Mulheres, não sejam loucas.
Hidrogel (ou qualquer outro produto semelhante) na bunda pode matar. Essa
advertência deveria entrar automaticamente nos cérebros femininos cada vez que
surgir no mercado a falsa promessa de um bumbum dos sonhos de forma fácil, sem
malhação.
O alerta sobre o perigo do mau
uso dessa substância já havia sido feito em outubro passado, quando morreu a
ajudante de leilão Maria José Medrado de Souza Brandão, 39, após fazer uma
aplicação de hidrogel, para aumentar o tamanho do bumbum. A aplicação da
substância tinha sido feita por uma falsa biomédica, em uma clínica estética de
Goiânia.
Agora, a vítima da vez é a modelo
e apresentadora Andressa Urach, 27, internada na UTI de um hospital em Porto
Alegre com quadro de sepse (infecção generalizada). Motivo alegado: 400 ml de
líquido preenchedor (hidrogel) em cada coxa, quando a recomendação dos
especialistas é de, no máximo, 2 ml —há médicos que defendem que, em condições
seguras, é possível usar quantidades maiores. Como é um produto relativamente
novo, ninguém sabe ao certo os riscos a longo prazo.
Normalmente, o líquido é usado
para preencher rugas ou deformidades faciais, ou seja, áreas muito pequenas. O
problema é que a substância (um polímero) não é absorvida totalmente pelo
corpo. Uma vez aplicada, ela se espalha e fica ramificada no meio da gordura,
de alguns tendões, dos músculos. Retirar todo esse produto depois é quase
impossível.
Outro risco é que quando a
substância é injetada no corpo, pode levar junto alguns tipos de bactérias que
ficam “adormecidas”, esperando uma baixa da imunidade para se proliferar,
causando a infecção. Quando isso ocorre, é preciso fazer uma cirurgia para
tirar os tecidos necrosados, deixando apenas os vascularizados (onde o sangue
ainda está passando). Isso pode resultar, inclusive, em amputações de partes do
corpo.
O caso de Andressa parece ter
mais um agravante. Ela teria aplicado também o polimetilmetacrilato (PMMA), um
gel que não é absorvido pelo corpo. Não se sabe se a interação dessas
substâncias possa ter colaborado para o agravamento do quadro. Também não se
sabe exatamente qual o tipo de hidrogel que foi aplicado e em que condições. O
procedimento teria sido feito há cinco anos e atualmente ela passava por
drenagens do material.
No caso de Maria José, a pessoa
que aplicou a substância não era uma profissional da área da saúde. Tinha feito
apenas um curso de bioplastia estética, com duração de 15 dias e anunciava seus
serviços por meio de anúncios na internet. Cobrava até R$ 3.900 pelo
procedimento e prometia um “resultado imediato”. Maria José aplicou hidrogel no
bumbum, sentiu-se mal ainda durante o procedimento e morreu no dia seguinte de
embolia pulmonar.
Os médicos defendem o produto
licenciado no mercado. Dizem que, se usado de forma segura e por profissionais
habilitados (ou seja, eles mesmos), não há perigo. Pode ser. A questão é que
qualquer procedimento invasivo implica riscos. E eles deveriam SEMPRE ser
informados, por escrito. Nós próprios carregamos riscos que muitas vezes nem
sonhamos ter, por exemplo, predisposição a um tromboembolismo.
A verdade é que essa busca
incessante pelo corpo supostamente perfeito não tem limite e não para de fazer
vítimas. Uma hora é a lipoaspiração, outra hora é o hidrogel. As que morrem ou
as famosas enfermas aparecem na mídia. As anônimas amargam sequelas e
arrependimentos.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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