segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Europa se une contra turismo sexual

Países europeus farão campanha para combater exploração sexual durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas .
Segundo o Sesi, a relação entre a intensidade do turismo e o aumento das denúncias de prostituição são alarmantes em São Paulo e na Bahia.

Organizações não-governamentais da Europa anunciaram ontem, em Paris, que vão fazer uma campanha internacional contra o turismo sexual e a exploração de menores no Brasil a partir de 2013. O objetivo da iniciativa, bancada com recursos da União Europeia, é minimizar os efeitos negativos da invasão estrangeira ao País nos três eventos: a Copa das Confederações, no próximo ano, a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016.
A campanha terá ênfase em Estados menos desenvolvidos, e por isso mais suscetíveis à exploração sexual, em especial de crianças e adolescentes. O tema preocupa as ONGs, a União Europeia e também o governo brasileiro. Reunidos em uma conferência intitulada Turismo sexual implicando crianças e grandes eventos esportivos, as organizações da França e do Brasil advertiram para o risco de "estouro" nos casos de exploração, caso nada seja feito para preveni-los.
As ONGs End Child Prostitution, Child Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purposes (Ecpat France) e Fondation Selles lançarão no próximo ano a campanha "Não desvie o olhar", que será divulgada em 10 países da Europa e em quatro da África. Feita em parceria com redes hoteleiras e companhias aéreas, a iniciativa não terá apenas foco na conscientização, mas também no combate ao crime.
"O aspecto da repressão e da denúncia é novo para nós, mas é muito importante", reconheceu Philippe Galland, coordenador de programas da Ecpat France.
Os organizadores da campanha ponderam que não há elementos científicos suficientes para estabelecer o vínculo entre grandes eventos esportivos e o aumento da prostituição infantil e do turismo sexual. Mas investigações realizadas policiais durante a Eurocopa 2012, sediada por Polônia e Ucrânia, identificaram o aumento da atividade de redes criminosas que exploram a prática sexual.
Com base nessa constatação, as ONGs vão advertir os turistas sobre o fato de que podem ser julgados em seus países de origem, já que os crimes sexuais se enquadram em acordos internacionais. "Um turista francês flagrado poderá ser julgado na França por um crime cometido no Brasil", ressaltou o jurista Yves Charpenel.
 Ação no País
A campanha, financiada com dois milhões de euros por Bruxelas, vai ser replicada no Brasil pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). "Há muito pouco tempo este era um tema invisível no País", lembrou Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi, que pediu ajuda aos europeus. "É muito difícil lutar contra esses crimes".
O Sesi promove no Brasil um projeto de reinserção social de vítimas de exploração sexual infantil, o Projeto Vira Vida, que dá bolsas de formação profissional, ajuda psicológica à vítima e à sua família e auxilia na busca de emprego. Para o projeto, o serviço social pesquisou as relações entre a intensidade do turismo e o aumento das denúncias de prostituição infantil em dois Estados, São Paulo e Bahia. As conclusões são alarmantes.
"Não estamos dizendo que existe uma correlação com os eventos esportivos, mas os casos vão aumentar com o maior fluxo de turistas", prevê Miguel Fontes, consultor do Sesi e responsável pela pesquisa.
Perfil das vítimas
Segundo Fontes, as crianças exploradas sexualmente no Brasil têm por volta de 11 anos em média. As meninas representam quatro de cada cinco casos de denúncias. E a região Nordeste concentra 37% dos casos.
O ministério brasileiro do Turismo prevê 600 mil turistas estrangeiros e 5 milhões de visitantes brasileiros só durante a Copa do Mundo, em 2014.

Fonte: Diário do Nordeste

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