Grupo especial da PM que previne
e evita ciclo de agressões já prestou atendimento a mais de 39 mil mulheres no
estado. Trabalho inclui monitoramento e visita às vítimas.
"Ele apertava a minha
garganta até eu desmaiar. Eram tapas o tempo todo. No último, levei quatro
pontos na boca. Os policiais são os meus anjos da guarda. Eles apareceram para
mudar a minha vida e estão salvando muitas outras As mulheres têm que perder o
medo e denunciar. Eu me sentia muito sozinha, mas agora me sinto protegida A
coisa mais preciosa que temos é a vida. E viver feliz tem outro sabor. Não conhecia
os meus direitos e a PM me esclareceu. Hoje, estou protegida pela Lei Maria da
Penha" - P.S.S., de 37 anos, operadora de caixa, que durante cinco anos
sofreu violência física e psicológica do marido
Depois de cinco anos sofrendo
todo tipo de violência física e psicológica do marido, e até ser mantida em
cárcere privado, a operadora de caixa P.S.S., de 37 anos, conquistou a tão
sonhada liberdade e voltou a sorrir. Isso só foi possível porque, depois de
sofrer mais uma agressão física em casa, no Bairro Ribeiro de Abreu, Região
Nordeste da capital, entrou em desespero e pediu socorro a um policial militar
que entrou na padaria onde ela trabalha, no Bairro Carlos Prates, Região
Noroeste. Foi quando a mulher ficou sabendo da Patrulha de Prevenção à Violência
Doméstica (PVD), criada em 2010 pela PM, depois de um projeto-piloto no 34 º
Batalhão do Bairro Caiçara, Noroeste de BH. Desde janeiro de 2011 até início de
maio deste ano, já foram 39.109 atendimentos a mulheres agredidas de todo o
estado.
O ex-companheiro da operadora de
caixa, um autônomo de 24 anos, não bebe ou usa drogas, mas é violento por
natureza, segundo ela. Por três vezes, a mulher conta que foi mantida em
cárcere privado e torturada. “Ele apertava a minha garganta até eu desmaiar.
Eram tapas o tempo todo. No último, levei quatro pontos na boca”, relata a
vítima. Mas o pesadelo acabou. P. teve proteção policial para sair de casa,
levando os dois filhos pequenos e seus pertences, e hoje recebe a visita de PMs
da PVD em sua nova residência e também no trabalho para saber se ela está tudo
com ela.
A vítima compara a sua liberdade
à de um passarinho que vivia numa gaiola e que foi solto. “Tudo mudou na minha
vida. Hoje, tenho o direito de ir e vir, liberdade para conversar com as
pessoas, visitar os meus parentes e para usar as roupas que gosto. Até a minha
aparência mudou. Era uma morta-viva e voltei a ser feliz”, conta P., que está
cheia de expectativas e sonhos. “Quero fazer cursos e crescer
profissionalmente”, planeja. “Os policiais são os meus anjos da guarda. Eles
apareceram para mudar a minha vida e estão salvando muitas outras. As mulheres
têm que perder o medo e denunciar. Eu me sentia muito sozinha, mas agora me
sinto protegida”, reconhece.
A gestora técnica do PVD,
sargento Sílvia Adriana Silva, do Comando de Policiamento da Capital (CPC),
explica que é feito um acompanhamento do caso de violência. “A gente tem um
protocolo institucional a ser cumprido para quebrar o ciclo de violência e
eliminar a criminalidade doméstica”, ressalta. Os monitoramentos demoram de
três a seis meses, dependendo da gravidade do caso. No caso da operadora de
caixa, ela será monitorada por três meses.
REINCIDÊNCIA “A ideia é cortar o
mal pela raiz e evitar um crime maior”, disse a sargento. Um dos passos da PVD
é o contato direto com o autor da violência. “A gente apresenta para ele a Lei
Maria da Penha e os crimes a que ele estará sujeito. Se estiver cometendo algum
flagrante, o autor é preso no momento”, alerta a militar.
