Países europeus farão campanha para combater exploração
sexual durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas .
Segundo o Sesi, a relação entre a intensidade do turismo e o
aumento das denúncias de prostituição são alarmantes em São Paulo e na Bahia.
Organizações não-governamentais da Europa anunciaram
ontem, em Paris, que vão fazer uma campanha internacional contra o turismo
sexual e a exploração de menores no Brasil a partir de 2013. O objetivo da
iniciativa, bancada com recursos da União Europeia, é minimizar os efeitos
negativos da invasão estrangeira ao País nos três eventos: a Copa das
Confederações, no próximo ano, a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos,
em 2016.
A campanha terá ênfase em Estados menos desenvolvidos, e por
isso mais suscetíveis à exploração sexual, em especial de crianças e
adolescentes. O tema preocupa as ONGs, a União Europeia e também o governo
brasileiro. Reunidos em uma conferência intitulada Turismo sexual implicando
crianças e grandes eventos esportivos, as organizações da França e do Brasil
advertiram para o risco de "estouro" nos casos de exploração, caso
nada seja feito para preveni-los.
As ONGs End Child Prostitution, Child Pornography
and Trafficking of Children for Sexual Purposes (Ecpat France) e Fondation
Selles lançarão no próximo ano a campanha "Não desvie o olhar", que
será divulgada em 10 países da Europa e em quatro da África. Feita em parceria
com redes hoteleiras e companhias aéreas, a iniciativa não terá apenas foco na
conscientização, mas também no combate ao crime.
"O aspecto da repressão e da denúncia é novo para nós,
mas é muito importante", reconheceu Philippe Galland, coordenador de
programas da Ecpat France.
Os organizadores da campanha ponderam que não há elementos
científicos suficientes para estabelecer o vínculo entre grandes eventos
esportivos e o aumento da prostituição infantil e do turismo sexual. Mas
investigações realizadas policiais durante a Eurocopa 2012, sediada por Polônia
e Ucrânia, identificaram o aumento da atividade de redes criminosas que
exploram a prática sexual.
Com base nessa constatação, as ONGs vão advertir os turistas
sobre o fato de que podem ser julgados em seus países de origem, já que os
crimes sexuais se enquadram em acordos internacionais. "Um turista francês
flagrado poderá ser julgado na França por um crime cometido no Brasil",
ressaltou o jurista Yves Charpenel.
A campanha, financiada com dois milhões de euros por
Bruxelas, vai ser replicada no Brasil pelo Serviço Social da Indústria (Sesi).
"Há muito pouco tempo este era um tema invisível no País", lembrou
Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi, que pediu ajuda aos
europeus. "É muito difícil lutar contra esses crimes".
O Sesi promove no Brasil um projeto de reinserção social de
vítimas de exploração sexual infantil, o Projeto Vira Vida, que dá bolsas de
formação profissional, ajuda psicológica à vítima e à sua família e auxilia na
busca de emprego. Para o projeto, o serviço social pesquisou as relações entre
a intensidade do turismo e o aumento das denúncias de prostituição infantil em
dois Estados, São Paulo e Bahia. As conclusões são alarmantes.
"Não estamos dizendo que existe uma correlação com os
eventos esportivos, mas os casos vão aumentar com o maior fluxo de
turistas", prevê Miguel Fontes, consultor do Sesi e responsável pela
pesquisa.
Perfil das vítimas
Segundo Fontes, as crianças exploradas sexualmente no Brasil
têm por volta de 11 anos em média. As meninas representam quatro de cada cinco
casos de denúncias. E a região Nordeste concentra 37% dos casos.
O ministério brasileiro do Turismo prevê 600 mil turistas
estrangeiros e 5 milhões de visitantes brasileiros só durante a Copa do Mundo,
em 2014.
Fonte: Diário do Nordeste
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