Os responsáveis pela comunidade
"Papa Giovanni", do padre Oreste Benzi, tinham dito às jovens que
havia uma surpresa, que um cantor famoso iria encontrá-las. No condomínio
anônimo na periferia norte de Roma, ninguém percebeu a chegada do Papa
Francisco. O carro entrou na garagem subterrânea, e o fizeram passar pelas
escadas internas.
Na saída, porém, Francisco passou
pela entrada principal, deixando atônitos os poucos transeuntes na rodovia
anônima, entre um posto de gasolina e um supermercado. "Mas esse é o
papa!", disse uma senhora com as sacolas de compras; outra lhe ecoou,
incrédula: "É o papa bom!"; e uma criança, que acompanhava a escolta
do pontífice, repetiu: "O papa me deu cinco beijos".
No apartamento que abriga as
ex-prostitutas, algumas pouco mais do que meninas, assim que o papa saiu,
começou a festa. Na pequena cozinha, há duas caixas de pizzas e um suco de
laranja. As voluntárias e as jovens se abraçam. Do outro quarto, ainda se ouvem
as palmas. Stefania, 22 anos, um nome falso para protegê-la, tem os olhos
brilhantes e leva uma das mãos ao coração. No corpo, ela tem as marcas da sua
história: o casal que a atraiu na Romênia, com a promessa de um emprego na
Itália, cortou-lhe parte das orelhas, arrancou-lhe os cabelos e feriu os seus
joelhos para forçá-la a se prostituir.
Eis a entrevista.
Quando você soube que o papa
viria?
Os responsáveis só tinham nos
avisado que viria uma pessoa importante, um cantor. Depois, vimos o papa, com o
seu hábito branco! Eu não consigo acreditar que, hoje, eu o abracei e cantei
com ele.
Ele falou com cada uma de vocês?
Sim, ele nos abraçou a todas e
nos pediu perdão. Disse que se desculpava no lugar de todos os homens que nos
fizeram mal, e nos agradeceu, porque nós o ajudamos.
Ele lhe perguntou a sua história?
Eu contei a ele como eu cheguei à
Itália. Eu lhe disse que não queria ser prostituta. Eu acreditei naquele casal
porque eram pessoas do meu país, tinham me assegurado que eu trabalharia como empregada
doméstica ou como babá. Em vez disso, me bateram para ficar nas ruas.
Como o papa reagiu ao seu relato?
Ele me escutou. Eu também lhe
mostrei as feridas que ainda tenho. Você vê as minhas orelhas? (Desloca os
cabelos que estão crescendo novamente e mostra as orelhas mutiladas.) Depois,
ele me abraçou e me deu um terço e um envelope.
O que tinha no envelope?
Nós ainda não os abrimos, não
sei, mas não quero dizer, porque é um presente nosso, algo que o papa nos deu,
a cada uma de nós.
Como você chegou à comunidade do
padre Benzi?
Eles me ajudaram a denunciar os
exploradores e, depois de ter sido hospitalizada por um mês, eles me
perguntaram se eu queria ficar em uma das casas deles, porque eu precisava de
um lugar seguro. Eu tinha muito medo, temia que alguém fizesse mal à minha
família. Agora, também encontraram um trabalho para mim. Sou uma pessoa
renascida, recomecei a viver como se fosse uma criança.
Você disse isso ao papa?
Sim, e ele me disse para ter
confiança, para seguir em frente. Ele me disse que eu fui corajosa e devo
continuar.
Você é religiosa? Vai à igreja?
Isso não tem nada a ver. Aqui, há
cristãs evangélicas, católicas e pessoas que não falam da sua religião. Nas
comunidades "Papa Giovanni XXIII" não nos perguntam se somos fiéis.
Todas nós tivemos a mesma emoção, porque esse papa é uma pessoa especial.
Quando ele nos abraçou, pensamos que, finalmente, tínhamos voltado a ser
mulheres normais, esquecemos por que estamos aqui.
* * *
O rosto de Stefania volta a ser
impenetrável. Enquanto falava, apesar de alguns meio sorrisos, os olhos sempre
estavam baixos. Eles se iluminaram apenas quando falou sobre a chegada na casa
do padre Benzi. "Desculpe, desculpe, estou muito emocionada",
encerrou e voltou a festejar com as outras.
Fonte: Ihu
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