Com rede lotada de filhos de mães
usuárias de crack, recém-nascidos esperam semanas por vaga. Como consequência,
partos chegam a ser recusados, pois crianças que poderiam receber alta ocupam
vagas.
Filhos de mães com dependência
química já ficam expostos aos males do consumo de álcool e de outras drogas
antes de nascerem. Após os partos, muitos sofrem com síndromes de abstinência e
precisam ficar mais tempo internados para tratar de complicações e recuperar o
peso. Quando, enfim, recebem alta, nem sempre seguem com suas famílias e
permanecem dias ou até semanas “abrigados” em maternidades públicas por falta
de vagas em casas de acolhimento da capital.
Até a última sexta-feira, das 82
vagas para recém-nascidos em abrigos da capital, 81 estavam ocupadas, e cerca
de 80% deles são filhos de mães usuárias de entorpecentes. Nos últimos seis
meses, recomendações do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que
aceleraram a separação de mulheres e seus bebês contribuíram para esse cenário
(leia mais ao lado). “Estamos operando com capacidade máxima e não conseguimos
absorver todas as crianças de imediato. Se não tem vaga, elas ficam aguardando
na maternidade”, disse a gerente municipal de Abrigamento, Helizabeth
Ferenzini.
No Hospital Municipal Odilon
Behrens, que fica ao lado da maior cracolândia (como são chamados os locais de
consumo de crack) da capital, 50 filhos de mães usuárias de drogas nasceram de
1º de fevereiro a 15 de dezembro do ano passado. O levantamento, feito pela
médica pediatra neonatologista Alexandra Velloso, mostra ainda que, desses, 17
(34%) foram encaminhados para abrigos, seja por abandono da genitora ou por
decisão do Conselho Tutelar ou da Justiça.
Mesmo com alta médica, a espera por
uma vaga em abrigo é regra, e não exceção. “Nunca vi ser diferente, e qualquer
permanência hospitalar desnecessária oferece riscos de infecção e também
psicológicos. Cuidar de criança não é só trocar fralda e dar mamadeira, é
carinho e atenção. E hospital não é o local adequado para isso”, afirmou
Alexandra.
A assistente social Luciana da
Costa e Souza, responsável pelos leitos da neonatologia do Odilon, informou
que, em média, os bebês ficam duas semanas a mais do que deveriam aguardando
vaga em abrigo. “Tivemos um pico no final do ano passado, teve um caso de um
bebê que ficou esperando um mês. Esse leito poderia ser para uma criança que
precisa. Em alguns casos, até deixamos de receber novos partos”, declarou.
Segundo Luciana, o Odilon Behrens tem 35 leitos na maternidade e, embora com
demanda flutuante, todos estão sempre ocupados.
Na Maternidade Odete Valadares,
uma das principais da capital, não há números tabulados, mas o problema se
repete. “Em 2014, tivemos vários casos. Às vezes, a criança fica um ou dois
dias após a alta, às vezes uma semana”, disse Mônica Melquíades Silva, referência
técnica do serviço social do hospital.
Fonte: O Tempo
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