Se em 1992 as mulheres que eram mães recebiam 4% menos que aquelas que não eram, em 2009 essa diferença salarial passou a ser de 11%.. As mulheres que não têm filhos, ou que adiam o momento de tê-los, conseguem investir na formação, o que faz com que possam conseguir empregos mais qualificados e que pagam mais. Além de participarem mais do mercado de trabalho: têm mais disponibilidade para assumir um cargo de chefia ou não precisam procurar uma função com horário mais flexível, que demanda menos e paga menos.
O principal motivo para a diminuição da população brasileira
— a queda da taxa de fecundidade — e o fato de que está caindo o número de
pessoas mais jovens também trazem uma oportunidade para o país: como haverá
menos crianças e adolescentes, o Brasil terá, portanto, mais dinheiro a ser
investido per capita na Educação.
Além disso, o investimento nos mais jovens também vai
permitir não só que a força de trabalho do futuro seja mais qualificada, mas
que a parcela feminina dessa força de trabalho possa ter participação mais
ativa no mercado, em vez de deixar de trabalhar para cuidar dos filhos.
Estudo inédito apresentado no Encontro Nacional de Estudos
Populacionais deste ano, e realizado pela pesquisadora do Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG Maíra Andrade Paulo,
mostra que o custo de ser mãe no Brasil aumentou ao longo das últimas décadas:
se em 1992 as mulheres que eram mães recebiam 4% menos que aquelas que não
eram, em 2009 essa diferença salarial passou a ser de 11%.
Baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) do IBGE, o estudo também aponta defasagem salarial grande com o
adiamento da maternidade: mulheres que tiveram o primeiro filho entre 18 e 21
anos, em 2009, ganhavam, por hora, pouco mais de R$ 4; mulheres que o tiveram
entre 25 e 34 anos recebiam, por hora, R$ 8.
— É o que podemos chamar de penalidade da maternidade. As
mulheres que não têm filhos, ou que adiam o momento de tê-los, conseguem
investir na formação, o que faz com que possam conseguir empregos mais
qualificados e que pagam mais. Além de participarem mais do mercado de
trabalho: têm mais disponibilidade para assumir um cargo de chefia ou não
precisam procurar uma função com horário mais flexível, que demanda menos e
paga menos — destaca Maíra.
Segundo a pesquisadora, o custo de ficar fora do mercado
aumenta justamente porque têm crescido as exigências de formação e
qualificação:
— Então, quem consegue investir nisso ganha cada vez mais.
Por isso, vemos que essa diferença salarial é maior nas regiões metropolitanas,
áreas com maior competitividade; também é maior entre as mulheres brancas,
pelas desigualdades educacionais entre brancos e negros, com as brancas
conseguindo investir mais em educação.
Enquanto as brancas não mães, em 2009, ganhavam R$ 2,8 a
mais por hora de trabalho que as brancas mães, pretas e pardas não mães
ganhavam R$ 1,7 a mais por hora que as pretas e pardas mães. Já a diferença
entre mulheres mães e não mães nas regiões metropolitanas era de R$ 3,6 por
hora de trabalho; nas não metropolitanas, era de R$ 1,5.
Mãe cobra vagas em creches
Mariângela Lima, de 36 anos, estava no terceiro período de
Pedagogia quando nasceu Artur, hoje com 3 anos. Teve de parar a faculdade — na
equação que juntava filho e necessidade de trabalhar, não havia espaço para uma
maior escolaridade que poderia lhe render um salário melhor.
— Nunca mais consegui voltar a estudar — conta a moradora da
Tijuca, na Zona Norte do Rio, que hoje trabalha costurando para lojas.
Para Maíra Paulo, é preciso que haja políticas como criação
de mais vagas públicas em creches e expansão do ensino público em tempo
integral:
— A própria queda da taxa de fecundidade tem como um dos
motivos essa dificuldade de a mulher conciliar trabalho e filhos. Além de esse
investimento em creches e ensino integral ajudar as mulheres, ajuda na formação
das crianças. O país pode aproveitar que terá menos crianças para investir mais
na infância. É, aliás, o momento para isso, pois ainda temos mais pessoas na
ativa; quando isso mudar, o peso dos idosos vai ser maior.
Essa oportunidade para um investimento maior em Educação é
destacada por Naércio Menezes Filho, do Insper. Ele cita estudo que orientou de
Stephanie Ruas, da USP, apontando que, como haverá menos crianças, com
crescimento médio do PIB de 3% ao ano, o gasto por aluno da educação básica
iria de R$ 4 mil em 2010 a R$ 10 mil em 2030.
— O melhor é aproveitar a virada demográfica para
redirecionar recursos para o ensino básico — diz.
Fonte: O Globo
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