São oito equipes da PVD em BH,
uma para cada batalhão de área. Em muitos casos, as vítimas nem precisam pedir
ajuda à PM. É feita uma pesquisa no banco de dados da polícia para identificar
casos de maior gravidade e reincidentes, quando a equipe discute a intervenção
a ser feita. “Em Belo Horizonte, a gente tem uma recorrência muito grande de
ex-maridos e ex-namorados inconformados com o fim do relacionamento. São os
casos mais graves”, conta a militar.
As visitas às vítimas podem ser
diárias, dependendo do caso, e há encontros agendados para encaminhá-las às
varas criminais, para registro de denúncia ou acolhimento psicossocial. “A PM
articula e promove o empoderamento dessa mulher para que ela saia do ciclo de
violência”, explicou a sargento Sílvia.
Proibida até de conversar com
vizinhos
A tortura sofrida pela operadora
de caixa não era apenas física. As torturas psicológicas também deixaram
sequelas. É tanto que P.S.S. passa por atendimento psicológico em um centro de
mulheres indicado pela PM. “Não podia ter contato com a minha família e ter
amigos. Era impedida até de dar bom-dia para o vizinho. Meu marido controlava o
que eu vestia e rasgava minhas roupas. Não acredito que era ciúme, pois não
bebo, não saio e não dou nenhum motivo para isso. Ele que é muito mulherengo e
cansei de saber dos casos dele”, contou a vítima, lembrando que ainda era
obrigada a manter a casa com o seu salário. “Tudo nas minhas costas”, reclama.
Depois de relatar seu caso a um
policial militar na padaria onde trabalha, a operadora de caixa lembra que, no
dia seguinte, um casal de PMs a procurou oferecendo ajuda. “Sinceramente, me
surpreendi com o apoio deles. Contei toda a minha história e o tempo todo eles
me visitam em casa e no trabalho”, conta P..
Hoje, a vítima mora em casa
alugada na Região Noroeste da capital, cujo endereço é mantido em sigilo. Por
enquanto, os filhos estão protegidos na casa de um parente, pois eles também
eram agredidos pelo pai, segundo a mãe. “Meu marido não me procura mais, nem
mesmo no trabalho. As ameaças acabaram e ele não me telefona e ameaça, como das
outras vezes. Os policiais também ofereceram ajuda a ele, mas ele recusou.”,
comentou.
A operadora de caixa conta que já
havia deixado o marido outras vezes, mas as ameaças de morte eram tantas que
ela voltava para ele, por medo. “É tanta violência contra a mulher, que abro o
jornal e fico assustada com as notícias. A gente tem que tomar iniciativa. Não
podemos esperar pelo pior. A coisa mais preciosa que temos é a vida. E viver
feliz tem outro sabor”, desabafa. “Não conhecia os meus direitos e a PM me
esclareceu. Hoje, estou protegida pela Lei Maria da Penha e sou muito feliz.”
OPERAÇÃO O chefe da Seção de
Direitos Humanos da PM, major Denio Sebastião Martins de Carvalho, conta que os
militares da PVD recebem treinamento específico para esse tipo de atendimento.
Cada equipe tem quatro PMs. As denúncias de violência doméstica, segundo ele,
podem ser feitas pelo telefone de emergência policial, o 190, e cada caso será
analisado. “A mulher relata o seu problema e o recepcionista vai detectar se o
fato pode ser enquadrado na prevenção de violência doméstica. A viatura da PVD
é acionada, mas, se ela já estiver empenhada em um atendimento, outra viatura
da área é acionada para o fazer o que chamamos de primeira resposta”, disse o
major.
Se a vítima estiver ferida, ela é
encaminhada ao atendimento médico. O autor da agressão é preso em flagrante e
levado para a Delegacia de Mulheres. O major esclarece que a Lei Maria da Penha
é aplicada não somente aos maridos e namorados agressores, mas irmão que agride
a irmã ou o filho que bate na mãe também podem ser enquadrados.
DENÚNCIAS Podem ser feitas pelo
telefone de emergência policial, o 190, e cada caso será analisado
Fonte: Estado de Minas
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