Agir contra a violência às
mulheres, partindo não das vítimas, mas dos responsáveis. Chegar à raiz,
colocando o homem que a pratica diante de si mesmo e ajudando-o a enfrentar – e
a desmontar – os mecanismos que o levam a ser agressivo.
A reportagem é de Federica Tourn,
publicada na revista Riforma, publicação semanal das Igrejas evangélica,
batista, metodista e valdense italianas, 03-06-2016. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
É a ideia simples, mas nada banal
de implementar, que está na base do projeto "Opportunity", realizado
pelo Grupo Abele com o apoio do "oito por mil" [parcela do imposto de
renda italiano que pode ser repassado às confissões religiosas] da Igreja
Valdense e que, no dia 26 de maio, foi apresentado na "Fabbrica delle
E", em Turim, em um congresso de aprofundamento intitulado "Evitar a
violência e proteger as vítimas através do engajamento, do encontro e da
acolhida do autor de maus-tratos".
Há um ano, o
"Opportunity" disponibilizou, para cinco homens agressores que
aceitaram pôr-se em discussão e segui-lo, um percurso de tratamento e de
acompanhamento. Não é uma comunidade, mas uma oferta de residência compartilhada,
em que os homens, por seis meses, se relacionam entre si na cotidianidade,
seguidos por psicólogos e psicoterapeutas que tentam trazer à tona os nós que
os levaram a exercer a violência contra as suas companheiras.
Os dados confirmam que a maioria
dos feminicídios ocorreu pelas mãos de um familiar (114 de 127 casos de
mulheres mortas em um ano), e, infelizmente, emergem apenas 10% dos casos de
violência doméstica, que obviamente não é apenas física, mas também
psicológica.
"Tudo começa com a desvalorização,
a humilhação verbal, a culpabilização da parceira", explica Leopoldo
Grosso, psicólogo e presidente honorário do Grupo Abele. "Depois,
continua-se com a ameaça, a chantagem explícita, particularmente sobre os
filhos. Muitas vezes, depois que a mulher teve a coragem de romper a relação,
continua a atitude persecutória, o stalking."
As reincidências chegam até 95%,
e a demanda por tratamento por maus tratos é muito fraca e muitas vezes só vem
depois da recuperação da vítima no pronto-socorro, por exemplo, ou depois da
denúncia feita pela parceira, por conselho do advogado.
Quem são os autores de violência?
São pessoas muito diferentes entre si, mas, enfatiza Grosso, "têm em comum
estruturas rígidas e crenças fortes, isto é, esquemas de comportamento pouco
flexíveis e que não aceitam críticas. Nasce daí uma ânsia de controle que tem
como contrapartida uma forte falta de empatia".
"Depois, também devemos ter
em mente os séculos de patriarcado que definiram a relação homem-mulher sobre
estruturas de predomínio masculino, agora internalizadas", acrescenta
Grosso. "Muitas vezes, os agressores são homens que, teoricamente,
aceitaram a emancipação feminina, mas que não sabem mais quem são. Por esse
motivo, o tratamento passa pela mudança das suas culturas de base."
Trata-se de uma questão
importante e ampla, que colocou em ação diversos grupos de reflexão sobre o
masculino – alguns, como a associação "Maschile Plurale" leva
adiante, há anos, momentos de debate entre homens sobre a masculinidade, também
em relação à violência contra as mulheres – e que não deixou os protestantes
indiferentes. As relações afetivas, os novos modelos da família e também uma
primeira e necessária autoanálise estão atravessado também as nossas Igrejas.
Falou-se a respeito disso, mais
de uma vez, durante o Sínodo das Igrejas valdenses e metodistas, e a UCEBI, a
União das Igrejas Evangélicas Batistas Italianas, também começou um caminho de
discussão sobre o tema, solicitado por um ato da Assembleia Geral de 2012, que
pedia explicitamente que os fiéis se deixassem interrogar sobre a sua relação
com a sexualidade e a relação com as mulheres, e que os pastores não
negligenciassem, na catequese assim como na pregação, as questões relativas à
violência doméstica e ao feminicídio.
O "Opportunity" vai
nessa direção, porque considera que punir não adianta, mas, ao contrário, é
muito mais útil ouvir não apenas as vítimas, mas também os agressores. "A
violência doméstica, infelizmente, é fenômeno muito difundido ainda, mesmo
antes de chegar perante um juiz", comenta a pastora Maria Bonafede.
"O tratamento das pessoas que maltratam leva a bons resultados de tomada
de consciência, permitindo valiosas mudanças de mentalidade."
"Mesmo que seja apenas o
começo, um projeto como este leva a uma melhoria da vida de ambos os gêneros,
porque há muito sofrimento em quem sofre, mas também em quem maltrata."
Fonte: Ihu
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