Grupos feministas de São Paulo estão divididos sobre o
“vagão rosa”, que é exclusivo para mulheres no metrô e nos trens da CPTM.
Criada pelo deputado Jorge Caruso (PMDB), a medida foi
aprovada na Assembleia no dia 4 para proteger as mulheres de abusos sexuais no
transporte superlotado.
O governo afirma estar estudando o projeto, que deve ser
vetado ou aprovado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) nos próximos dias.
A estudante Giulia Ribeiro, 18, do grupo Tática Feminista,
se diz totalmente contra o vagão, pois ele “aumenta a segregação entre os
gêneros”.“E os estupradores podem fazer suas viagens livremente sem serem
culpabilizados”, completa.
Militante da Marcha Mundial das Mulheres, Sonia Coelho, 55,
também reprova.“Ele reforça o imaginário de que a mulher é culpada pela
violência que sofre. Quem for agredida em outro vagão, que não o exclusivo,
pode ser questionada sobre o motivo de não estar na parte das mulheres.”
A estudante de letras Isadora Szklo, 21, e militante do
grupo “RUA – Juventude Anticapitalista”, também se posicionou contra o vagão
feminino. “Existem formas simples e imediatas de diminuir os casos de agressão
de forma educativa, como capacitar agentes e seguranças do metrô sobre as
causas de assédio e criação de um órgão presente em todas as estações para
denúncia”, diz ela.
Já a estudante da USP Letícia Pinho, 26, do Mulheres em
Luta, diz que o vagão não resolve o problema do assédio, mas seria uma medida
protetiva importante -o coletivo já distribuiu, em estações da Grande São
Paulo, alfinetes para mulheres se defenderem dos “encoxadores”.
“A superlotação deixa a mulher mais vulnerável. Já que o
transporte de qualidade está demorando, a gente precisa do mínimo de segurança
urgentemente”, diz.
O Juntas, grupo feminista ligado ao PSOL, se posicionou a
favor da medida.
“Sou a favor porque tenho a impressão de que a população é
favorável. Acho que falta ao movimento feminista ouvir mais as mulheres que
enfrentam o transporte lotado todos os dias”, argumenta Giulia Tadini, 24, militante
do movimento.
Pesquisa do Datafolha feita em abril apontou que 73% dos
paulistanos se revelaram favoráveis ao “vagão rosa”.
A vendedora Carolina do Nascimento, 19, aprova. “Seria
ótimo. Já briguei com um rapaz que me apertou”, diz ela, que usa trem e metrô
nos horários de pico.
Um protesto contra o “vagão rosa” está programado para o
próximo dia 18, na praça da Sé. Cerca de mil pessoas já confirmaram presença na
rede social Facebook.
Vagão exclusivo para mulheres funciona desde 2006 no Rio de
Janeiro; proposta é para coibir assédio sexual nos horários de pico Alexandre
Campbell – 24.abr.2006/Folhapress
RIO
O vagão para mulheres existe no Distrito Federal desde 2013
e no Rio, desde 2006.
No Rio, uma lei estadual obriga as concessionárias a
destinarem vagões femininos nos horários de pico. A lei não determina, porém,
punição em caso de descumprimento.
Segundo a concessionária MetrôRio, o passageiro identificado
é convidado pelos seguranças a se retirar.
Tanto a MetrôRio quanto a SuperVia, que administra os trens
urbanos do Rio, investem em campanhas de conscientização.
Os esforços, contudo, não impedem que homens descumpram a
medida. De acordo com relatório da Agetransp, a agência reguladora dos
transportes do Estado, em cerca de 200 vistorias feitas em janeiro nos vagões
femininos no metrô, foi registrada a presença masculina em 3,05% das vezes.
Já nos trens da SuperVia, a situação é pior. Dos 1.612
vagões inspecionados em janeiro, havia homens em pelo menos 50% dos casos. O
ramal de Japeri, cidade da Baixada Fluminense, registrou o maior percentual: em
quase 80% das inspeções havia homens nos vagões exclusivos.
Dúvidas sobre o
“vagão rosa”
Entenda o projeto de lei aprovado na semana passada.
O que é?
A proposta prevê a criação de um vagão só para mulheres em
cada trem do Metrô e da CPTM, com o objetivo de evitar casos de abuso sexual.
Quem é a favor?
Grupos como o Movimento Mulheres em Luta (ligado à
CSP-Conlutas) e o Juntas (ligado ao PSOL) defendem que o vagão diminui assédios
e agressões.
Quem é contra?
Grupos autônomos como a Marcha Mundial das Mulheres e o
Tática Feminista defendem que o vagão aumenta a segregação e culpabiliza as
mulheres pelos ataques.
Fonte: Folha de S.Paulo
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