Estudo encomendado pelo Conselho Nacional do SESI, com base
em dados oficiais de fluxo turístico em Salvador (BA) e São Paulo (SP), revelou
que há uma relação entre o desembarque de turistas estrangeiros que vêm ao
Brasil a passeio e o aumento das denúncias de exploração sexual feitas ao
Disque 100, serviço de denúncias do Governo Federal.
De acordo com o levantamento produzido pela John Snow Brasil
Consultoria, entre os anos de 2008 e 2010, a cada 370 turistas estrangeiros que
chegaram a Salvador, uma denúncia foi feita ao Disque 100. Já em São Paulo, era
preciso a entrada de 2.567 turistas para que houvesse o aumento de uma denúncia
ao serviço, quase dez vezes mais que na Bahia.
Segundo o consultor Miguel Fontes, coordenador da pesquisa,
esse resultado mostra que o país deve se preparar para prevenir a exploração
sexual de menores em grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014, quando as
cidades-sede dos jogos receberão milhares de turistas.
O Nordeste é a região do país com maior vulnerabilidade à
exploração sexual, conforme apontou o estudo, que também levou em consideração
a relação entre a renda per capita e o número de denúncias de exploração por
grupo de 100 mil habitantes. Os principais fatores estão ligados à renda
familiar e aos índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Os números de
exploração sexual confirmam essa realidade, já que o Nordeste é a região com
maior número de casos, com mais de 37% do total, de acordo com dados da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH).
De acordo com o pesquisador, foram utilizados dados do
Ministério do Turismo sobre o fluxo de turistas estrangeiros mês a mês, de janeiro de 2008 a dezembro de
2010, na Bahia, onde a característica é o Turismo de Lazer, e em São Paulo,
onde predomina o Turismo de Negócios. Ao mesmo tempo, foram colhidas
informações da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (SDH) de denúncias
formalizadas de exploração sexual. "A pergunta foi: quando aumenta o fluxo
de turistas aumentam também as queixas de exploração? Será que haveria uma
correlação entre esses dois fatos? O resultado mostrou que na Bahia e em São
Paulo existe essa associação, só que de uma maneira muito mais significativa na
Bahia do que em São Paulo", diz Fontes.
O documento intitulado "Turismo e Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes: um Estudo dos seus Fatores Determinantes" foi
apresentado no último dia 23, durante o seminário "A Exploração Sexual e
os Grandes Eventos Esportivos" que reuniu, em Paris, na França,
representantes do Conselho Nacional do SESI e de organizações europeias de
enfrentamento à exploração sexual. Na ocasião, foi feito um alerta para o risco
do aumento no número de casos no Brasil nos próximos anos, caso nenhuma medida
de prevenção seja adotada.
A partir desse levantamento, o SESI articula com seus
parceiros na Europa uma campanha de conscientização tanto nos países que
despacham turistas quanto em países como o Brasil, que receberão milhares deles
já a partir de 2013, com a ocorrência da Copa das Confederações.
Segundo Miguel Fontes, ações no sentido de orientar os
turistas serão importantes para atenuar o que o estudo projeta para os próximos
anos. A campanha "Não desvie o olhar" será divulgada em cerca de 20
países na Europa, África e América do Sul. Estão previstos eventos de
mobilização, ações em redes sociais, vídeos e pôsteres que serão exibidos em
aeroportos, aviões, agências de viagens, bares, restaurantes e outros espaços
públicos, além da sensibilização de profissionais do setor turístico para que
não aceitem a prática do crime e denunciem. A campanha também prevê a criação de
um site europeu para denúncias. Para Fontes, é possível que o cenário exposto
pelo estudo não se confirme no futuro por conta de medidas como essa.
ViraVida
No Brasil, como na grande maioria dos países, a exploração
sexual é considerada crime e violação dos direitos universais de crianças e
adolescentes. Mesmo assim, são comuns o desembarque de turistas europeus que
chegam com o propósito de explorar sexualmente meninos e meninas agenciados à
beira-mar em cidades da costa nordestina ou em cidades como o Rio de Janeiro.
Para enfrentar o problema, o SESI criou em 2008 o projeto ViraVida, que busca
remover jovens de 16 a 21 anos da exploração, capacitando-os profissionalmente
e recompondo seus vínculos com a família.
O projeto surgiu de uma iniciativa pessoal do presidente do
Conselho Nacional do SESI, Jair Meneguelli, e hoje está presente em 19 cidades
de 16 estados do país. Atualmente, mais de 70% dos alunos formados já estão
trabalhando.
Fonte: www.conselhonacionaldosesi.org.br
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