O marido pouco ajuda. A empregada doméstica ficou cara e
escassa. A saída para a mulher — hoje 42% dos ocupados — foi optar cada vez
mais pela praticidade nos assuntos domésticos. E, com isso, a dona de casa de
múltiplas funções — mãe, mulher, profissional — tem demandado produtos, em
especial na cozinha, que deixariam a vovó de cabelo em pé.
São, por exemplo,
temperos prontos, congelados, refeições instantâneas e sanduíches de
micro-ondas — arsenal que promete ajudar a mulher que não quer mais esquentar a
barriga no fogão.
Fogão, aliás, mais tecnológico, assim como os demais
eletrodomésticos, feitos para a mulher sem tempo.
— A mulher evoluiu profissionalmente e tem mais renda. Mas
lhe falta tempo. Tempo que quer para estar com a família ou cuidar da beleza.
Se precisa de tempo, será nos afazeres domésticos que se permitirá ser mais
prática — explica Isabella Portella, gerente de Inteligência da Sophia Mind.
Isabella não se surpreende com pesquisas que apontam que, na
cesta de compras da família, 22% já eram pratos prontos em 2011. Eram 16% no
ano anterior. E isso mesmo com a preocupação da mulher de colocar à mesa
refeições mais saudáveis.
A mulher moderna já não quer perder tempo em descascar alho,
acrescentou Ana Paula Duarte, diretora de Marketing de Alimentos daUnilever.
Daí, o crescimento nas vendas dos temperos prontos da marca
Knorr — que promete até temperar os produtos mais básicos da culinária
brasileira: o arroz e o feijão.
— Já lançamos o tempero do frango assado, o do bife. E no
Rio, chega em novembro o purê de batata. Basta colocar água quente e pronto —
disse a diretora da Unilever.
Praticidade é alvo de críticas
Também está de olho nessa família a Ajinomoto, que faz o
Sazon, que detém 74% desse mercado. Chegou a lançar caldos de carne de panela e
o purê de batata instantâneo. E, por pesquisas, descobriu que o temperos em pó
dissolvem mais rapidamente do que os temperos em cubo. Os pratos prontos — como
lasanhas — são destaque no cardápio da BRF. Nos últimos dois anos, o mercado de
pratos prontos cresceu quase 30% em volume.
— Com tantas atribuições, a mulher não consegue se dedicar
tanto às tarefas domésticas, como cozinhar — disse Eduardo Bernstein, diretor
de Marketing de Carnes da BRF.
Além dos alimentos, a indústria de eletrodomésticos também
fatura em cima dessa mulher sem tempo. Na cozinha, aumentou a presença de
micro-ondas e lava-louças.
Ainda que essa praticidade seja alvo de críticas dos mais
tradicionais, são essas opções que a permitem administrar as inúmeras tarefas.
E isso mesmo quando o marido ajuda. Afinal, ambos estão com as agendas
apertadas.
— É a mulher quem, a despeito do novo modelo das famílias, é
a responsável pelo supermercado. O homem só faz as compras mesmo para comprar
aquele vinho, aquela cerveja para o fim de semana. Ao acumular tarefas, ela faz
opção pelo mais prático. E nesse produto que gasta menos o seu tempo, está
embutido o preço mais elevado. Se ela pode, ela paga — disse Sílvia Borges,
professora da ESPM.
Mas as mulheres buscam praticidade fora da cozinha também.
Vêm crescendo as vendas de máquina de lavar e muitas companhias veem no Brasil
um mercado estratégico para máquina de lavar louça.
— Por causa da baixa penetração, menos de 5%, o segmento de
lava-louças tem grande potencial de crescimento e, sim, vem crescendo. Hoje,
esse item já começa a ser incorporado como uma prioridade. É uma categoria tão
importante para a Whirlpool que a Brastemp tem um site explicando seus
benefícios, o site Quebrando Mitos — disse Daniela Cianciaruso, gerente de
Marketing da Whirlpool Latin America, que detém Brastemp, Consul e KitchenAid.
Mixer em vez de liquidificador
A engenheira química Teresa Cruz, de 48 anos, diz que
máquina de lavar não é mais utensílio, é necessidade. E, por isso, há dois
meses, comprou um modelo mais potente.
— E instalei uma miniTV na cozinha para me informar enquanto
cuido da casa. Além da máquina de lavar, tenho processadores, mixer, fogão e
geladeira mais potente, para ganhar tempo. No último fim de semana comprei um
mixer. É melhor que o liquidificador, é mais fácil de limpar.
Produtos de limpeza mais práticos, como desinfetantes em
lenços umedecidos ou produtos mais concentrados, são outra aposta das mulheres.
A Procter & Gamble, por exemplo, aposta no Ariel Líquido
como produto prático para atender essa nova demanda das famílias. Os
detergentes líquidos são 13% do mercado, que cresceu 48% em 2012.
— Produtos de limpeza esbarram no orçamento. Na hora da
praticidade, a preferência é do alimento — disse Isabella.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário