Fotos da cineasta Helen Ramos, 29
anos, mãe de um menino de 2 anos.FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.
As mães precisam de ajuda e nem
todo mundo percebe isso. A rotina é tão cansativa e diferente da mostrada em
propagandas que algumas chegam a esquecer os filhos em locais públicos ou
permitem que eles durmam em suas camas por falta de energia para fazê-los dormir
sozinhos. Elas não querem o rótulo de “mães perfeitas”, que têm dedicação
exclusiva às crianças: a mãe brasileira se define como alguém que “ama seus
filhos, mas também ama o seu trabalho, seu parceiro e tem outros objetivos na
vida”.
O perfil foi traçado pela
pesquisa A Nova Mãe Brasileira, feita pelo Instituto Qualibest e pelo site
Mulheres Incríveis. Foram ouvidas 1.317 mil mães, todas com mais de 18 anos –
81% delas têm de um a dois filhos.
Dois terços das mães brasileiras
consideram a rotina difícil, exaustiva ou impossível. Apenas 9% dizem se
identificar com a imagem da mãe que aparece na mídia e 70% também afirmaram que
se sentem julgadas ou cobradas.
“Chamou-nos a atenção que, quando solicitamos
às entrevistadas que fizessem um pedido, 40% disseram querer ajuda nas
atividades domésticas”, afirma a jornalista Brenda Fucuta, idealizadora da
pesquisa. “Ela quer mais ajuda para cuidar da casa do que dos filhos: isso
mostra que ser mãe é difícil, mas a grande questão é resolver a administração
da casa.” O desafio atual da mãe brasileira parece ser envolver o cônjuge e as
crianças nas tarefas domésticas.
Atitudes
A pesquisa perguntou às mães se
elas já tomaram alguma atitude com os filhos que consideram constrangedora ou
vergonhosa. “Dei umas palmadas”, responderam 33%. “Deixei ele ficar assistindo
TV ou vídeos na internet para eu poder descansar, dormir ou fazer alguma outra
atividade do meu interesse” (28%), “Ofereci comida industrializada” (21%), “Já
ameacei ir embora de casa e deixá-lo para outros cuidarem” (15%), “Já dei uma
surra” (10%), “Já dei remédio para que ele se acalmasse” (3%), “Deixei-o
trancado sozinho em casa” (2%), “Esqueci-o numa loja ou na escola” (2%).
De certa forma, os dados da pesquisa
mostram que há uma discrepância entre o discurso-padrão da maternidade sonhada
com a vida real enfrentada pelas mães, em que dificuldades se somam aos
prazeres. Foi por vivenciar isso na pele que a publicitária Luciana Cattony, de
38 anos, decidiu criar o site Maternidade Real. Ela é mãe de Henrique, de 5
anos. “Quero dar leveza e alegria para as mães, mas ninguém fala sobre o lado
difícil da maternidade. Isso também é importante.”
Desde maio, a cineasta Helen
Ramos, de 29 anos, “desromantiza” a maternidade em seu canal Hel Mother, no
YouTube. As experiências com o filho Caetano, de 2 anos, estão entre os temas
abordados. “Ninguém chegava antigamente e até recentemente para falar que a
amamentação será difícil, todo mundo só falava que é o maior amor do mundo.
Depois que eu tive filho, percebi como foi importante saber a verdade.”
Helen diz que é fundamental que
mais mulheres falem sobre suas dificuldades e consigam pedir ajuda para as
pessoas que estão ao seu redor. “Não conheço nenhuma mãe que não ame seu filho
acima de qualquer coisa, mas todas têm algo para desabafar”, disse Helen.
A designer e ilustradora Thaiz
Leão, de 26 anos, mãe de Vicente, de 2, chegou à maternidade com as referências
de “mãe ideal” passadas por filmes e propagandas, e se deparou com uma situação
completamente diferente. “Eles mentiram para mim, pelo menos em parte. Eu não
sabia que iria dormir tão pouco, eu não sabia que um bebê tinha tantas
necessidades e que, para algumas delas, eu seria impotente. Eu achava que
estaria no controle, mas esquece, não havia controle algum. Com o tempo
descobri que não tinha energia para criar uma pessoa inteira sozinha. É preciso
muita gente. Todo dia.” Foi assim que ela resolveu fazer ilustrações sobre o
tema e criou a página Mãe Solo.
Realidade. “As famílias que
aparecem na mídia para vender margarina trabalham com a imagem da família e
mães ideais. Mas a família real não é assim o tempo todo. Existem conflitos,
separações e todos os outros sentimentos, porque são seres humanos. Se o meu
real está muito longe disso, gera um conflito com consequências diferentes para
as diferentes pessoas”, avalia a psicóloga Ceneide Maria de Oliveira Cerveny,
professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e autora do livro A
Família como Modelo.
Gabriela Malzyner, professora do
curso de formação em psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP/SP),
diz que as mães não precisam buscar uma fórmula para exercer a maternidade. “A
mãe tem de trabalhar, sair com o marido e com os amigos. Essas trocas são
importantes, porque o bebê tem de entender que ele não é o único interesse da
mãe, isso pode ser nocivo para ambos.
Fonte: O Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário