quinta-feira, 23 de abril de 2015

Luta pelo fim da revista íntima

Sozinha, a advogada Jamine Gonçalves Bedram, 31, decidiu comprar uma briga com o governo de Minas Gerais, depois que sua empregada doméstica passou a frequentar um presídio para visitar o filho. A mulher apresentou problemas de saúde após ser submetida às revistas íntimas na unidade prisional. Um abaixo-assinado será entregue à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e à Corregedoria do Estado, em breve, pelas mãos da advogada.

O documento reúne assinaturas de mães de presos que frequentam o presídio de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, e reclamações da maneira como elas são tratadas pelos agentes penitenciários durante o período dos encontros.


Revolta. Jamine Bedram assumiu a causa após sua funcionária ficar doente por visitar o filho em presídio

“Vou apresentar essa reclamação conjunta ao Estado e, se nada for feito, vou entrar na Justiça, porque essas mães estão ficando depressivas”, explica Jamine, que passou a acompanhar a rotina de visitas de perto, pois assumiu a defesa do filho da funcionária. A comoção diante dos depoimentos, choros e tremores da empregada doméstica impulsionou a iniciativa.

O que talvez Jamine não saiba é que a briga por uma mudança no método de revista aos visitantes dos presídios é antiga.

“Nós já procuramos o Estado várias vezes, e nada foi feito até agora. A revista íntima é muito constrangedora. As mães (o mesmo se aplica a mulheres e filhas) precisam ficar completamente nuas e são obrigadas a se abaixarem seis vezes (três de frente e três de costas) na frente da agente penitenciária, em cima de um espelho, exibindo as partes íntimas. Também é pedido que façam força, como se estivessem parindo uma criança, com intuito de verificar se não há nada escondido lá dentro”, explica Maria Teresa dos Santos, 55, presidente da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade (GAFPPL).

Segundo Maria Teresa, uma revista íntima dura em torno de dez minutos, e o tratamento dado aos familiares não é respeitoso. “Recebemos, em média, 60 denúncias por mês na associação, de visitantes que relatam algum tipo de desrespeito”, diz.

O presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de Minas Gerais (Sindasp-MG), Adeilton Rocha, defende que as revistas ainda são necessárias, uma vez que nem todas as unidades prisionais contam com o body scan – equipamento de raio X corporal – para evitar a revista íntima.

“As pessoas precisam entender que estão sendo revistadas não para entrar em um cinema, e sim em uma prisão. Precisamos garantir a integridade física dos visitantes, dos presos e dos agentes. Nós também queremos alternativas a essas revistas, que nem sempre são pacíficas”, comenta.

Para Rocha, esse é um debate “sério”, que precisa ser considerado, uma vez que a superlotação nos presídios aumenta o fluxo de visitantes nas unidades prisionais. “Só não aumenta o número de agentes”, finaliza.


Fonte: O Tempo

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