terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Bebês ficam mais tempo em hospitais por falta de abrigo

Com rede lotada de filhos de mães usuárias de crack, recém-nascidos esperam semanas por vaga. Como consequência, partos chegam a ser recusados, pois crianças que poderiam receber alta ocupam vagas.

Filhos de mães com dependência química já ficam expostos aos males do consumo de álcool e de outras drogas antes de nascerem. Após os partos, muitos sofrem com síndromes de abstinência e precisam ficar mais tempo internados para tratar de complicações e recuperar o peso. Quando, enfim, recebem alta, nem sempre seguem com suas famílias e permanecem dias ou até semanas “abrigados” em maternidades públicas por falta de vagas em casas de acolhimento da capital.

Até a última sexta-feira, das 82 vagas para recém-nascidos em abrigos da capital, 81 estavam ocupadas, e cerca de 80% deles são filhos de mães usuárias de entorpecentes. Nos últimos seis meses, recomendações do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que aceleraram a separação de mulheres e seus bebês contribuíram para esse cenário (leia mais ao lado). “Estamos operando com capacidade máxima e não conseguimos absorver todas as crianças de imediato. Se não tem vaga, elas ficam aguardando na maternidade”, disse a gerente municipal de Abrigamento, Helizabeth Ferenzini.

No Hospital Municipal Odilon Behrens, que fica ao lado da maior cracolândia (como são chamados os locais de consumo de crack) da capital, 50 filhos de mães usuárias de drogas nasceram de 1º de fevereiro a 15 de dezembro do ano passado. O levantamento, feito pela médica pediatra neonatologista Alexandra Velloso, mostra ainda que, desses, 17 (34%) foram encaminhados para abrigos, seja por abandono da genitora ou por decisão do Conselho Tutelar ou da Justiça.

Mesmo com alta médica, a espera por uma vaga em abrigo é regra, e não exceção. “Nunca vi ser diferente, e qualquer permanência hospitalar desnecessária oferece riscos de infecção e também psicológicos. Cuidar de criança não é só trocar fralda e dar mamadeira, é carinho e atenção. E hospital não é o local adequado para isso”, afirmou Alexandra.

A assistente social Luciana da Costa e Souza, responsável pelos leitos da neonatologia do Odilon, informou que, em média, os bebês ficam duas semanas a mais do que deveriam aguardando vaga em abrigo. “Tivemos um pico no final do ano passado, teve um caso de um bebê que ficou esperando um mês. Esse leito poderia ser para uma criança que precisa. Em alguns casos, até deixamos de receber novos partos”, declarou. Segundo Luciana, o Odilon Behrens tem 35 leitos na maternidade e, embora com demanda flutuante, todos estão sempre ocupados.

Na Maternidade Odete Valadares, uma das principais da capital, não há números tabulados, mas o problema se repete. “Em 2014, tivemos vários casos. Às vezes, a criança fica um ou dois dias após a alta, às vezes uma semana”, disse Mônica Melquíades Silva, referência técnica do serviço social do hospital.

Fonte: O Tempo

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