quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mineração e prostituição

 A prostituição não pode ser pensada só a partir de um comportamento individual, mas como uma instituição que está ancorada nas estruturas econômicas e nas mentalidades coletivas. A relação entre a prostituição e o desenvolvimento de atividades econômicas vinculadas às obras de infraestrutura e mineração no Brasil é histórica.

Os anos 1980 e 90 foram marcados por grandes movimentos migratórios, na região norte do país, motivadas por projetos de infraestrutura, de mineração e da corrida pelo ouro.

O mercado da prostituição, nestes locais, se desenvolveu acompanhando os fluxos migratórios, aumentando e diminuindo de acordo com o ritmo das obras e da garimpagem. O mesmo se verifica hoje, como, por exemplo, na estrada interoceânica, onde a concentração de garimpeiros se dá ao mesmo tempo em que aumenta a concentração de mulheres em casas de prostituição clandestinas.

O relatório da Plataforma DESCHA, publicado em 2013, aponta que a prostituição, incluindo a exploração sexual infantil, aparece como uma das principais consequências sociais da atuação da Vale no corredor de Carajás, no Pará.

A prostituição que ganha visibilidade no contexto da mineração não pode ser separada da realidade imposta a muitas mulheres nas grandes e pequenas cidades. Ao lado de uma aparente permissividade no campo da sexualidade, o que se verifica hoje é um crescimento do mercado da prostituição e da pornografia, o aumento do conservadorismo e o ataque ao direito das mulheres de decidir sobre seus corpos.

Existem muitos atores envolvidos nos sistemas de prostituição: clientes, cafetões, homens e mulheres e até Estados. Isso significa que a prostituição não pode ser pensada só a partir de um comportamento individual, mas como uma instituição que está ancorada nas estruturas econômicas e nas mentalidades coletivas. Mas neste sistema, há um sigilo sobre o papel dos homens, tentativas de normatização das estruturas econômicas, e sobre as mulheres em situação de prostituição recai o peso da estigmatização, desprezo e confinamento.

Tica Moreno é integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres


Fonte: Brasil de Fato

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