O governo brasileiro
encampou como uma das bandeiras do Mundial o combate à exploração sexual.
Conseguiu até forçar a Adidas, uma das patrocinadoras do torneio, a tirar de
circulação camisetas de apelo erótico. Gol de honra midiático diante da derrota
diária para o turismo sexual durante a Copa. Cada uma à sua maneira, as sedes
mantêm o mercado do sexo a pleno vapor enquanto a bola rola nas arenas.
Apontada como capital brasileira prostituição pela imprensa
internacional, Fortaleza tem como escritório das garotas de programa a Avenida
Beira-Mar. Elas aproveitam o fluxo intenso de torcedores para combinar as
saídas. “São R$ 200 por uma hora e meia. Dependendo de como for o cliente, dá
para negociar”, diz uma delas à Gazeta do Povo, após livrar-se de um grupo de
mexicanos que achou cara a pedida e antes de seguir adiante ao ver que a nova
abordagem não daria em nada.
A pressa é justificada pela demanda. São pelo menos cinco
homens para cada mulher. Os programas se desenrolam nos hotéis onde os clientes
estão hospedados ou em motéis que não dão conta do movimento. Filas de táxi se
formam e não é raro alguém sair sem pagar o quarto.
A polícia observa de perto a movimentação, mas não faz nada.
As meninas só dispersam quando fiscais da prefeitura se aproximam. Os cafetões
avisam, elas migram para outro ponto e seguem o trabalho.
Em Manaus, a prostituição ocorre a bordo de barcos ancorados
à beira do Rio Negro. Adolescentes são abordadas no porto e levadas para
programas nos motéis fluviais. Com a maior fiscalização ao tráfego de barcos
irregulares, abrigar programas entre meninas manauaras e turistas tornou-se uma
atividade lucrativa, sem que a polícia faça algo.
“Denúncias chegam até nós, mas quando nos infiltramos e
chegamos aos barcos, elas [crianças e adolescentes] negam. Dizem que são
namorados e não temos o que fazer”, lamenta a delegada titular da Delegacia
Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao Adolescente (DEAPCA),
Linda Gláucia.
Denúncias sem comprovação são um obstáculo ao combate da
exploração sexual infantil também em Cuiabá. O plantão 24 horas da Delegacia
Especializada na Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica)
recebeu 30 queixas, mas não conseguiu avançar na investigação de nenhuma.
Outro problema é a combinação entre sexo e drogas. A Gazeta
do Povo flagrou uma mulher oferecendo a um turista estrangeiro um programa de
R$ 200, com direito a uma carreira de cocaína. A negociação não avançou,
especialmente pelo preço. Em Várzea Grande, região metropolitana, onde há
grande concentração de motéis, o encontro não sai por menos de R$ 150. Dentro
das boates, uma hora chega a custar R$ 2 mil.
Cobrar mais caro foi orientação em Belo Horizonte. Um
aumento de 30% sugerido pela Associação das Prostitutas de Minas Gerais
(Aprosmig), que treinou e capacitou as garotas de programa para o torneio. Pelo
menos 300 mulheres concluíram o curso de inglês gratuito e levam na bolsa um
guia ilustrado para facilitar a comunicação com os turistas. Outras carregam
máquinas de cartão de crédito e débito, resultado de uma parceria com a Caixa
Econômica Federal que permite parcelar o pagamento do serviço.
Por um maior reconhecimento da profissão, garotas de
programa fizeram uma manifestação no dia do primeiro jogo na cidade. Bloquearam
uma rua na região central e promoveram uma “pelada” contra um time de
universitários. Até cartazes solicitando “zonas padrão Fifa” foram levados.
O termo “zona padrão Fifa” caberia perfeitamente ao Café
Bahamas, um dos mais tradicionais de São Paulo. Reaberto recentemente após uma
longa batalha judicial, o estabelecimento aumentou seus preços e recrutou
garotas do Sul do país para lucrar com a Copa.
“Aqui elas cobravam de R$ 350 a R$ 400 o programa e agora
converteram isso para dólares, passando para R$ 900. Essas moças ganham R$ 25
mil por mês e vão passar a R$ 40 mil na Copa”, calcula o dono do local, Oscar
Maroni. Dinheiro deixado pelos turistas no país durante a Copa da última
maneira que o governo brasileiro esperava.
Fonte: Gazeta do Povo
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