segunda-feira, 13 de junho de 2016

Para combater a violência contra as mulheres, é preciso partir dos agressores


Agir contra a violência às mulheres, partindo não das vítimas, mas dos responsáveis. Chegar à raiz, colocando o homem que a pratica diante de si mesmo e ajudando-o a enfrentar – e a desmontar – os mecanismos que o levam a ser agressivo.


A reportagem é de Federica Tourn, publicada na revista Riforma, publicação semanal das Igrejas evangélica, batista, metodista e valdense italianas, 03-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

É a ideia simples, mas nada banal de implementar, que está na base do projeto "Opportunity", realizado pelo Grupo Abele com o apoio do "oito por mil" [parcela do imposto de renda italiano que pode ser repassado às confissões religiosas] da Igreja Valdense e que, no dia 26 de maio, foi apresentado na "Fabbrica delle E", em Turim, em um congresso de aprofundamento intitulado "Evitar a violência e proteger as vítimas através do engajamento, do encontro e da acolhida do autor de maus-tratos".

Há um ano, o "Opportunity" disponibilizou, para cinco homens agressores que aceitaram pôr-se em discussão e segui-lo, um percurso de tratamento e de acompanhamento. Não é uma comunidade, mas uma oferta de residência compartilhada, em que os homens, por seis meses, se relacionam entre si na cotidianidade, seguidos por psicólogos e psicoterapeutas que tentam trazer à tona os nós que os levaram a exercer a violência contra as suas companheiras.

Os dados confirmam que a maioria dos feminicídios ocorreu pelas mãos de um familiar (114 de 127 casos de mulheres mortas em um ano), e, infelizmente, emergem apenas 10% dos casos de violência doméstica, que obviamente não é apenas física, mas também psicológica.

"Tudo começa com a desvalorização, a humilhação verbal, a culpabilização da parceira", explica Leopoldo Grosso, psicólogo e presidente honorário do Grupo Abele. "Depois, continua-se com a ameaça, a chantagem explícita, particularmente sobre os filhos. Muitas vezes, depois que a mulher teve a coragem de romper a relação, continua a atitude persecutória, o stalking."

As reincidências chegam até 95%, e a demanda por tratamento por maus tratos é muito fraca e muitas vezes só vem depois da recuperação da vítima no pronto-socorro, por exemplo, ou depois da denúncia feita pela parceira, por conselho do advogado.



Quem são os autores de violência? São pessoas muito diferentes entre si, mas, enfatiza Grosso, "têm em comum estruturas rígidas e crenças fortes, isto é, esquemas de comportamento pouco flexíveis e que não aceitam críticas. Nasce daí uma ânsia de controle que tem como contrapartida uma forte falta de empatia".

"Depois, também devemos ter em mente os séculos de patriarcado que definiram a relação homem-mulher sobre estruturas de predomínio masculino, agora internalizadas", acrescenta Grosso. "Muitas vezes, os agressores são homens que, teoricamente, aceitaram a emancipação feminina, mas que não sabem mais quem são. Por esse motivo, o tratamento passa pela mudança das suas culturas de base."

Trata-se de uma questão importante e ampla, que colocou em ação diversos grupos de reflexão sobre o masculino – alguns, como a associação "Maschile Plurale" leva adiante, há anos, momentos de debate entre homens sobre a masculinidade, também em relação à violência contra as mulheres – e que não deixou os protestantes indiferentes. As relações afetivas, os novos modelos da família e também uma primeira e necessária autoanálise estão atravessado também as nossas Igrejas.

Falou-se a respeito disso, mais de uma vez, durante o Sínodo das Igrejas valdenses e metodistas, e a UCEBI, a União das Igrejas Evangélicas Batistas Italianas, também começou um caminho de discussão sobre o tema, solicitado por um ato da Assembleia Geral de 2012, que pedia explicitamente que os fiéis se deixassem interrogar sobre a sua relação com a sexualidade e a relação com as mulheres, e que os pastores não negligenciassem, na catequese assim como na pregação, as questões relativas à violência doméstica e ao feminicídio.

O "Opportunity" vai nessa direção, porque considera que punir não adianta, mas, ao contrário, é muito mais útil ouvir não apenas as vítimas, mas também os agressores. "A violência doméstica, infelizmente, é fenômeno muito difundido ainda, mesmo antes de chegar perante um juiz", comenta a pastora Maria Bonafede. "O tratamento das pessoas que maltratam leva a bons resultados de tomada de consciência, permitindo valiosas mudanças de mentalidade."

"Mesmo que seja apenas o começo, um projeto como este leva a uma melhoria da vida de ambos os gêneros, porque há muito sofrimento em quem sofre, mas também em quem maltrata."

Fonte: Ihu

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