inteligente e com um coração muito bom.
Profunda, reflexiva e carnal, uma mulher que utiliza os cinco sentidos”. Uma
mulher retratada “de um modo praticamente perfeito” por Lamet.
Já a teóloga María José Arana
reivindicou a figura de Madalena, e agradeceu a Pedro Miguel Lamet sua
tentativa de “se aproximar da vida real de tantas mulheres que sofrem, assim
como ressaltar seus valores”. Porque a história que se esconde atrás de Não sei
como amar-te é a de mulheres que sofrem, que levam consigo, como uma lousa, o
“pecado” de Eva.
Arana destacou como Lamet une
“fidelidade ao Evangelho com força e doçura literária”. “Extrai chispas do
Evangelho – disse – e com o olhar fixo na mensagem. Maria Madalena é a apóstola
dos apóstolos”.
Após uma série de leituras de
algumas cartas, compassadas pela música e a voz de uma soprano, Lamet agradeceu
a todos por sua presença na apresentação, especialmente às três mulheres que o
acompanhavam na mesa, e apontou a importância de Maria Madalena na vida de
Jesus e do cristianismo. “Ela esteve com ele ao pé da cruz, e é a primeira
testemunha da Ressurreição. Ela recebe um dom especial que os apóstolos não
receberam”.
Um dom que, no entanto, a Igreja
não soube, ou não quis, explorar. “Ela foi uma espécie de ‘batata quente’ entre
os diversos setores. Eu somente quis fazê-la escrever cartas de amor para
espairecer. São cartas de amor trágico, porque a vida de Jesus foi trágica”.
O autor persegue um duplo
objetivo ao escrever esta novela: em primeiro lugar, “superar o tabu de
identificar mulher e pecado na Igreja; em segundo lugar, “dizer que há apenas
um amor”, rompendo a dicotomia entre amor divino e amor humano. E denunciando
com força os abusos e a violência contra a mulher. Ontem, hoje e sempre.
Lamet não omitiu a recentemente
recuperada questão do diaconato feminino. Na sua opinião, embora seja uma boa
notícia o fato de que o Papa sacuda a árvore, “não se trata disso: trata-se de
dar à mulher carta de cidadania na Igreja, com postos de corresponsabilidade e
de autoridade”. Algo que, apesar das oposições, o jesuíta acredita que acabará
chegando. “O que Francisco está fazendo é muito importante, porque qualquer
longa e importante caminhada começa com um passo. E ele está sendo dado”,
concluiu.
Fonte: Ihu
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