terça-feira, 21 de abril de 2015

Prostituição ‘matinal’ avança pela orla da lagoa da Pampulha


Presença das garotas de programa é maior perto do Museu de Arte, na altura do bairro Jardim Atlântico.

No calçadão, ciclistas, corredores, adeptos da caminhada e famílias que só querem aproveitar o cenário. Do outro lado da avenida Otacílio Negrão de Lima, garotas de programa que não se importam com a claridade das manhãs. A prostituição na orla da lagoa da Pampulha não é novidade, mas segundo moradores, tem aumentado, principalmente em horários pouco convencionais.

A maior parte delas fica próximo ao Museu de Arte, que sediou, em dezembro passado, a cerimônia do anúncio oficial da candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha ao título de patrimônio cultural da humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na última terça-feira, por volta das 11h, a reportagem esteve no local e constatou ao menos dez prostitutas em uma extensão de 3 km, uma delas a 50 m de uma delegacia de polícia.

A bancária Sanja Corrêa, 30, costuma pedalar diariamente na orla e sempre estranha a presença das mulheres. “Já vi umas cinco no caminho. Eu não me incomodo, mas acho estranho, porque a lagoa é turística e é um lugar bem familiar”, afirmou Sanja. Um comerciante da região, que pediu para não ter a identidade revelada, confirmou vê-las com frequência na altura do bairro Jardim Atlântico. “Tem gente que acha ruim, acha errado. Eu não ligo”.

Discrição. Algumas destoam do vestuário de quem se exercita na região, pois usam saia, casaco ou calça comprida. Outras já estão com roupa de academia, para onde vão no fim da tarde ao largar o trabalho, como apurou a reportagem. Cobrando R$ 50, R$ 70, R$ 80 ou até R$ 100, elas têm em comum a atenção dos motoristas que passam pela avenida e recorrem ao serviço em motéis da avenida Portugal e outros da própria região.

“Já faz tanto tempo que isso ocorre que até me acostumei. Elas não trazem nada de problema, só me incomoda porque choca um pouco”, disse a aposentada Maria Auxiliadora Freitas Castro, 75, moradora da orla. É o que pondera Flávio Marcus Ribeiro de Campos, presidente da Associação Amigos da Pampulha (Apam). “Incomoda porque as crianças ficam expostas a isso, às vezes você vê as garotas e as travestis fazendo gestos, é um problema antigo que está aumentando. Gostaríamos que fosse encontrada uma solução comum, um consenso entre as partes”.

Responsável pelo patrulhamento da região, o tenente Israel Gonçalves, da 15ª Cia da Polícia Militar, informou que a situação não é passível de intervenção policial por estar respaldada juridicamente. “Não fazemos nada enquanto elas obedecem às normas penais e legais. Atuamos quando há algum distúrbio de paz”.



Pesquisa

Visão. Para a doutoranda em direito Cynthia Semíramis, “o imaginário popular associa erroneamente sexo a atividades ilícitas. As prostitutas não querem ser confundidas com quem comete crimes”.


Fonte: O Tempo

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