A dificuldade em remover a carga de preconceitos que pesam sobre a população negra do Brasil, que ainda carrega as consequências do regime de escravidão, justifica as políticas públicas, que visam acelerar o processo de equiparação completa entre todos os cidadãos brasileiros, independente de raça ou de outros critérios.
O dia 20 de novembro é dedicado à "consciência negra”,
iniciativa que visa estimular e fortalecer a consciência da identidade própria
racial e cultural dos negros no Brasil.
A iniciativa já seria válida pelo número de pessoas que se
sentem envolvidas nesta questão. Não é fácil ter estatísticas precisas,
justamente numa realidade que está em plena mutação, em boa parte, exatamente,
pelo processo em andamento, de identificação racial e cultural.
Mas dá para afirmar que, aproximadamente a metade da
população brasileira se assume como possuindo componentes importantes ligados à
negritude.
Comparando com dados recolhidos nos sensos anteriores,
percebe-se claramente que aumentou muito o contingente de brasileiros que se
assumem como negros.
Isto demonstra que a iniciativa de promover a
"consciência negra” vem dando bons resultados, sobretudo em termos de
superação de preconceitos que a população ainda carrega, seja em referência aos
negros, seja também de negros que acabam, de alguma maneira, introjetando o
preconceito dentro de si próprios.
Entre estas políticas, está o "sistema de quotas”, que
visa garantir uma crescente participação de negros nos cursos universitários.
Este sistema encontra uma primeira justificativa diante da grande disparidade
existente nas universidades, onde a participação de negros é flagrantemente
desproporcional.
Alguns ponderam que este sistema, que pretende superar a
discriminação, traz em sim mesmo um viés discriminatório, na medida em que
reforçaria o que se quer superar, isto é, ter a raça como referência para
políticas públicas.
Acontece que a conveniência destas iniciativas tem presente
a realidade concreta, constatada pelas estatísticas, de uma disparidade que, se
continuada, perenizaria a desigualdade ora existente.
Mas também é verdade, que se pretendemos que estas políticas
sejam eficazes, precisamos admitir que devem ser provisórias. Pois em
perspectiva, se elas conseguem o efeito pretendido, levarão a uma situação em
que o ideal será a perfeita igualdade de oportunidades, que todos poderiam ter,
sem a ajuda de quotas ou de outras medidas que podem valer agora, mas carregam
consigo a marca da caducidade.
Bom seria se o Brasil pudesse, de fato, dar ao mundo o
precioso testemunho de uma sociedade igualitária, em perfeita convivência de
raças diferentes, que prescindirão sempre mais de regulamentação legal para se
relacionarem no respeito mútuo e no diálogo fraterno.
Dom Demétrio Valentini ( Bispo de Jales (SP) e Presidente da
Cáritas Brasileira até novembro de 2011)
Fonte: Adital
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