As mulheres podem ser nomeadas
chefes de alguns dicastério da Cúria Romana, disse o Papa Francisco, mas isso
não será o suficiente para “recuperar o papel” que elas deveriam ter na Igreja
Católica.
“As mulheres deveriam ser
promovidas”, disse ele em 16 de maio durante uma audiência com um grupo
internacional de religiosos e religiosas que trabalham na Diocese de Roma. Mas
designar um certo número de mulheres a cargos de liderança é um “simples
funcionalismo”, disse o pontífice.
O importante é garantir que elas
tenham voz e sejam ouvidas, segundo ele, pois a Igreja necessita das
contribuições específicas delas.
“Quando nós homens estamos
lidando com um problema, chegamos a uma conclusão, mas se lidarmos com o mesmo
problema com a ajuda de uma mulher, a conclusão pode ser diferente. Este
processo poderia percorrer um mesmo trajeto, porém seria mais rico, forte,
intuitivo”, disse ele. “As mulheres na Igreja devem ter este papel”, porque a
Igreja precisa do “gênio feminino”.
Durante o longo encontro do papa
com os religiosos e as religiosas, ele respondeu de improviso a perguntas
feitas por duas mulheres e dois homens. Mas ele também ressaltou as histórias e
os ministérios dos religiosos (e religiosas) que ele conheceu durante estes
seus dois anos como Bispo de Roma e as experiência que teve quando era
arcebispo de Buenos Aires.
O padre amigoniano Gaetano Greco
perguntou ao papa como a diocese e as ordens religiosas masculinas poderiam
ajudar as religiosas a encontrarem bons diretores e confessores espirituais.
O Papa Francisco respondeu que
encontrar um bom diretor espiritual, tanto para as religiosas quanto para os
religiosos, pode ser um problema – seja porque um sacerdote “não compreende o
que é a vida consagrada, seja porque ele quer se envolver no carisma e dar a
este a sua própria interpretação”.
Procurar um bom confessor também
pode ser difícil, disse ele. Quando se vai a uma confissão, um religioso (ou
religiosa) não precisa de um “bate-papo legal entre amigos”, mas ele (ou ela)
não precisa de “uma conversa rígida também”.
“Na outra diocese que eu tive”,
disse o pontífice referindo-se a Buenos Aires, “sempre perguntei às irmãs que
vinham até mim em busca de conselho: ‘Mas me diga, em sua comunidade ou
congregação não há uma irmã sábia, uma irmã que vive bem o seu carisma, uma boa
irmã com experiência? Peça-a para ser a sua diretora espiritual’”.
O papa disse que certa vez ouviu:
“Mas ela é uma mulher!”
A orientação espiritual, disse
Francisco, “não é um carisma exclusivo aos sacerdotes. É um carisma dos
leigos”.
O papa disse que está lendo um
livro sobre a obediência, de São Siluane Atonita, que era carpinteiro. “Ele não
foi nem mesmo diácono, mas era um grande diretor espiritual”.
O Papa Francisco incentivou os
superiores religiosos (e as superioras religiosas) a identificarem membros em
suas congregações que são bons, sábios e pacientes, treinando-os para a
orientação/direção espiritual.
“Não é fácil”, disse o papa. “Um
orientador espiritual é uma coisa, e um confessor é outra. Eu vou a um
confessor, digo quais são os meus pecados, me sinto condenado, e então ele
perdoa tudo e eu sigo em frente.
“Mas um com orientador
espiritual, tenho de falar sobre o que se encontra em meu coração. O exame de
consciência não é o mesmo na confissão e na orientação espiritual”, falou o
pontífice. “Na confissão, preciso olhar para onde eu estive em falta, onde eu
perdi a paciência, se fui ganancioso – esse tipo de coisa, aquelas coisas
concretas que são pecaminosas".
“Mas na orientação espiritual,
devo examinar o que está acontecendo em meu coração, para onde o Espírito está
se movendo, se senti desolação ou consolo, se estou cansado, por que razão
estou triste: são essas as coisas a se falar com a pessoa que é a minha
orientadora espiritual”, disse ele.
“Quando encontrarem um religioso
ou religiosa que não consegue discernir o que está acontecendo em seu coração,
que não consegue discernir uma decisão, temos uma falha na orientação
espiritual”, segundo o papa. “Isso é algo que somente uma mulher ou um homem
sábio consegue fazer”.
Iwona Langa, virgem consagrada,
perguntou ao papa como pessoas casadas e pessoas consagradas podem ajudar um ao
outro a perceber que ambos têm uma vocação ao amor e que eles podem se apoiar,
uns aos outros, na fidelidade a este amor.
A chave, disse o papa, é lembrar
que o amor é concreto.
“O seu amor como uma mulher é um
amor concreto, maternal”, disse Francisco. O capítulo 25 do Evangelho de Mateus
resume como deve ser o amor cristão real: entre outras coisas, ele envolve
alimentar os famintos, vestir os despidos, visitar os encarcerados.
O padre scalabriniano Gaetano
Saracino, pastor de uma paróquia que o Papa Francisco visitou em março,
perguntou como as ordens religiosas, os novos movimentos, as associações
católicas e a diocese poderiam trabalhar juntos e melhor, valorizando a
identidade e os dons de cada um.
Dizendo que responderia a esta
pergunta de forma clara e direta, pois “eu sou um bispo e um religioso”, o papa
jesuíta contou aos religiosos e religiosas: “Uma das coisas mais difíceis para
um bispo é criar harmonia na diocese”.
Às vezes, continuou, pode ser
verdade que os bispos veem os religiosos como “tapa-buracos”. “Mas se coloquem
no lugar deles. Vocês têm uma paróquia com um grande religioso como pastor;
três anos depois o provincial vem e diz: ‘Estou trocando este e mandando um
outro para você’. Os bispos sofrem com este tipo de atitude”.
Os religiosos dizem ao bispo:
“Temos um Capítulo, e este decidiu assim”, disse ele. O bispo está tentando
administrar uma diocese e, às vezes, parece que “muitos religiosos e religiosas
passam suas vidas se não em Capítulos, ao menos em versos”, disse ele fazendo
uma brincadeira com as duas palavras ao mesmo tempo lembrando, jocosamente, das
intermináveis reuniões.
Fonte: Ihu
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