Por J. A. Pagola
A cura do cego Bartimeu é narrada por Marcos para urgir as
comunidades cristãs a sair da sua cegueira e mediocridade. Só assim seguirão
Jesus pelo caminho do Evangelho. O relato é de uma surpreendente atualidade
para a Igreja dos nossos dias.
Bartimeu é "um mendigo cego sentado à beira do
caminho". Na sua vida sempre é de noite. Ouviu falar de Jesus, mas não
conhece o Seu rosto. Não pode segui-lo. Está junto ao caminho por onde Ele
passa, mas está fora. Não é esta a nossa situação? Cristãos cegos, sentados
junto ao caminho, incapazes de seguir Jesus?
Entre nós é de noite. Desconhecemos Jesus. Falta-nos luz
para seguir o Seu caminho. Ignoramos para onde se encaminha a Igreja. Não
sabemos sequer que futuro queremos para ela. Instalados numa religião que não
consegue converter-nos em seguidores de Jesus, vivemos junto ao Evangelho, mas
fora. Que podemos fazer?
Apesar da sua cegueira, Bartimeu capta que Jesus está a
passar próximo dele. Não hesita um instante. Algo lhe diz que em Jesus está a
sua salvação:"Jesus, Filho de David, tem compaixão de mim". Este
grito repetido com fé vai desencadear a sua cura.
Hoje ouve-se na Igreja queixas e lamentos, críticas,
protestos e mutuas desqualificações. Não se escuta a oração humilde e confiada
do cego. Esquecemo-nos que só Jesus pode salvar esta Igreja. Não nos
apercebemos da Sua presença próxima. Só acreditamos em nós.
O cego não vê, mas sabe escutar a voz de Jesus que lhe chega
através dos Seus enviados: "Animo, levanta-te, que te chama". Este é
o clima que necessitamos criar na Igreja. Animar-nos mutuamente a reagir. Não
continuar numa religião convencional. Voltar a Jesus que nos está a chamar.
Este é o primeiro objetivo pastoral.
O cego reage de forma admirável: solta o manto que lhe
impede levantar-se, dá um salto no meio da sua escuridão e aproxima-se de
Jesus. Do seu coração só brota uma petição: "Mestre, que possa ver".
Se os seus olhos se abrem, tudo mudará. O relato conclui dizendo que o cego
recobrou a vista e "o seguia pelo caminho".
Esta é a cura que necessitamos hoje, os cristãos. O salto
qualitativo que pode mudar a Igreja. Se muda o nosso modo de ver Jesus, se
lemos o Seu Evangelho com olhos novos, se captamos a originalidade da sua
mensagem e nos apaixonamos com o Seu projeto de um mundo mais humano, a força
de Jesus irá arrastar-nos. As nossas comunidades conhecerão a alegria de viver
seguindo-o de perto.
Fonte: Adital
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