Lilia Sebastiani analisa como as
interpretações das escrituras sobre Madalena vão transformando a personagem e
dificultando a compreensão plena do anúncio feito por ela
Para a teóloga Lilia Sebastiani,
não se pode falar apenas “na” história de Maria Madalena porque são várias as
histórias que se criam em torno da personagem bíblica, embora muitas delas
sejam interpretações – por que não dizer até misóginas – de quem não vai de
fato na exegese do que está na escritura.
“A história do mito da Madalena na
Igreja ocidental é a história de uma grande falsificação, mantida por séculos”,
dispara, ao se referir à associação de Madalena tanto com a pecadora quanto com
a irmã de Lázaro. “A história da Madalena pré e pós-evangélica, popularizada
pela Legenda Áurea de Jacopo da Varazze, completamente fantasiosa, cheia de
elementos aventureiros e patéticos, obteve grande sucesso”.
Na entrevista a seguir, concedida
por e-mail à IHU On-Line, Lilia comemora o resgate que vem tendo a essência da
personagem. Entretanto, lamenta o fato de isso ocorrer ainda em poucos círculos,
como apenas entre teólogos. “Hoje, o mal-entendido foi superado, na teoria, mas
persiste ainda fortemente na mentalidade. Quem não tem conhecimento dos
Evangelhos, e ouve falar de Maria Madalena, ainda pensa na mulher de vida
fácil, que de alguma maneira se arrependeu, e não na discípula predileta, e não
na apóstola da Ressurreição”, explica.
Lilia Sebastiani é formada em
Literatura Moderna pela Universidade de Roma "La Sapienza", com
doutorado em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana, Instituto Superior de
Teologia Moral na Universidade Lateranense. Também é colunista e professora de
Teologia. Entre suas publicações, estão: Morale personale (Piemme, 1991);
Tra/Sfigurazione ‑ Il personaggio evangelico di Maria di Magdala e il mito
della peccatrice pentita nella tradizione
occidentale (Queriniana, 1992); Donne dei Vangeli (Paoline, 1994); Maria ed
Elisabetta: icona della solidarietà (Paoline, 1996); Il terzo cielo: l’ultimo
anno di Iacopone da Todi (romanzo teologico) (Paoline, 2000); Nella notte mi
istruisci. Il sogno nelle Scritture sacre (Pazzini Editore, 2007); Svolte: il
ruolo delle donne negli snodi del cammino di Gesù (Cittadella Editrice, 2008);
Il frutto dello Spirito (Cittadella Editrice, 2010). Entre seus livros
publicados no Brasil, estão: Maria e Isabel - Ícone da Solidariedade (São
Paulo: Paulinas, 1998) e Maria Madalena: de Personagem do Evangelho a Mito de
Pecadora Redimida (Rio de Janeiro: Vozes, 1995).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como Maria Madalena
é construída simbolicamente pelos evangelistas? Quais as semelhanças e
distinções que emergem dos quatro Evangelhos?
Lilia Sebastiani - Uma construção
simbólica houve. A responsabilidade não é dos evangelistas, mas, antes, da
tradição da Igreja, depois das primeiras gerações, por meio de um processo,
somente em parte intencional. De acordo com os evangelistas, Maria Madalena é
uma discípula de Jesus, desde o início (Lc 8,1-3, confirmado brevemente por
Marcos e Mateus, que citam as mulheres presentes sob a cruz, as que "o seguiam
e serviam" desde a Galileia).
Ela está presente na morte e na
sepultura de Jesus, dirige-se ao túmulo de madrugada, no primeiro dia da
semana. Sobre isso os evangelistas estão de acordo, mas em todos os outros
detalhes são diferentes. Não concordam no nome e no número das mulheres
presentes na experiência. Mateus e João falam do encontro do Cristo
Ressuscitado com Maria Madalena (junto com a outra Maria, Mt 28,1-10, com ela
sozinha em Jo 20,1-18), Lucas e Marcos não: a Ressurreição é anunciada por seres
celestiais junto ao túmulo.
Em Mateus, Lucas e João temos o
anúncio trazido pelas mulheres; em vez disso, de acordo com a estranha
conclusão original de Marcos (Mc 16,1-8; Mc 16,9-16 é uma adição tardia com
elementos lucanos e joaninos), as mulheres "não disseram nada a ninguém,
porque estavam com medo". De acordo com a história de Jo 20,1-18, Maria é
a primeira a encontrar Jesus ressuscitado e recebe dele o encargo de anunciar a
Ressurreição para os outros discípulos.
Maria Madalena é a mulher mais
importante e mais presente durante a vida pública de Jesus, como se compreende
também pelo número de passagens do Evangelho em que é nomeada, sempre em
primeiro lugar, entre as mulheres que o seguem. A exceção é em Jo 19,25-27. A
precedência não é sem significado nos Evangelhos (o primado de Pedro é
confirmado pelo fato de que seu nome sempre precede ao dos outros discípulos
homens).
