No texto do evangelho deste domingo, Jesus elogia uma viúva
pobre porque ela soube partilhar mais do que todos os ricos. Muitos pobres de
hoje fazem o mesmo. O povo diz: "Pobre não deixa morrer de fome". Mas
às vezes, nem isso é possível.
“Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros
que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na
sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver." (Mc 12, 43-44 )
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No texto de hoje, Jesus elogia uma viúva pobre porque ela
soube partilhar mais do que todos os ricos. Muitos pobres de hoje fazem o
mesmo. O povo diz: "Pobre não deixa morrer de fome". Mas às vezes,
nem isso é possível. Dona Cícera, que veio do interior da Paraíba para morar na
periferia de João Pessoa, dizia: "No interior, a gente era pobre, mas
tinha sempre uma coisinha para dividir com o pobre na porta. Agora que estou
aqui na cidade, quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de
vergonha, porque não tenho nada em casa para dividir com ele!" De um lado:
gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que
não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco que tem. Vamos conversar sobre
isso.
COMENTANDO
Marcos 12, 38-40:
Jesus critica os doutores da Lei
Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento
ganancioso e hipócrita de alguns doutores da Lei. Estes tinham gosto em
circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar
os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles
gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de
dinheiro! E Jesus termina: "Essa gente vai receber um julgamento mais
severo!"
Marcos 12, 41-42: A
esmola da viúva
Jesus e os discípulos, sentados em frente ao cofre do
Templo, observavam como todo o mundo
colocava aí a sua esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam
moedas de grande valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo o
mundo trazia alguma coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero
e para a conservação do prédio. Parte deste dinheiro era usada para ajudar os
pobres, pois naquele tempo não havia previdência social. Os pobres viviam
entregues à caridade pública. Os pobres que mais precisavam da ajuda dos outros
eram os órfãos e as viúvas. Estas não tinham nada. Dependiam em tudo da
caridade dos outros. Mas mesmo sem ter nada, elas faziam questão de partilhar.
Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do Templo. Poucos
centavos apenas!
Marcos 12, 43-44:
Jesus aponta onde se manifesta a vontade de Deus
O que vale mais: os 10 centavos da viúva ou os 1.000 reais
dos ricos? Para os discípulos, os 1.000 reais dos ricos eram muito mais úteis
para fazer a caridade do que os 10 centavos da viúva. Eles pensavam que o
problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da
multiplicação dos pães, eles tinham dito a Jesus: "O senhor quer que vamos
comprar pão por 200 denários para dar de comer ao povo?" (Mc 6,37). De
fato, para quem pensa assim, os 10 centavos da viúva não servem para nada. Mas
Jesus diz: "Esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que
ofereceram moedas ao Tesouro". Jesus tem critérios diferentes. Chamando a
atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina onde eles e nós
devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e na
partilha.
Esmola, partilha,
riqueza
A prática de dar esmolas era muito importante para os
judeus. Era considerada uma "boa obra", pois dizia a lei do AT:
"Nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a
mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra" (Dt
15,11). As esmolas, colocadas no cofre do Templo, seja para o culto, seja para
os necessitados, os órfãos ou viúvas, eram consideradas como uma ação agradável
a Deus. Dar esmolas era uma maneira de se reconhecer que todos os bens e dons
pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores e administradoras
desses dons, para que haja vida em abundância para todas as pessoas.
Foi a partir do Êxodo que o povo de Israel aprendeu a
importância da esmola, da partilha. A caminhada dos 40 anos pelo deserto foi
necessária para superar o projeto de acumulação que vinha do faraó e que estava
na cabeça do povo. É mais fácil sair do país do faraó que deixar a mentalidade
dele. Ela é sutil demais. Foi preciso experimentar a fome no deserto para
aprender que os bens necessários à vida são para todos. Este é o ensinamento da
história do maná: "Nem aquele que tinha juntado mais tinha maior
quantidade, nem aquele que tinha colhido menos encontrou menos" (Ex
16,18).
Mas a tendência à acumulação era e continua muito forte.
Fica difícil uma pessoa livrar-se dela totalmente. Ela renasce sempre no
coração humano. É com base nesta tendência que os grandes impérios da história
da humanidade se formaram. Ela está no coração da ideologia destes impérios.
Assim, cerca de 1.200 anos depois da saída do Egito, Jesus vai mostrar a
conversão necessária para a entrada no Reino. Ele disse ao jovem rico:
"Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres" (Mc 10,21). A mesma
exigência é repetida nos outros evangelhos: "Vendei vossos bens e dai
esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus,
onde o ladrão não chega nem a traça rói" (Lc 12,33-34; Mt 6,9-20). E
Mateus acrescenta o porquê dessa exigência: "Pois onde está o teu tesouro
aí estará também o teu coração" (Mt 6,21).
A prática da partilha e da solidariedade é uma das
características que o Espírito de Jesus, comunicado no dia de Pentecostes (At
2,1-13), quer realizar nas comunidades. O resultado da efusão do Espírito é
este: "Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam
terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o colocavam aos
pés dos apóstolos" (At 4,34-35a; 2,44-45). Estas esmolas recebidas pelos
apóstolos não eram acumuladas, mas "distribuía-se, então, a cada um,
segundo a sua necessidade" (At 4,35b; 2,45).
A entrada de ricos na comunidade cristã, por outro lado,
possibilitou uma expansão do cristianismo, dando melhores condições para o
movimento missionário. Mas, por outro lado, a acumulação dos bens bloqueava o
movimento da solidariedade e da partilha provocado pela força do Espírito de
Pentecostes. Tiago quer ajudar estas pessoas a perceberem o caminho equivocado
no qual estão metidas: "Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das
desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes
estão carcomidas pelas traças" (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do
Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou tudo
o que tinha, o necessário para viver (Mc 12,41-44).
Fonte; Cebi (Mesters e Lopes)
Um comentário:
Acho que isso só acontece na bíblia... se eu quero comprar algo de pedidosja que é bastante econômico, tenho que pagar um poco mais de 10 centavos...
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