terça-feira, 20 de novembro de 2012

Caso Eliza Samudio: Entenda as questões em debate


Um crime de homicídio sem corpo. Essa é uma das principais polêmicas do julgamento do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes que começou ontem, em Contagem (MG). Mas não a única.

 Embora todas as evidências apontem para o assassinato de Eliza Samudio, como chegou a admitir a defesa do goleiro, a polícia de Minas Gerais não conseguiu localizar vestígios do cadáver, mesmo passados mais de dois anos de seu desaparecimento.
 Além dessa certeza cabal, a investigação da polícia e da Promotoria deixou buracos que podem ser explorados pela defesa e influenciar o júri.
 São ao menos dez buracos que vão da falta da quebra do sigilo bancário para saber se houve o pagamento de R$ 30 mil na morte de Eliza, como se sustenta, ao uso do depoimento do adolescente tomado sem a presença de advogado, o que é proibido.
Uma das brechas da investigação é a participação do policial civil José Lauriano de Assis Filho, 47, o Zezé.
A investigação desprezou 37 ligações trocadas por Zezé com os principais envolvidos no caso Eliza realizadas nos dias cruciais da trama.
Em 10 de junho de 2010, por exemplo, ele recebeu três ligações do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, entre 22h e 23h, horário em que a Promotoria disse que Eliza foi morta.
 Assis Filho chegou a se encontrar pessoalmente com Bola naquela noite do dia 10, como admite, mas não foi arrolado ao menos como testemunha no julgamento.
 
Nem a polícia nem a Promotoria quiseram dizer por que todas essas ligações foram desprezadas.
Outro buraco são os depoimentos de Sérgio Rosa Sales, o Camelo, usados contra o goleiro. Há uma contradição que compromete a versão. Sales disse que o desaparecimento de Eliza se deu na véspera da viagem de Bruno ao Rio.
 Bruno depõe na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas sobre suposta negociação com juíza para a concessão de um habeas corpus
 Assim, a morte teria sido no 9 de junho, mas as provas apontam para o dia 10.
 Além de Bruno, outros quatro réus serão julgados (e mais dois em data a ser definida). O goleiro, Bola e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, respondem por crimes como homicídio e ocultação de cadáver. Dayanne Souza (ex-mulher de Bruno) e Fernanda Castro (ex-namorada) foram denunciadas por sequestro e cárcere privado de Eliza.
Fonte: Folha de Sâo Paulo
 
Promotor descarta que Eliza Samúdio esteja viva usando nome falso
O promotor de Justiça do Tribunal do Júri do Fórum de Contagem (MG), Henry Wagner Vasconcelos Castro, classificou como mais uma invenção dos advogados de defesa do goleiro Bruno a informação de que Eliza Samudio, ex-amante do atleta desaparecida há mais de dois anos, estaria viva e morando na Europa após deixar o Brasil pela fronteira da Bolívia, a pé.
 
Na sexta-feira, os advogados Rui Caldas Pimenta e Francisco Simim disseram que um preso de Governador Valadares (MG) foi procurado pela ex-amante do atleta em julho de 2010, e que ele a ajudou a sair do País. O homem afirmou que ainda na cidade mineira teria indicado uma pessoa que vendeu a Eliza um passaporte falso por R$ 4 mil em nome de Olívia Guimarães Lima.
 
Segundo os advogados, o detento se chama Luiz Henrique Franco Timóteo, companheiro da mãe biológica de Bruno, que mora no sul da Bahia, com quem tem dois filhos. Timóteo havia enviado uma carta aos dois advogados de Bruno, Simim e Rui Pimenta, dizendo que entre os dias 18 e 20 de julho de 2010 foi procurado por Eliza.
 "Esse padrasto do goleiro Bruno trata-se de um traficante que se encontra preso na cidade de Governador Valadares pela Polícia Federal. Um sujeito sem nenhuma credibilidade para prestar qualquer informação do que diz respeito ao paradeiro de quem quer que seja", disse.
 Castro disse ainda que a suposta informação contradiz o próprio defensor de Bruno: "Nós temos que observar que o doutor Rui Caldas Pimenta me parece muito perdido porque, há poucos meses, ele afirmava de maneira retumbante e categórica que Eliza estava morta e não havia como se negar isso. Como poderia ele afirmar que Eliza não somente estaria viva como ainda sustentar o nome de Olívia Guimarães Lima?" questionou.
 
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
 
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
 
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.

Fonte: Terra

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