quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Prostituição em Fortaleza, no entorno do Castelão, segue após a Copa

O local de trabalho permanece o mesmo de seis meses atrás, período de efervescência da Copa do Mundo. Antes mesmo do megaevento esportivo, a extensão da Avenida Juscelino Kubitschek, nos arredores da Arena Castelão, já se configurava como um dos principais pontos de prostituição da Capital.


O assunto ganhou destaque em diversos meios de comunicação, que publicaram matérias e reportagens à época do campeonato, mostrando a situação na avenida do bairro Passaré. Os destaques indicavam que, em plena luz do dia, não era difícil encontrar casos de exploração sexual infantil e pessoas que se prostituiam até mesmo por R$10,00, um prato de comida ou por pedras de crack.

O número de pessoas que oferecem serviços sexuais às margens das calçadas, contudo, parece ter sofrido uma queda. Na noite da última terça-feira (6), a equipe de reportagem percebeu a presença de cerca de dez prostitutas na extensão do logradouro. A maioria delas, travestis, que dizem comparecer ao local entre as terças-feiras e sábados.

"O movimento está ruim, janeiro é mais fraco. Os gringos já estão se preparando para o Carnaval e a movimentação maior é nas praias de Cumbuco e Paracuru", conta uma das profissionais.

Se não há espaço para a timidez, a decepção pela falta de clientela é o mote para as palavras de uma outra travesti. Com as próteses de silicone à mostra, lembra do período lucrativo que vivenciou nos meses de junho e julho do ano passado.

"Aqui não parava. Vinha gringo o tempo inteiro, chovia de espanhóis e mexicanos. A gente cobrava R$250, mas podia chegar até R$300. Hoje o programa sai por R$70,00, e é só mesmo com o movimento dos carros".

Perigos

As prostitutas reclamam ainda dos riscos que correm durante a noite, principalmente no que diz respeito à violência. "Aqui, tem muitos usuários de drogas que tentam roubar a gente, levar nossa bolsa. Já aconteceu inclusive comigo e cheguei a ser agredida", uma das mulheres conta, mostrando a cicatriz nas costas, resultado de um assalto enquanto trabalhava.

A assistente social da Organização Não-Governamental (ONG) Barraca da Amizade, Ivânia Andrade, confirma que a movimentação da prostituição nas adjacências do estádio de fato diminuiu em relação ao período da Copa do Mundo. Além disso, há poucos adolescentes em situação de exploração sexual, como acontecia com maior frequência à época do mundial.

A ONG Barraca da Amizade realiza um trabalho de proteção de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social, sendo um dos focos a exploração sexual e a prostituição. O diagnóstico da diminuição das atividades na região do bairro Passaré é feito a partir da observação e do trabalho de abordagem realizado pela própria associação.

"Percebemos que são geralmente as mesmas pessoas que encontramos naquela região. Os contatos mais novos que conseguimos iniciar foi com pessoas adultas se prostituindo, não de adolescentes", informa Ivânia.

A assistente social segue informando que o perfil mais facilmente encontrado é de pessoas com escolaridade muito baixa, o que acaba dificultando o encaminhamento em busca da integração social daqueles que se prostituem.

"A maioria não tem um documento de identidade, ou mesmo uma certidão de nascimento. Quando chegamos no histórico familiar, geralmente já encontramos outras vulnerabilidades. Um dos nossos grandes problemas é que não tem emprego para essas pessoas. Sempre pedem alguma experiência ou escolaridade que muitos não possuem", acrescenta.

Assistência

Na tentativa de oferecer novas alternativas e o acesso a direitos essenciais, a Barraca da Amizade procura fazer parcerias. Uma delas, como o Centro de Referência LGBT Janaína Dutra, que faz parte da Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza, deve ter início neste mês, para divulgar o trabalho do próprio órgão na efetivação dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

A associação deve receber também o apoio da Secretaria Regional V da Prefeitura Municipal de Fortaleza, facilitando a realização de exames e serviços médicos.


"É um trabalho difícil, pois é um caminho longo do primeiro contato até conseguir estabelecer um vínculo com a pessoa que se prostitui. Por isso, precisamos unir forças e garantir assistência a essas pessoas", coloca Ivânia Andrade.

Nenhum comentário: