Um grupo de alunas da USP, passou
a se reunir para receber as denúncias de estupro que acontecem dentro da
Universidade e a realizar manifestações sobre os casos ocorridos na Faculdade
de Medicina da USP (FMUSP) que vieram à tona depois de audiências públicas
realizadas pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São
Paulo.
Estudo realizado com alunos da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp) constatou que 9 a
cada 10 estudantes já passaram por algum tipo de agressão ao longo de sua
formação. Os casos vão desde agressões verbais a assédio ou discriminação
sexual e compõem um estudo sobre a qualidade das relações no ambiente acadêmico no curso de
medicina.
O levantamento, coordenado pela
professora Maria Fernanda Tourinho Peres, do Departamento de Medicina
Preventiva, foi feito em um universo de 317 alunos (cerca de 25% do total) por
meio de um formulário divulgado aos graduandos do 1º ao 6º ano, por e-mail.
Do total, 43,32% dos
entrevistados disseram ter sido submetidos a assédio ou discriminação sexual e
15,52% relataram sofrer ameaças de agressões físicas. A agressão verbal (gritos
ou xingamentos) também foi levada em consideração no estudo (59,99%) As
respostas foram dadas anonimamente e não era necessário informar nenhum dado
pessoal.
De acordo com o levantamento, o
agressor é, na maior parte das vezes (83,75%), outro estudante de medicina. Em
segundo lugar, a reclamação é em relação aos professores (72,78), médicos
(50,3%), residentes (44,12%), além de pacientes, acompanhantes, enfermeiros e
outros profissionais da saúde.
A agressão psicológica foi a que
teve maior número de registros, na forma de depreciação ou humilhação (73,1%).
Agressões físicas como tapas, chutes ou empurrões tiveram 38 registros
(13,11%). A maioria dos estudantes (69,38%) considerou a gravidade da agressão
como “muito importante (202 pessoas), ante 90 alunos que julgaram que os casos
tiveram pouca ou nenhuma relevância.
De acordo com Maria Fernanda, a
intenção da pesquisa era explorar um campo pouco estudado no Brasil, já que os
estudos sobre violência na educação estão quase sempre voltados ao ensino
básico e não à educação superior. “Há uma grande produção internacional sobre
os casos de humilhações, maus tratos e abusos nas universidades. A proporção é
muito grande em escolas médicas”, disse. O projeto Quara, como foi chamado, foi
aprovado pelo Comitê de Ética da instituição e teve o trabalho de campo
realizado em 2013. Segundo a docente, os números foram semelhantes aos obtidos
em pesquisas feitas em países como EUA,
Alemanha e Chile.
A direção da Fmusp afirmou que
tem conhecimento do estudo que vai utilizar os resultados ‘como instrumento
para o aperfeiçoamento das diversas ações em defesa dos direitos humanos que
estão sendo implementados na instituição”. Desde novembro do ano passado, a
instituição tem apresentado alternativas de combate às agressões, como a
criação de uma ouvidoria própria, além de um centro de direitos humanos com
assistência psicológica às vítimas de abusos.
Fonte: O Estado de São Paulo
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