Um crime de homicídio sem corpo. Essa é uma das principais
polêmicas do julgamento do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes que começou ontem, em Contagem (MG). Mas não a única.
Embora todas as
evidências apontem para o assassinato de Eliza Samudio, como chegou a admitir a
defesa do goleiro, a polícia de Minas Gerais não conseguiu localizar vestígios
do cadáver, mesmo passados mais de dois anos de seu desaparecimento.
Além dessa certeza
cabal, a investigação da polícia e da Promotoria deixou buracos que podem ser
explorados pela defesa e influenciar o júri.
São ao menos dez
buracos que vão da falta da quebra do sigilo bancário para saber se houve o
pagamento de R$ 30 mil na morte de Eliza, como se sustenta, ao uso do
depoimento do adolescente tomado sem a presença de advogado, o que é proibido.
Uma das brechas da
investigação é a participação do policial civil José Lauriano de Assis Filho,
47, o Zezé.
A investigação
desprezou 37 ligações trocadas por Zezé com os principais envolvidos no caso
Eliza realizadas nos dias cruciais da trama.
Em 10 de junho de 2010, por exemplo, ele recebeu três
ligações do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, entre 22h e 23h,
horário em que a Promotoria disse que Eliza foi morta.
Assis Filho chegou a
se encontrar pessoalmente com Bola naquela noite do dia 10, como admite, mas
não foi arrolado ao menos como testemunha no julgamento.
Nem a polícia nem a Promotoria quiseram dizer por que todas
essas ligações foram desprezadas.
Outro buraco são os depoimentos de Sérgio Rosa Sales, o
Camelo, usados contra o goleiro. Há uma contradição que compromete a versão.
Sales disse que o desaparecimento de Eliza se deu na véspera da viagem de Bruno
ao Rio.
Bruno depõe na
Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas sobre suposta
negociação com juíza para a concessão de um habeas corpus
Assim, a morte teria
sido no 9 de junho, mas as provas apontam para o dia 10.
Além de Bruno, outros
quatro réus serão julgados (e mais dois em data a ser definida). O goleiro,
Bola e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, respondem por crimes como homicídio e
ocultação de cadáver. Dayanne Souza (ex-mulher de Bruno) e Fernanda Castro
(ex-namorada) foram denunciadas por sequestro e cárcere privado de Eliza.
Fonte: Folha de Sâo Paulo
Promotor descarta que
Eliza Samúdio esteja viva usando nome falso
O promotor de Justiça do Tribunal do Júri do Fórum de
Contagem (MG), Henry Wagner Vasconcelos Castro, classificou como mais uma
invenção dos advogados de defesa do goleiro Bruno a informação de que Eliza
Samudio, ex-amante do atleta desaparecida há mais de dois anos, estaria viva e
morando na Europa após deixar o Brasil pela fronteira da Bolívia, a pé.
Na sexta-feira, os advogados Rui Caldas Pimenta e Francisco
Simim disseram que um preso de Governador Valadares (MG) foi procurado pela
ex-amante do atleta em julho de 2010, e que ele a ajudou a sair do País. O
homem afirmou que ainda na cidade mineira teria indicado uma pessoa que vendeu
a Eliza um passaporte falso por R$ 4 mil em nome de Olívia Guimarães Lima.
Segundo os advogados, o detento se chama Luiz Henrique
Franco Timóteo, companheiro da mãe biológica de Bruno, que mora no sul da
Bahia, com quem tem dois filhos. Timóteo havia enviado uma carta aos dois
advogados de Bruno, Simim e Rui Pimenta, dizendo que entre os dias 18 e 20 de
julho de 2010 foi procurado por Eliza.
"Esse padrasto
do goleiro Bruno trata-se de um traficante que se encontra preso na cidade de
Governador Valadares pela Polícia Federal. Um sujeito sem nenhuma credibilidade
para prestar qualquer informação do que diz respeito ao paradeiro de quem quer
que seja", disse.
Castro disse ainda
que a suposta informação contradiz o próprio defensor de Bruno: "Nós temos
que observar que o doutor Rui Caldas Pimenta me parece muito perdido porque, há
poucos meses, ele afirmava de maneira retumbante e categórica que Eliza estava
morta e não havia como se negar isso. Como poderia ele afirmar que Eliza não
somente estaria viva como ainda sustentar o nome de Olívia Guimarães
Lima?" questionou.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria
saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior,
a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava
grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos.
Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o
reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de
que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no
sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo
Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a
informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses,
estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a
presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos
amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente
no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo
denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista
de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como
Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de
Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu
participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a
ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e
executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como
Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o
relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem
considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão,
acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio
Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da
Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por
envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar
depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos
pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e
executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação
apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que
também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório
policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os
envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores
ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação
no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados
pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O
goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão
corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por
cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno,
Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio
triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de
cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular,
mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação
da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser
excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além
disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
Fonte: Terra
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