"Para que as mulheres sejam “bem-sucedidas” em nossa sociedade, uma das coisas mais difíceis que elas têm que fazer é resistir às influências e às pressões das normas sociais (como a pressão de se preocupar mais com as questões domésticas do que os homens). Isso requer um esforço tremendo."
"Eu sempre acreditei que as mulheres se sacrificam mais do que os homens. As mulheres são, muitas vezes, estereotipadas como sendo sensíveis, mas esse não é necessariamente o melhor atributo para entrar em um jogo onde as regras são definidas principalmente pelos homens."
Recentemente, o blog Freakonomics solicitou aos leitores que
enviassem perguntas para Hanna Rosin, autora do novo livro “The End of Men (and
the Rise of Women)” (O Fim dos Homens – e a Ascensão das Mulheres, em tradução
livre). Aqui, agora, estão algumas de suas respostas.
Você poderia compartilhar suas ideias sobre como as mulheres são
afetadas por configurações sociais tendenciosas e por estereótipos? Quais são
suas sugestões para que joguemos fora todas essas amarras aparentemente
naturais?
As pesquisas respaldam o que você está dizendo. Em muitos
estudos feitos em laboratório, as mulheres são penalizadas por serem muito
agressivas e diretas – ou até mesmo por não serem prestativas. Pesquisadores da
Universidade de Nova York distribuíram duas avaliações descrevendo dois
candidatos diferentes, que eram considerados funcionários “fora de série” de
uma empresa do setor aeronáutico. As avaliações dos dois eram idênticas, mas um
candidato foi chamado de “Andrea” e o outro, de “James”. Os participantes da
pesquisa consideraram Andrea menos atraente e menos merecedora de uma promoção.
Eles presumiram que, devido ao fato de ser mulher, ela provavelmente deve ter
feito coisas bastante desagradáveis para chegar à posição em que se encontrava
em uma área de atividade dominada por homens.
E isso é muito deprimente. Mas há uma boa notícia. Alguns
pesquisadores da Harvard Kennedy School retornaram a essa questão no ano
passado e tentaram descobrir como as mulheres podem contornar esse problema. O
pensamento é o seguinte: atualmente estamos em um momento de transição, no qual
muito mais mulheres estão qualificadas e preparadas para avançar para a alta
gerência. Mas ainda há uma suspeita cultural em relação às mulheres
excessivamente dominantes. Então, como podemos contornar isso? Em meu livro eu
falo sobre as conclusões dos pesquisadores de Harvard. Em resumo, eles pensaram
em algumas fórmulas úteis que poderiam ajudar as mulheres a se defender, mas
não desencadeariam reações negativas. Esse tipo de especificidade, de
equilíbrio delicado, é irritante. Mas ele realmente funciona. Você vai ter que
ler o livro para saber mais detalhes!
Será que algumas de nossas posições a respeito da dinâmica
entre os gêneros mudaram depois de observarmos as consequências da crise
financeira, na qual a segunda onda de demissões parece ter afetado as funcionárias
públicas em sua maioria? Eu conheço várias professoras que, ou foram demitidas,
ou não são passíveis de serem recontratadas devido ao desemprego estrutural.
Essa é uma boa questão. As mulheres foram mais fortemente
impactadas pelos recentes cortes no setor público porque um número maior delas
trabalha no setor público – especialmente como professoras. Mas isso não altera
a tendência de longo prazo. Apesar da retórica republicana, o governo dos
Estados Unidos tem experimentado um crescimento constante ao longo das últimas
décadas, enquanto o setor manufatureiro vem passando por uma retração
constante. As mulheres ainda dominam 12 das 15 principais ocupações destinadas
a crescer nos próximos anos, segundo estimativas.
Em que medida você acredita que o número crescente de mulheres na força
de trabalho tem contribuído para a pressão sobre os salários? Será que
atualmente é muito mais difícil que uma família seja sustentada por um único
assalariado – seja ele homem ou mulher – do que foi para as gerações anteriores?
Será que algo deveria ser feito para mudar esse quadro? Em caso positivo, o quê
deveria ser feito?
Essa é uma excelente pergunta. As mulheres tendem a receber
menos do que os homens. E vários setores dominados por mulheres, que estão
posicionados na parte inferior da hierarquia econômica, não oferecem postos de
trabalho bem remunerados. Mas eu não tenho certeza se isso acabou por reduzir
os salários em geral, para homens e mulheres. Se alguém aí conhece algum bom
estudo a respeito desse tema, por favor me envie.
Eu não li o seu livro. Mas li trechos que foram publicados recentemente
na The New York Times Magazine, nos quais você argumenta que as mulheres se
adaptaram melhor à realidade de nossa economia global, pois, em muitos casos,
elas começaram suas carreiras sem grandes expectativas e estavam mais dispostas
a se adaptar quando necessário. Em alguns aspectos, especialmente para aqueles
profissionais posicionados mais abaixo na hierarquia econômica, a situação se
inverteu atualmente. Então, o que você acha que ocorrerá com a próxima geração?
Será que os jovens rapazes de hoje serão tão versáteis quanto as jovens
mulheres eram duas ou três décadas atrás? Será que as jovens mulheres de hoje
permitirão que suas carreiras e ambições as definam, o que as tornará avessas a
se adaptar caso sejam obrigadas a reduzir seus padrões?
Eu costumo acreditar, geralmente, que muitas dessas mudanças
têm a ver com circunstâncias históricas e não, digamos, com qualidades inatas.
Parte do motivo pelo qual as mulheres estão se adaptando é porque elas foram
marginalizadas – e os marginalizados tendem a ser mais flexíveis e adaptáveis.
Com frequência eu penso nos homens após a Segunda Guerra Mundial, que voltavam
para os EUA desesperados para se restabelecer, que foram beneficiados pela “GI
Bill” (conjunto de leis que oferecia aos veteranos norte-americanos
qualificados — e que estiveram em serviço ativo nas forças combatentes por,
pelo menos, 90 dias sem punição ou falta grave — quatro maneiras de aprimorar
suas condições socioeconômicas quando retornassem aos EUA) e correram para se
reinserir na economia. O modo mais mesquinho de colocar esse movimento é:
privilégios patriarcais te deixam preguiçoso. Mas os homens abriram seu caminho
com rapidez antes – e eles certamente o farão de novo. Pelo menos assim eu
espero.
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário