domingo, 14 de agosto de 2016

Em chamas

O que entendeu Jesus atua movido pela paixão e aspiração de colaborar numa mudança total. O verdadeiro cristão leva a «revolução» no seu coração. Uma revolução que não é «golpe de estado», mudança qualquer de governo, insurreição ou relevo político, mas sim busca de uma sociedade mais justa.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 12,49-53 que corresponde ao 20° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto

São muitos os cristãos que, profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o cristianismo como uma religião que, invariavelmente, deve preocupar-se em manter a lei e a ordem estabelecida.

Por isso, resulta tão estranho escutar da boca de Jesus expressões que convidam não ao imobilismo e conservadorismo, mas à transformação profunda e radical da sociedade: «Vim trazer fogo ao mundo e oxalá estivesse já a arder...”. Pensais que vim trazer ao mundo paz? “Não, mas sim divisão”.

Não nos resulta fácil ver Jesus como alguém que traz um fogo destinado a destruir tanta mentira, violência e injustiça. Um Espírito capaz de transformar o mundo, de forma radical, mesmo à custa de enfrentar e dividir as pessoas.

O crente em Jesus não é uma pessoa fatalista que se resigna ante a situação, procurando, acima de tudo, tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a atual ordem das coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor. Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.

O que entendeu Jesus atua movido pela paixão e aspiração de colaborar numa mudança total. O verdadeiro cristão leva a «revolução» no seu coração. Uma revolução que não é «golpe de estado», mudança qualquer de governo, insurreição ou relevo político, mas sim busca de uma sociedade mais justa.

A ordem que, com frequência, defendemos, é ainda uma desordem. Porque não conseguimos dar de comer a todos os esfomeados, nem garantir os seus direitos a todas as pessoas, nem sequer eliminar as guerras ou destruir as armas nucleares.

Necessitamos de uma revolução mais profunda que as revoluções econômicas. Uma revolução que transforme as consciências dos homens e dos povos. H. Marcuse escrevia que necessitamos de um mundo «em que a competição, a luta dos indivíduos uns contra os outros, o engano, a crueldade e o massacre já não têm razão de ser».

Quem segue Jesus, vive procurando ardentemente que o fogo aceso por Ele arda cada vez mais neste mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação radical: «só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é verdadeiramente a revolução» (E. Mounier).


Fonte: Ihu

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