“Há mulheres ‘estupráveis’ e não
‘estupráveis’. Depende do comprimento da saia.” Este pensamento cruel nem
sempre é dito em voz alta, mas a falta de esclarecimento ainda faz com que
muita gente siga sustentando tal argumentação em rodas de amigos e parentes.
Identificou-se? Pois saiba que é este um dos pontos da cultura do estupro.
O termo, que ganhou as redes
sociais após uma adolescente de 16 anos ter sido violentada por um grupo de
homens no Rio de Janeiro (RJ), é um conjunto de conceitos que normaliza o abuso
e é o responsável por ideias como a de que uma mulher que opta por uma
minissaia está mais vulnerável a uma violência sexual ou está, até mesmo,
“pedindo” para que seja assediada.
Em 2014, a internet ferveu com
fotos de mulheres com cartazes com a frase “Não Mereço Ser Estuprada” após o
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgar um levantamento no
qual 26% dos brasileiros concordam inteira ou parcialmente com a frase
“Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Na mesma
pesquisa, 30% dos entrevistados concordam com a ideia de que “se as mulheres
soubessem se comportar, haveria menos estupros”.
Por sua vez, o levantamento
“Violência contra a mulher no ambiente universitário”, feito em 2015 pelo
Instituto Avon com o Data Popular, mostrou que 27% dos 1.823 universitários
entrevistados não consideram violência abusar de uma garota se ela estiver
alcoolizada.
“Isso vem da concepção machista
da sociedade de que a mulher existe como um objeto”, diz a representante no
Brasil da ONU Mulheres, Nadine Gasman, ao UOL. “Uma mulher deveria poder sair
nua na rua sem ser tocada, xingada ou estuprada.”.
De acordo com a diretora de
conteúdo do Instituto Patricia Galvão, Marisa Sanematsu, uma lógica antiquada
de que o homem “não consegue se controlar” é usada para justificar este tipo de
pensamento. “É uma noção que diz que os homens são animais com apetite sexual
exacerbado e, por isso, a mulher tem que saber se portar e se vestir de
maneiras que não estimulem o homem”, fala Sanematsu.
Segundo Marisa, o estuprador é
condenado pela maior parte da sociedade quando ele ataca uma pessoa que “sabe
se portar”. O mesmo não acontece quando a vítima não atende aos padrões ditos
de uma mulher “recatada”, como é o caso da menina de 16 anos, que convivia com
pessoas ligadas ao tráfico de drogas. “As pessoas acham que eles [os
estupradores] agiram naturalmente. É uma barbárie. É a mesma coisa do que dizer
que pessoas que usam roupas azuis devem ser espancadas”, completa Gasman.
O figurino, o comportamento ou o
local em que uma pessoa está não interfere nos riscos de ela sofrer abuso, já
que o criminoso pode ser um familiar, amigo ou colega de trabalho. “É mais uma
questão de relações desiguais e desequilibradas de poder entre os gêneros”,
esclarece a Nadine Gasman. “Delegado nenhum deve perguntar como uma vítima de
violência sexual estava vestida porque não há justificativa para isso.”
Fonte: (Natália Eiras) Agência Patrícia Galvão
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