terça-feira, 19 de maio de 2015

O grande negócio do tráfico de pessoas no sudeste asiático

Pediram a Salim mais de 1.000 dólares por sua fuga de barco de Mianmar, mas os traficantes, desarticulados pela nova mão de ferro do governo tailandês, abandonaram a embarcação com seus passageiros e o negócio lucrativo.

As redes de traficantes que prosperam há anos no sudeste asiático se estendem agora do oeste de Mianmar, passando pelas zonas costeiras de Bangladesh, até a costa do sul da Tailândia.
Segundo o novo método empregado pelos traficantes, o dinheiro dos emigrantes é exigido na chegada ao país de destino, com frequência a Malásia, onde a maioria dos rohingyas, minoria muçulmana perseguida em Mianmar e cidadãos de Bangladesh, fogem da miséria, buscando uma vida melhor.
Na Tailândia, os traficantes colhem os frutos de seu negócio. Segundo os grupos de defesa de direitos humanos, no sul do país, os emigrantes ficam em acampamentos no meio da selva, à espera de que amigos e familiares paguem entre 2.000 e 3.000 dólares por sua liberação. Outros são vendidos a fazendas e indústrias na Malásia.

Uma embarcação com 400 pessoas a bordo - às vezes recrutadas, às vezes sequestradas- representam um lucro total de 800.000 dólares segundo Freeland, uma ONG que ajuda à polícia tailandesa a investigar as redes de tráfico de seres humanos.
Quando saíram de Mianmar, Salim e seus companheiros de viagem não podiam saber que a Tailândia estava a ponto de desmantelar numerosos acampamento no sul do país e portanto, de cortar as vias de acesso utilizadas até então.
"Ainda não paguei nada... nós queremos ir à Malásia", explicou o homem de 30 anos à AFP em um barco à deriva perto do litoral tailandês. Cerca de 300 homens, mulheres e crianças rohingyas se encontravam no barco, no mar, há mais de duas meses.

Grandes somas de dinheiro

A Tailândia lançou no início de maio uma série de operações no sul do país, em plena floresta, contra os acampamentos de trânsito utilizados pelos traficantes, onde foram descobertas várias fossas comuns.
A nova política tailandesa desencadeou uma reação em cadeia e os traficantes fugiram, abandonando centenas de emigrantes no mar e nos acampamentos na selva.
Desde o início de maio as autoridades emitiram mais de 60 ordens de prisão e mais de cem policiais foram transferidos. O país também busca um responsável local da província de Satun, Pajjuban Aungkachotephan, conhecido como "Grande irmão Tong".
"Ele estava de olho em todos os negócios", disse à AFP um empresário da região que preferiu o anonimato. "Não sei se está implicado ou não no tráfico (de seres humanos), mas se alguém fazia algo ilegal, certamente ele saberia".
"A maioria dos traficantes de Mianmar e Malásia afirmam que os chefes tailandeses são os que ficam com a melhor parte desse comércio", explicou Matthew Smith, da ONG Fortify.
Segundo Smith, a soma de dinheiro envolvida nesse negócio passariam dos 250 milhões de dólares desde 2012 e muitas pessoas teriam dividido a quantia.
No dia 8 de maio, na região de Cox Bazar em Bangladesh, onde vivem cerca de 300.000 refugiados rohingyas, três supostos traficantes morreram em um tiroteio com a polícia.
Levados ao crime muitas vezes pela falta de trabalho, pela pobreza e pelo desespero, muitos rohingyas também estão implicados nas redes de traficantes de pessoas.


Fonte: Estado de Minas

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