Espiritualidade é, essencialmente, um espírito de transgressão, de inconformidade com o estabelecido.
A espiritualidade não apenas existe para propagar o temor a lobos, mas também para questionar as cercas que aprisionam o rebanho e o cajado opressor dos pastores.
"O tambor faz muito barulho
mas é vazio por
dentro"(Barão de Itararé)
A espiritualidade não é um momento, uma vivência pontual.
Tampouco, um balão que sobe ao céu cheio apenas de vento. É uma condição
existencial que habita a vida de todas as pessoas como uma mola propulsora a
nos impulsionar, mesmo quando não temos mais forças, sempre em direção a algo
que, no íntimo, de nosso ser sabemos que vale à pena. E é pena que nos tempos
pósmodernos atuais, em que o sagrado retorna morbidamente maquiado de desejos
de riquezas e medo de viver as dores da vida, as pessoas não consigam vivenciar
a espiritualidade como a dimensão da nossa resistência no caminho das pedras
que são as utopias.
Lembro que, certa vez, um amigo militante dizia que
espiritualidade é como as raízes de uma planta. Quanto mais fincada e enraizada
a planta está num dado terreno mais ela tem condições de resistir às
tempestades da existência. E diria que uma das maiores tempestades de nossas
espiritualidades é justamente a idiotização da fé, fecundada por
pseudoespiritualidades que comercializam a esperança e vendem a imagem de um
Deus que não resiste a meio quilo de inteligência ou muito menos a um quarto de
quilo de bom senso.
Isolar-se numa redoma de mentiras dentro de uma igreja e
fazer pessoas tomarem doses diárias de catarses espiritualistas é algo que
agride a vida das pessoas. É uma das formas mais lamentáveis de violência.
A espiritualidade de verdade não nos estagna; muito menos
nos move para trás.
Ao contrário, a espiritualidade é a parte de nós que não
consegue ficar presa à opressão que a realidade impõe e nos impulsiona a
imaginar um lugar melhor e construí-lo aqui onde estamos.
Espiritualidade é, essencialmente, um espírito de
transgressão, de inconformidade com o estabelecido.
A espiritualidade não apenas existe para propagar o temor a
lobos, mas também para questionar as cercas que aprisionam o rebanho e o cajado
opressor dos pastores.
Espiritualidade é crer que as sementes germinam se plantadas
no solo bom dos corações e mentes das pessoas. Espiritualidade é militância
radical da fé no que é e, principalmente, no que deve ser bom.
Espiritualidade é rezar a cartilha da poesia; adorar a
figura divina da tolerância; e se ajoelhar diante do bem maior.
Espiritualidade é crer na redundância, até mesmo no
pleonasmo do amor solidário.
A espiritualidade habita naquela que "não sabendo que
era impossível, foi lá e fez"*; mas, principalmente, move aquela que mesmo
sabendo que era impossível, foi lá e fez mesmo assim.
Fonte: Eraldo Paulino ( Adital)
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