domingo, 10 de julho de 2016

Faça o mesmo

Quando a religião não está centrada num Deus, Amigo da vida, e Pai dos que sofrem, o culto sagrado pode converter-se numa experiência que distancia da vida profana, preserva do contato direto com o sofrimento das pessoas e nos faz caminhar sem reagir ante os feridos que vemos nas valas. Segundo Jesus, não são os homens do culto os que melhor nos podem indicar como temos de tratar aos que sofrem, mas as pessoas que têm coração.

 A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 10,25-37 que corresponde ào 15° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto


Para não sair mal de uma conversa com Jesus, um mestre da lei lhe perguntou: «E quem é o meu próximo?». É a pergunta de quem só se preocupa em cumprir a lei. Interessa-lhe saber a quem deve amar e a quem pode excluir do seu amor. Não pensa nos sofrimentos das pessoas.

Jesus, que vive aliviando o sofrimento de quem encontra no seu caminho, quebrando se faz falta a lei do sábado ou as normas de pureza, responde-lhe com um relato que denuncia de forma provocadora todo o legalismo religioso que ignore o amor ao necessitado.

No caminho que baixa de Jerusalém a Jericó, um homem foi assaltado por bandidos. Agredido e despojado de tudo, fica na valeta meio morto, abandonado à sua sorte. Não sabemos quem é, apenas que é um «homem». Poderia ser qualquer um de nós. Qualquer ser humano abatido pela violência, a doença, a desgraça ou o desespero.

«Por casualidade» aparece pelo caminho um sacerdote. O texto indica que é por acaso, como se nada tivesse que ver estar ali um homem dedicado ao culto. O seu não é baixar até os feridos que estão nas valas. O seu lugar é no templo. A sua ocupação, as celebrações sagradas. Quando chega ao local do ferido, «vê-o, dá uma volta e passa ao lado».

A sua falta de compaixão não é só uma reação pessoal, pois também um levita do templo que passa junto ao ferido «faz o mesmo». É mais uma atitude e um perigo que espreita a quem se dedica ao mundo do sagrado: viver longe do mundo real onde as pessoas lutam, trabalham e sofrem.

Quando a religião não está centrada num Deus, Amigo da vida, e Pai dos que sofrem, o culto sagrado pode converter-se numa experiência que distancia da vida profana, preserva do contato direto com o sofrimento das pessoas e nos faz caminhar sem reagir ante os feridos que vemos nas valas. Segundo Jesus, não são os homens do culto os que melhor nos podem indicar como temos de tratar aos que sofrem, mas as pessoas que têm coração.

Pelo caminho chega um samaritano. Não vem do templo. Não pertence sequer ao povo eleito de Israel. Vive dedicado a algo tão pouco sagrado como o seu pequeno negócio de comerciante. Mas, quando vê o ferido, não se pergunta se é próximo ou não. Comove-se e faz por ele tudo o que pode. É a este que temos de imitar. Assim diz Jesus ao legalista: «Vai e faz tu o mesmo». A quem imitaremos ao encontrarmos no nosso caminho com as vítimas mais golpeadas pela crise econômica dos nossos dias?

Fonte: Ihu

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