María de los Ángeles Verón Trimarco (Marita) tinha 23 anos em 3 de abril de 2002, quando desapareceu em San Miguel de Tucumán. O que aconteceu depois foi uma odisseia que serviu para que a sociedade argentina descobrisse as condições de escravidão em que vivem hoje em dia as mulheres em centenas de prostíbulos.
A "mãe coragem" argentina, Susana Trimarco, sofreu
na terça-feira (11) um revés descomunal. Depois de procurar sua filha, Marita
Verón, durante uma década, supostamente desaparecida nas redes de prostituição
da cidade nortenha de San Miguel de Tucumán; depois de ter conseguido levar a
julgamento sete homens e seis mulheres para os quais a promotoria e seus
advogados solicitaram penas de 12 a 26 anos. Depois de tudo isso, depois de dez
meses de um julgamento pelo qual desfilaram mais de 100 testemunhas, os três
juízes da Sala 2 da Câmara Penal de Tucumán decidiram por unanimidade a
absolvição dos 13 acusados. O presidente da sala tinha previsto a leitura de um
breve resumo dos fundamentos do veredito, mas houve um alvoroço tão grande que
foi impossível. "Isso é um ato de corrupção", declarou um dos
advogados de Trimarco. Enquanto os acusados choravam e se abraçavam, dezenas de
testemunhas insultavam os juízes.
A reportagem é de Francisco Peregil, publicada no jornal El
País e reproduzida no Portal Uol, 17-12-2012.
Há muitos anos não se via na Argentina uma unidade tão
grande em todo o espectro político em relação a um tema. Governo e oposição
expressaram sua solidariedade a Susana Trimarco. A presidenta da Argentina,
Cristina Fernandez, telefonou para a mãe e disse: "Susana, não sei como
você consegue aguentar tanto. Conte comigo. (…) Não posso acreditar no que
fizeram". "Até a esposa do presidente Obama se solidarizou
comigo", relatou Trimarco na quarta-feira (12).
Fernández aproveitou o escândalo do fracasso para colocar
lenha na fogueira da disputa que mantém nos tribunais com o grupo Clarin.
Depois de dizer que "cada vez é mais evidente o divórcio entre a sociedade
e a Justiça", afirmou: "Vamos colocar em marcha uma democratização do
Poder Judiciário". Os juízes Alberto Piedrabuena, Emilio Herrera Molina e
Eduardo Romero não consideraram provado que os donos de vários bares estavam
relacionados com o sequestro e desaparecimento de Marita Verón. Apesar do
golpe, Trimarco não derramou nenhuma lágrima nem mostrou sinais de fraqueza.
"Sou uma pessoa muito fria porque eles me fizeram assim."
María de los Ángeles Verón Trimarco (Marita) tinha 23 anos
em 3 de abril de 2002, quando desapareceu em San Miguel de Tucumán. O que
aconteceu depois foi uma odisseia que serviu para que a sociedade argentina
descobrisse as condições de escravidão em que vivem hoje em dia as mulheres em
centenas de prostíbulos. Daniel Verón, seu pai, foi vítima de uma depressão que
o perseguiria até a morte, em 2010. A mãe continuou lutando por colocar os
suspeitos no banco dos réus. Chegou a se disfarçar de prostituta para averiguar
o paradeiro de sua filha. Pouco a pouco foram lhe contando que Marita havia
sido golpeada com a culatra de um revólver nas ruas de San Miguel de Tucumán,
colocada num carro vermelho, vendida a uma rede de tráfico de mulheres brancas,
drogada, estuprada, apunhalada e forçada a ter um filho em cativeiro com seu
cafetão.
Fonte: Ihu
Nenhum comentário:
Postar um comentário