Cada vez mais profissionais do
sexo se organizam pra construir uma luta que respeite nossas pautas.
publicado por AMARA MOIRA
Amanhã tem debate quente no Rio
de Janeiro, debate que me custou a perda do meu perfil no Facebook. No meio
duma série de posts acalorados em que disputavam a opinião pública, feministas
contrárias à prostituição (aquelas ditas radicais ou materialistas) e
feministas que respeitam as pautas do movimento de prostitutas (as
putafeministas, nós), acabou que tive meu perfil denunciado por eu não usar meu
nome “verdadeiro” e o Facebook acatou, impedindo acesso ao perfil que eu
construía há dois anos, com todos os textos e contatos que havia lá.
Vejam que muitas vezes, pra fazer
imperar seu ponto de vista, algumas pessoas acham que não importa o quão baixos
são os meios usados: basta conseguir calar a outra parte e poder continuar seu
monólogo em paz. Bem o que houve. Não à toa transfobia (preconceito contra
trans) e putafobia (preconceitos contra putas) costumam andar sempre de mãos
dadas, inclusive dentro do feminismo.
Prostituição é um assunto muito
delicado pras travestis. Ela é o ofício que nos permite existir quando a
sociedade fecha suas outras tantas portas e, ao mesmo tempo, aquele onde mais
nos matam, violentam… Percebem que não é coisa fácil discutir a questão?
Mas certo feminismo, cegado pelos
seus dogmas, não consegue sequer permitir que o debate ocorra, lançando mão de
linguagem sensacionalista que só serve pra estimular pânico, “querem legalizar
a cafetinagem”, “prostituição é estupro pago”, “feminismo a serviço da
objetificação da mulher”, “vender o corpo”, “tráfico de pessoas”, “prostituição
infantil”, “prostitutas se drogam pra conseguir trabalhar”, “pegam AIDS”. Nunca
param pra discutir a natureza exata dessa suposta cafetinagem que o PL Gabriela
Leite quer regulamentar, nem os discursos racistas e xenófobos que orientam o
debate sobre tráfico de pessoas, nem a noção exata de estupro que estão
mobilizando pra afirmar que nosso trabalho não envolve sexo mas violência
sexual.
E se houver quem viva a prostituição
em termos que fujam a esse vitimismo todo, a pessoa é prontamente catalogada
como “fetichista a serviço da supremacia masculinista” e já não é necessário
mais considerar nada do que ela diga.
Percebam que essa argumentação
cega não vai impedir que continuemos dando a cara a tapa e forçando a sociedade
a encarar o debate que querem jogar pra debaixo do tapete. Prostitutas estão se
organizando politicamente desde o boom da AIDS, desde o fim da ditadura,
conseguindo conquistas notáveis como, por exemplo, o reconhecimento oficial da
prostituição na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2002), do
Ministério do Trabalho.
Agora vai surgindo o tempo de um
novo desafio, disputar o feminismo, desafiá-lo, para que ele aprenda a
respeitar nossa autonomia e nossa luta por melhores condições de trabalho,
melhor remuneração e fim do estigma.
As portas estão abertas para
todas as feministas que quiserem, de fato, ouvir o que as prostitutas têm a
dizer sobre seu trabalho.
Fonte: Revista Az Minas
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