Mal-entendidos
O mal-entendido com relação à
Madalena que ocorrerá mais tarde se dá principalmente devido a uma
identificação infundada com a pecadora galileia, que entra numa casa, enquanto
Jesus estava à mesa, lava seus pés com lágrimas (de arrependimento? ou de
alívio e gratidão?), seca-os com seus cabelos, ungindo-os com perfume (Lc
7,36-50). Da pecadora do Evangelho, Lucas não diz o nome. Não há nada a sugerir
uma combinação com Maria Madalena, nomeada pela primeira vez no capítulo
seguinte, num contexto totalmente diferente.
As coisas complicaram-se de novo
quando Maria Madalena foi identificada com a mulher que ungiu Jesus (porque no
episódio de Lucas se fala de uma unção realizada com perfume), que em Mateus e
Marcos permanece anônima, enquanto para o quarto evangelista é Maria de
Betânia, irmã de Marta e Lázaro. Assim, Maria de Betânia tornou-se Maria
Madalena ... "depois de curada". E três importantes e diferentes
figuras femininas fundiram-se numa só, perdendo muito de veracidade, nitidez e
significado. O mal-entendido permaneceu quase imperturbado no Ocidente, por
pouco menos de mil e quinhentos anos. Já o Oriente cristão sempre distinguiu as
três mulheres evangélicas.
IHU On-Line - Como entender as
passagens que se referem a Maria Madalena como a mulher de quem Jesus expulsou
sete demônios? Por que não há relatos do episódio deste exorcismo?
Lilia Sebastiani - Trata-se de
uma única passagem: o pequeno registro de Lc 8,2 significa que tinha sido
doente e tinha sofrido muito. Dizer "muito", não é uma afirmação
gratuita: na cultura judaica, demônios não estavam relacionados à tentação
(como acontece na tradição cristã com a figura do diabo), mas, sim, com a
doença, especialmente se inexplicável e incurável, se impede a pessoa de
relacionar-se, tirando-a de seu centro. Além disso, o 7 é o número da
plenitude.
Por que o evangelista não narra o
exorcismo? Provavelmente porque ele próprio não sabia exatamente o que tinha
acontecido - não era uma testemunha -, mas apenas ouviu falar sobre isso, na
fase de transmissão oral. Vários outros exorcismos são narrados nos Evangelhos
(não relacionados às mulheres, se prescindimos da filha da mulher siro-fenícia
ou cananeia, que de qualquer modo será curada a distância, “fora do palco”), e,
por isso, talvez, não se sente a necessidade de contar outro. E, especialmente,
porque o propósito de Lucas não é informar-nos exaustivamente sobre Maria
Madalena e os acontecimentos da sua vida, mas apontar-nos a salvação de Deus,
que através do evento Jesus, atinge os seres humanos.
IHU On-Line - O que se sabe da
Madalena antes de Cristo? E qual teria sido seu destino depois da crucificação?
Lilia Sebastiani - Desculpe-me se
respondo em termos estritamente evangélicos, por isso, bastante sobriamente. De
Maria Madalena, de fato, foram ditas tantas coisas (demais), mas quase todas
relacionadas à lenda ou à imagem pseudoevangélica das três faces. Os Evangelhos
não dizem muito, mas o que dizem é suficiente, pelo menos, para aqueles que
sabem ler, e sabem ver uma pessoa e uma história absolutamente extraordinárias.
De sua vida anterior ao encontro
com Jesus, uma só coisa se sabe: sua doença. No encontro com Jesus ela encontra
autenticidade, liberdade, e discerne o plano de Deus a seu respeito. Quanto ao
"depois", devemos ter a coragem de admitir que simplesmente nada
sabemos. Maria Madalena desaparece do Evangelho com o anúncio das palavras da
Páscoa: "Eu vi o Senhor" (Jo 20,18). Talvez, depois de tal conclusão,
é difícil encontrar alguma outra coisa para dizer.
Todo o resto é lenda. Segundo uma
tradição difusa no cristianismo do Oriente, ela teria passado o resto de sua
vida em Éfeso, junto à mãe de Jesus e o Discípulo Amado. Segundo outra
tradição, difusa no Ocidente, e considerada confiável até o século XIX, fugida
da Terra Santa, junto com alguns seguidores de Jesus, para escapar à primeira
perseguição dos Judeus. Assim, teria desembarcado na Gália e ali teria vivido
até sua morte, em penitência. Seu culto era muito vivo na França, especialmente
em Vézelay, na Borgonha, e no mosteiro beneditino de Sainte-Baume, perto de
Marselha.
