Nossa cultura ainda insiste em
clichês e mentalidades sexistas que ditam a maternidade como algo inato a todas
as mulheres. As consequências nocivas dessa lógica são muitas: reduzir todas as
mulheres ao papel de mãe faz com que as garotas absorvam, desde cedo,
comportamentos limitados e submissos, aguardando o suposto inevitável dia em
que se tornarão mães. Mas o que é, afinal, um comportamento materno?
por Jarid Arraes
Existem muitos tipos de mães na
nossa sociedade. Há aquelas que adotam métodos educacionais libertários, outras
que preferem criar seus filhos em modelos conservadores; há mães que não
exercem uma autoridade rígida sobre as crianças ou ainda que são controladoras
e até mesmo rudes com seus filhos. O comportamento dessas mulheres varia de
acordo com a personalidade e subjetividade de cada uma delas; é por isso que
existem tantas formas de ser mãe, variando entre o afeto e a compreensão a até
mesmo atitudes violentas e criminosas.
No entanto, a personalidade
“maternal” que a sociedade atribui às mulheres se limita aos atos de cuidado e
servidão, frequentemente associados a um padrão submisso de comportamento. Não
por acaso, esse conceito de maternidade está intimamente relacionado à ideia
naturalizada de que mulheres devem ser brandas com os homens, mesmo em
situações em que eles são grosseiros ou abusivos. Segundo esses valores
machistas, a mulher deve ser paciente, didática e acolhedora. Mulheres que são
assertivas, que se posicionam de maneira contundente e que não fazem nenhuma
questão de tratar o machismo com panos quentes, acabam sendo hostilizadas,
expostas como descontroladas e “histéricas”. E muita gente nem mesmo percebe o
sistema misógino escondido por trás desses padrões.
A maternidade não é um dom,
tampouco um dom atribuído às mulheres de maneira universal. É preciso entender
que muitas mulheres não querem ser mães e que, muitas vezes, suas
personalidades e aspirações de vida não estão voltadas para um suposto
“instinto materno”. Ser mãe é um processo árduo de aprendizagem. Não existem
mães perfeitas e nenhuma mulher nasce sabendo como ser mãe.
Além disso, a própria ideia de postura
maternal deve ser objeto de reflexão, sobretudo quando desbanca para mulheres
que não são mães ou em contextos onde elas não estão lidando com seus filhos.
Nenhuma mulher tem a obrigação de agir como mãe dos seus parceiros, colegas de
trabalho ou de debate. Nenhuma mulher é obrigada a tratar homens como filhos,
agindo de maneira protetora, infantilizada ou incondicionalmente paciente. Essa
lógica machista precisa ser destruída.
É fato que ainda temos muito o
que debater e compreender a respeito da maternidade e do papel de cada mãe.
Ainda não aprendemos a respeitar as nossas próprias mães e menos ainda as mães
dos outros. Ainda são impostas cargas absurdas para que as mães de nossa
sociedade carreguem e ainda exigimos delas o impossível. Ainda assim, devemos
trabalhar para que as mulheres, sejam elas mães ou não, sejam vistas como
indivíduos únicos, singulares e completos, sem a necessidade da maternidade e
sem a exigência de um padrão maternal em seus comportamentos.
Fonte: Portal Fórum
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