Um pequeno vilarejo onde são as mulheres que estão no
comando. Parece ficção, mas não é. No nordeste da Índia, país onde um novo caso
de estupro é registrado a cada 22 minutos, segundo dados do National Crime
Records Bureau, há um lugar em que é a lei das mulheres que impera.
No estado indiano de Meghalaya, mais precisamente numa
pequena comunidade chamada Mawlynnong, a estrutura familiar é até hoje
matriarcal – e as regras por lá são ditadas por elas.
Difícil acreditar que a tradição persista em uma Índia em
que o estupro é o crime mais comum contra a mulher. Só para se ter uma ideia, o
estupro no casamento, quando há relação sem o consentimento da mulher, não é
penalizado.
Foi em busca de estudar uma estrutura matriarcal em um país
de cultura tão fortemente machista que a fotógrafa alemã Karolin Klüppel, 29,
se mudou para o vilarejo. “Eu fui para Mawlynnong porque queria explorar as
tradições da tribo Khasi e fazer um projeto de fotografia”, conta ela.
Karolin passou seis meses na comunidade com cerca de 500
habitantes. O resultado dessa imersão pode ser visto na série Mädchenland
composta por 18 fotos. “Estou muito interessada nas sociedades que revelam outra
relação de gênero ou que possuam uma compreensão do amor diferente da que eu
conheço”, explica.
“As meninas de Mawlynnong me parecem muito independentes e
poderosas. Eu acredito que isso acontece porque os pais delegam muitas
responsabilidades às filhas e filhos, que desempenham um papel importante na
vida familiar desde jovens”, explica a fotógrafa.
DESDE JOVENS AS MENINAS DESEMPENHAM PAPEIS IMPORTANTES NA
COMUNIDADE
EXCEÇÃO À REGRA
A disparidade entre o mundo feminino e masculino na índia é
tamanho. Em pesquisa realizada pelo instituto americano Centre of Research on
Women constatou-se que 20% dos homens indianos admitiram terem forçado suas
esposas a ter relações sexuais.
“Eu apreciaria bastante se mais indianos conhecessem a
tradição da tribo Khasi”, diz Karolin quando questionada sobre os direitos das
mulheres na Índia. “Tenho a impressão que o resto do mundo não leva em conta a
riqueza cultural das minorias indianas”, alerta.
Restrita, a realidade da tribo Khasi fica à margem de uma
Índia onde os casos de estupro povoam os noticiários. Na última semana, por
exemplo, duas garotas, uma de 14 e outra de 16 anos, foram estupradas e mortas
na cidade de Lucknow.
O ataque contra a estudante de medicina de 23 anos, em
dezembro de 2013, fez a população de Nova Deli ir às ruas. Violentada por seis
homens, por quase uma hora, a garota foi espancada com uma barra de ferro e
jogada de um ônibus em movimento. Uma semana após ficar internada, ela não
resistiu.
“Eu não posso vestir o que eu quero, eu não posso ir aos
lugares sem que os homens me olhem… Onde está minha liberdade?”, se perguntava
uma garota indiana durante as manifestações organizadas depois da morte da
jovem de 23 anos.
A FOTÓGRAFA DEFENDE A IGUALDADE DE GÊNERO
Foi assim que a discussão sobre os direitos das mulheres na
Índia ganhou força. E a pressão da opinião pública foi tamanha que o caso
rapidamente foi apurado pela polícia local – quatro dos seis acusados foram
condenados à morte.
Enquanto o cenário na Índia continua longe do ideal, Karolin
lembra que “a melhor maneira de vivermos juntos seria em uma sociedade com
total igualdade de gênero”.
Fonte: Marie Claire
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