IHU On-Line - Há inúmeras
passagens que narram Jesus Cristo entre as mulheres, mesmo na sociedade
patriarcal da época. Que mensagem o Cristo quer passar? O que sua relação com
Madalena revela dessa mensagem? Como essa mensagem é recebida entre os primeiros
cristãos?
Lilia Sebastiani - Não diria que
Jesus prega "entre as mulheres". Jesus não se comporta de acordo com
categorias, como muitas vezes tendemos a fazer. Seu ensinamento é dirigido, em
certos casos, à multidão que o segue mais ou menos numerosa, formada por homens
e mulheres. Outras vezes, ao grupo de discípulos habituais, também este formado
por mulheres e homens. Em casos mais raros, a um pequeno grupo ou a uma só
pessoa - que pode ser masculino ou feminino. Jesus nunca aborda a questão das
mulheres em termos teóricos: não fala sobre a condição da mulher, nem daquilo
que devem fazer ou não fazer "como mulheres". Ele olha para as
mulheres na singularidade de sua condição de pessoas. Jesus atua e vive a
igualdade, com uma naturalidade absoluta, que parece mesmo nem precisar de
explicações, e que é um dos aspectos mais perturbadores de seu evento, um dos
que mais manifestam a novidade do Reino.
Jesus não evita tocar nas
mulheres com doença (ou mortas, como a filha de Jairo, 12 anos), nem de ser
tocado por elas. A mulher que sofria de perda de sangue, permanentemente
impura, toca em segredo - e assim torna-o impuro também, sem que ele soubesse,
uma culpa gravíssima diante da Lei... -, porém, quando o gesto é revelado,
Jesus não repreende a transgressão, mas, ao contrário, elogia a sua fé. Quando
lhe trazem a mulher apanhada em adultério, Jesus, quase provocadoramente, não
se pronuncia sobre o pecado, mas convida seus interlocutores a examinarem-se
interiormente. Jesus confia a Maria Madalena, a discípula mais fiel, e que o
amou mais do que todos os outros, a missão de autoridade fundamental, de
anunciar aos outros discípulos sua vitória sobre a morte e seu retorno ao Pai.
Para as primeiras gerações
cristãs, ser testemunha e anunciadora do Ressuscitado foi o principal título de
glória de Maria Madalena. Os Padres da Igreja recorrem, frequentemente, ao
regime "per feminam mors – per feminam vita", contrastando Maria
Madalena e Eva, responsável pela queda dos primeiros pais. Mas, em algum
momento, a mulher da vida passará a ser Maria, a mãe de Jesus (aqui também, o
mesmo nome), que terminará absorvendo, gradualmente, toda possível feminilidade
positiva.
IHU On-Line - De que forma é
possível enfrentar o problema da mulher, da feminilidade, no cristianismo, através
da história de Maria Madalena?
Lilia Sebastiani - Em primeiro
lugar, é preciso distinguir: qual história? Aquela da discípula predileta de
Jesus que, curada por ele, segue-o fielmente até a cruz e o sepultamento,
encontra-se junto ao túmulo no amanhecer do terceiro dia, que teve a
experiência única e indescritível da vitória sobre a morte - experiência que,
por encargo recebido, ela deverá anunciar aos outros? Ou a história da lendária
“Superpecadora”, cheia de todos os pecados possíveis (todos de ordem sexual,
nem precisa dizer, tratando-se de mulher!), perdoada e convertida, à custa de
rios de lágrimas e abismal senso de indignidade e penitência, então, prolongado
absurdamente por trinta anos depois da ressurreição de Jesus, depois de receber
a missão de testemunhá-la?
Maria Madalena sempre foi amada
pelo povo cristão, "caluniada e glorificada" (G. RAVASI) , mas seu
personagem fictício ajudou a penalizar as mulheres e a exorcizar um seu
possível e temido papel de autoridade na comunidade de fé. Uma Superpecadora
arrependida reentra nos esquemas, até mesmo os reforça. Uma discípula favorita,
ao contrário, enviada em missão apostólica aos próprios apóstolos, parece
subversiva e perturbadora.
IHU On-Line - Em que medida a
construção de Madalena como pecadora redimida, ou mulher exorcizada, e que
chega a ser considerada a apóstola dos apóstolos, tem um caráter pedagógico,
potente, em termos de conversão cristã? E por que uma mulher nesse papel e não,
por exemplo, um homem?
Lilia Sebastiani - A história do
mito da Madalena na Igreja ocidental é a história de uma grande falsificação,
mantida por séculos, em que o dado bíblico (isto é, o erro de identificá-la com
a anônima pecadora galileia, e em seguida com a irmã de Lázaro) era sustentado
por motivos psicológicos e simbólicos, que escapavam à consciência.
