A prostituição não pode ser pensada só a
partir de um comportamento individual, mas como uma instituição que está
ancorada nas estruturas econômicas e nas mentalidades coletivas. A relação
entre a prostituição e o desenvolvimento de atividades econômicas vinculadas às
obras de infraestrutura e mineração no Brasil é histórica.
Os anos 1980 e 90 foram marcados
por grandes movimentos migratórios, na região norte do país, motivadas por
projetos de infraestrutura, de mineração e da corrida pelo ouro.
O mercado da prostituição, nestes
locais, se desenvolveu acompanhando os fluxos migratórios, aumentando e
diminuindo de acordo com o ritmo das obras e da garimpagem. O mesmo se verifica
hoje, como, por exemplo, na estrada interoceânica, onde a concentração de garimpeiros
se dá ao mesmo tempo em que aumenta a concentração de mulheres em casas de
prostituição clandestinas.
O relatório da Plataforma DESCHA,
publicado em 2013, aponta que a prostituição, incluindo a exploração sexual
infantil, aparece como uma das principais consequências sociais da atuação da
Vale no corredor de Carajás, no Pará.
A prostituição que ganha
visibilidade no contexto da mineração não pode ser separada da realidade
imposta a muitas mulheres nas grandes e pequenas cidades. Ao lado de uma aparente
permissividade no campo da sexualidade, o que se verifica hoje é um crescimento
do mercado da prostituição e da pornografia, o aumento do conservadorismo e o
ataque ao direito das mulheres de decidir sobre seus corpos.
Existem muitos atores envolvidos
nos sistemas de prostituição: clientes, cafetões, homens e mulheres e até
Estados. Isso significa que a prostituição não pode ser pensada só a partir de
um comportamento individual, mas como uma instituição que está ancorada nas
estruturas econômicas e nas mentalidades coletivas. Mas neste sistema, há um
sigilo sobre o papel dos homens, tentativas de normatização das estruturas
econômicas, e sobre as mulheres em situação de prostituição recai o peso da
estigmatização, desprezo e confinamento.
Tica Moreno é integrante da
Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das
Mulheres
Fonte: Brasil de Fato
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