Crianças bebiam a mesma água que
o gado na fazenda Bonfim, zona rural de Codó, Estado do Maranhão, de onde foram
resgatadas sete pessoas de condições análogas às de escravo após denúncia de
trabalhadores. Retirada de uma lagoa suja, ela era acondicionada em pequenos
potes de barro e consumida sem qualquer tratamento ou filtragem, a não ser a
retirada dos girinos que infestavam o lugar. Os empregados também tomavam banho
nesta lagoa, e, como não havia instalações sanitárias, utilizavam o mato como
banheiro.
Por Leonardo Sakamoto Do Blog do
Sakamoto
Entre os controladores da
propriedade, aparece um deputado estadual. Não é a primeira que um político é
envolvido em casos desse tipo no Brasil. O Ministério do Trabalho e Emprego já
realizou operações semelhantes em fazendas pertencentes aos deputados federais
Inocêncio Oliveira (PR-PE), Beto Mansur (PP-SP), entre outros. Neste ano, o
Supremo Tribunal Federal já aceitou a denúncia contra dois parlamentares por
trabalho análogo ao de escravo: o senador João Ribeiro (PR-TO) e o deputado
federal João Lyra (PSD-AL).
A libertação aconteceu em março e
foi realizada por ação conjunta de Superintendência Regional do Trabalho e
Emprego do Maranhão, Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal. Abaixo,
trechos da reportagem de Bianca Pyl, da Repórter Brasil:
A propriedade de criação de gado
de corte em que foram flagradas condições degradantes foi atribuída à empresa
Líder Agropecuária Ltda, da família Figueiredo, que tem como sócios o deputado
estadual Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo (PSD/MA). Ele afirmou desconhecer
as denúncias e disse que a fazenda é administrada por seu pai, Benedito
Francisco da Silveira Figueiredo, ex-prefeito de Codó, que – por sua vez – nega
que seja administrador e alega que não há trabalhadores na propriedade, “apenas
moradores”.
Os trabalhadores resgatados
cuidavam da derrubada do mato para abertura de pasto e ficavam alojados em
barracos feitos com palha. Os abrigos não tinham sequer proteção lateral,
apesar de serem habitados por famílias inteiras, incluindo crianças. Os
resgatados declararam aos auditores fiscais que em noites de chuva as redes
onde dormiam ficavam molhadas e que todos sofriam com o frio. Todos comiam
diariamente café com farinha pela manhã, e arroz com feijão nas demais
refeições. A maioria dos trabalhadores era de mesmo de Codó e estava há cerca
de dois meses na fazenda.
“Todas as irregularidades e
ilegalidades constatadas constituíram total desrespeito a condições mínimas de
dignidade da pessoa humana, distanciando-se da função social da propriedade e
ferindo assim, além dos interesses dos trabalhadores atingidos, também o
interesse público”, explica Carlos Henrique da Silveira Oliveira, auditor
fiscal do trabalho e coordenador da ação. As verbas rescisórias totalizaram
mais de R$ 25 mil.
Por telefone, o deputado se disse
surpreso ao ser informado pela reportagem sobre a libertação na Fazenda Bonfim.
“Isso de trabalho escravo é novidade para mim. Até agora não tomei conhecimento
desta situação, vou entrar em contato agora para saber o que houve”, disse.
PEC do Trabalho Escravo – A
proposta de emenda constitucional 438/2001, que prevê o confisco de
propriedades onde trabalho escravo for encontrado e sua destinação à reforma
agrária ou ao uso social urbano, deve ir à votação no dia 08 de maio. Os
líderes da Câmara dos Deputados teriam acertado a entrada da matéria na agenda
de votações.
Aprovada em dois turnos pelo
Senado e em primeiro pela Câmara dos Deputados, a PEC está engavetada desde
2004, por pressão de membros da bancada ruralista e por falta de articulação
por parte do próprio governo federal, que não foi capaz de furar o “bloqueio”
imposto à proposta. Ela faz uma alteração ao artigo da Constituição que já
contempla o confisco de áreas em que são encontradas lavouras usadas na
produção de psicotrópicos. Se considerarmos as versões anteriores do projeto, a
proposta está tramitando no Congresso Nacional desde 1995.
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