O local de trabalho permanece o
mesmo de seis meses atrás, período de efervescência da Copa do Mundo. Antes
mesmo do megaevento esportivo, a extensão da Avenida Juscelino Kubitschek, nos
arredores da Arena Castelão, já se configurava como um dos principais pontos de
prostituição da Capital.
O assunto ganhou destaque em
diversos meios de comunicação, que publicaram matérias e reportagens à época do
campeonato, mostrando a situação na avenida do bairro Passaré. Os destaques
indicavam que, em plena luz do dia, não era difícil encontrar casos de
exploração sexual infantil e pessoas que se prostituiam até mesmo por R$10,00,
um prato de comida ou por pedras de crack.
O número de pessoas que oferecem
serviços sexuais às margens das calçadas, contudo, parece ter sofrido uma
queda. Na noite da última terça-feira (6), a equipe de reportagem percebeu a
presença de cerca de dez prostitutas na extensão do logradouro. A maioria
delas, travestis, que dizem comparecer ao local entre as terças-feiras e
sábados.
"O movimento está ruim,
janeiro é mais fraco. Os gringos já estão se preparando para o Carnaval e a
movimentação maior é nas praias de Cumbuco e Paracuru", conta uma das
profissionais.
Se não há espaço para a timidez,
a decepção pela falta de clientela é o mote para as palavras de uma outra
travesti. Com as próteses de silicone à mostra, lembra do período lucrativo que
vivenciou nos meses de junho e julho do ano passado.
"Aqui não parava. Vinha
gringo o tempo inteiro, chovia de espanhóis e mexicanos. A gente cobrava R$250,
mas podia chegar até R$300. Hoje o programa sai por R$70,00, e é só mesmo com o
movimento dos carros".
Perigos
As prostitutas reclamam ainda dos
riscos que correm durante a noite, principalmente no que diz respeito à
violência. "Aqui, tem muitos usuários de drogas que tentam roubar a gente,
levar nossa bolsa. Já aconteceu inclusive comigo e cheguei a ser
agredida", uma das mulheres conta, mostrando a cicatriz nas costas,
resultado de um assalto enquanto trabalhava.
A assistente social da Organização
Não-Governamental (ONG) Barraca da Amizade, Ivânia Andrade, confirma que a
movimentação da prostituição nas adjacências do estádio de fato diminuiu em
relação ao período da Copa do Mundo. Além disso, há poucos adolescentes em
situação de exploração sexual, como acontecia com maior frequência à época do
mundial.
A ONG Barraca da Amizade realiza
um trabalho de proteção de crianças, adolescentes e jovens em situação de
vulnerabilidade social, sendo um dos focos a exploração sexual e a
prostituição. O diagnóstico da diminuição das atividades na região do bairro
Passaré é feito a partir da observação e do trabalho de abordagem realizado
pela própria associação.
"Percebemos que são
geralmente as mesmas pessoas que encontramos naquela região. Os contatos mais
novos que conseguimos iniciar foi com pessoas adultas se prostituindo, não de
adolescentes", informa Ivânia.
A assistente social segue
informando que o perfil mais facilmente encontrado é de pessoas com
escolaridade muito baixa, o que acaba dificultando o encaminhamento em busca da
integração social daqueles que se prostituem.
"A maioria não tem um
documento de identidade, ou mesmo uma certidão de nascimento. Quando chegamos
no histórico familiar, geralmente já encontramos outras vulnerabilidades. Um
dos nossos grandes problemas é que não tem emprego para essas pessoas. Sempre
pedem alguma experiência ou escolaridade que muitos não possuem",
acrescenta.
Assistência
Na tentativa de oferecer novas
alternativas e o acesso a direitos essenciais, a Barraca da Amizade procura
fazer parcerias. Uma delas, como o Centro de Referência LGBT Janaína Dutra, que
faz parte da Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza, deve ter início neste
mês, para divulgar o trabalho do próprio órgão na efetivação dos direitos de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
A associação deve receber também
o apoio da Secretaria Regional V da Prefeitura Municipal de Fortaleza,
facilitando a realização de exames e serviços médicos.
"É um trabalho difícil, pois
é um caminho longo do primeiro contato até conseguir estabelecer um vínculo com
a pessoa que se prostitui. Por isso, precisamos unir forças e garantir
assistência a essas pessoas", coloca Ivânia Andrade.
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