A história da Madalena pré e
pós-evangélica, popularizada pela Legenda Áurea
de Jacopo da Varazze , completamente fantasiosa, cheia de elementos
aventureiros e patéticos, obteve grande sucesso. Retomada constantemente pelos
pregadores, teve grande influência na arte sacra e era considerada quase
histórica nos círculos católicos, pelo menos até o século XIX. Hoje, o
mal-entendido foi superado, na teoria, mas persiste ainda fortemente na
mentalidade. Quem não tem conhecimento dos Evangelhos, e ouve falar de Maria
Madalena, ainda pensa na mulher de vida fácil, que de alguma maneira se
arrependeu, e não na discípula predileta, e não na apóstola da Ressurreição!
Certo, o motivo consciente pelo
qual, por muito tempo, acentuou-se a fisionomia penitente, possuía também um
propósito pedagógico-pastoral: exortar os pecadores a confiar no perdão e mudar
de vida. Mas, como você disse, não havia personagens masculinos mais adequados
para expressar a conversão do pecado? Pensemos em Zaqueu, ou mesmo em Pedro,
que nega Jesus, mas nem por isto foi negado por Ele; ou em Judas, por muito
tempo coberto de infâmia e destinado ao inferno, mas que a reflexão dos nossos
dias está produzindo resultados de grande interesse.
O fato de colocar uma mulher como
símbolo do pecado e da penitência, deformando gratuitamente sua fisionomia
evangélica, é uma operação extremamente ideológica.
IHU On-Line - Como analisa os
movimentos da Igreja hoje, em especial do Papa Francisco, com relação à figura
de Madalena?
Lilia Sebastiani - Em termos
gerais, eu diria que, até agora, apesar do avanço nos estudos bíblicos,
percebe-se uma significativa desconexão entre o plano das ideias e o plano da
mentalidade, entre teologia e reações instintivas. A ideia tradicional da
prostituta arrependida foi superada pelos teólogos, na Igreja Católica, pelo
menos desde meados do século XX (nas igrejas reformadas, com algumas décadas de
antecedência, sendo menor o peso da tradição, e mais difusa a leitura e a
reflexão pessoal dos textos bíblicos). Mas a arte sacra, e também, no último
século, muitos filmes sobre a vida de Jesus (em que Maria Madalena sempre
aparece como ex-pecadora, mais enamorada que convertida) exerceram grande
influência, especialmente naqueles que nunca leram os Evangelhos.
A iniciativa do Papa Francisco
(Decreto de 03 de junho de 2016) de elevar a memória litúrgica de Maria
Madalena à festa, como dos Apóstolos, que eu saiba, é inesperada, o que acentua
seu valor profético. Inscreve-se na teologia dos gestos, mais do que das
inovações doutrinais, e será lembrada como dos aspectos mais significativos de
seu pontificado.
O termo apóstola, pela primeira
vez foi usado, de forma oficial, em referência a Maria Madalena: na verdade
"apóstola dos apóstolos". Para quem conhece um pouco a língua
hebraica e o modo como se formam os superlativos, a expressão se enriquece de
alguma ressonância posterior: é como se o texto quisesse dizer "a maior,
entre todos os apóstolos".
IHU On-Line - O que Madalena
representa para a senhora?
Lilia Sebastiani - O papel de
Maria Madalena, na vida terrena de Jesus e na Ressurreição, é absolutamente
único, e sua figura é agora para nós uma espécie de ícone de referência. Mas um
ícone que foi uma pessoa viva, verdadeira, embora não conheçamos muitas coisas
sobre ela, ou os conhecimentos foram deformados.
Então, gostaria de acrescentar a
reflexão que já acenei em 1992, no primeiro livro dedicado a este tema (cf.
SEBASTIANI, L. Tra/Sfigurazione: il personaggio evangelico di Maria di Magdala
e il mito della peccatrice redenta nella tradizione occidentale. Brescia:
Queriniana, 1992. 287p.). A apóstola envolta na luz da Ressurreição, cujo ardor
do anúncio enxugou as lágrimas, que bate numa porta fechada e com os homens
fechados, por medo, lá dentro, que repete “o Senhor está vivo”, cumpriu sua
missão. Mas na história, sua missão ainda não terminou, porque o anúncio ainda
não foi acolhido em plenitude. Aqueles homens que, talvez, não abriram logo a
porta, cheios de sentimentos de derrota e desespero, não acreditaram, não
tiveram a experiência do Espírito, pois aquela que fala é “apenas uma
mulher", e o anúncio da Ressurreição (o sabemos por Lucas) foi recebido,
no início, como um disparate... Talvez o anúncio de Maria Madalena estará ainda
em vigor, até o fim dos tempos, até quando não haverá mais portas fechadas
devido ao medo.
É um anúncio in progress.
Portanto, a decisão do Papa Francisco
é uma etapa importante, na minha opinião, não só para história do culto de uma
santa, mas para o devir do anúncio Pascal.
Fonte:
Ihu
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