O bloco Mulheres de Chico existe desde 2006 e foi o primeiro bloco exclusivamente feminino do carnaval de rua carioca (Foto: Bruno Girão/Divulgação)
Aproveitando a poderosa irreverência do carnaval, dois
blocos da cidade de RJ vão desfilar contra o machismo. O Bloco das Mulheres Rodadas e
o Comuna Que Pariu optaram por usar o democrático espaço da folia para abordar
o assunto — e aliados é o que não lhes falta.
— O carnaval é uma época em que todos estão muito próximos e
há uma relação muito grande com o corpo — diz Violeta Pavão, porta-estandarte
do Comuna Que Pariu. — É muito importante que, além das mulheres, os homens
também discutam o machismo.
Com maioria feminina na bateria, o Comuna compôs o samba
“Lugar de Mulher É… Onde Ela Quiser!!!”. Para se ter uma ideia do que estão
preparando para a festa, um trecho da letra diz “antes dos treze já me passaram
a mão / se fiquei quieta, a culpa é da opressão”. É muito engajamento e
gaiatice juntos.
— O carnaval é uma boa oportunidade de subverter um monte de
coisas — diz Renata Rodrigues, uma das organizadoras do Bloco das Mulheres
Rodadas. — Existe muita coisa séria sobre o tema, mas o caminho que escolhemos
é fazer brincadeira e mostrar que a ideia de categorizar uma mulher é
ultrapassada e motivo de virar piada.
Inspiradas pela discussão sobre a “quilometragem” das
mulheres, duas amigas resolveram levar a sério uma galhofa que fizeram sobre
reunir as mulheres que seriam “rodadas” no carnaval. Criaram um evento que já
tem mais de 8 mil presenças confirmadas na internet, ganharam ajuda daqui e
dali e, quando viram, lançaram mais um bloco na programação extra oficial do
carnaval carioca.
Uma das manifestações de apoio veio das Damas de Ferro,
fanfarra feita exclusivamente de mulheres que tocam percussão e sobretudo
sopro. As 14 mulheres, que tocam de Chico Buarque a Britney Spears, engrossam o
coro dos que chamam a atenção para a presença da mulher no carnaval. A
idealizadora da banda, Carol Schavarosk, explica como a ideia lhe ocorreu:
— Dava para contar nos dedos a quantidade de meninas tocando
instrumentos de sopro. Achei que a banda seria um bom incentivo para as
mulheres que quisessem aprender. — Confirmado pelo repertório das fanfarronas,
as Damas de Ferro procuram manter uma conexão com o universo feminino mas sem
perder a pluralidade de vista.
OUTROS EXEMPLOS
Não é de hoje que a presença da mulher no carnaval chama a
atenção. A força não apenas do charme mas também da competência feminina vem de
outros carnavais.
Desde sua primeira apresentação em 2006, as Mulheres de
Chico foram concebidas para homenagear o muso entendedor da alma feminina, em
uma época em que as mulheres eram mais bem-vindas para sambar e, sem querer,
espalharam uma ideia.
— Quando começamos, muitas escolas de samba não aceitavam
mulheres na bateria. Gosto de ver mulheres tocando e fazendo o que os homens
fazem porque acho que isso deveria ser o normal — diz Vivian Freitas, uma das
fundadoras do bloco.
Bloco Comuna Que Pariu vai cantar o samba “Lugar de Mulher
É… Onde Ela Quiser” (Foto: Thiago Mattos/O Globo)
A mesma vontade de fazer bem feito inspirou as quatro amigas
responsáveis pelas Divas do Recreio, bloco que também faz sua estreia este ano
trazendo 30 mulheres na bateria.
— Queríamos mostrar que as mulheres não são tão frágeis
assim — afirma Valéria Wright, uma das fundadores do bloco. Valéria conta que
depois de resolver toda a burocracia com o cadastramento para o carnaval de
rua, homens de outros blocos já foram lhe procurar pedindo ajuda. — Quebramos
um paradigma. Ter o nosso bloco é uma conquista grande nesse universo machista
do carnaval, que é tão difícil de entrar.
E com toda a brincadeira de carnaval, há quem também faça
troça das mulheres no comando. Dorina é a fundadora do Mulheres de Zeca e
afirma que este ano o bloco também falará sobre os 450 anos da mulher carioca e
suas conquistas.
— Quando tem muita mulher pode dar muita confusão também —
brinca.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário