Relatório mostra que rota da exploração vem mudando:
Suriname e Guianas são novos destinos. Uma das causas da mudança da rota do
tráfico é a ampliação da fiscalização internacional.
Uma campanha de conscientização promovida pela Secretaria da
Mulher e da Igualdade Racial (Semira) que se encerra hoje levanta a discussão
sobre um crime recorrente no País, em especial em Goiás: o tráfico de pessoas.
Um relatório do Ministério da Justiça, em parceria com o Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UnoDC), aponta que a maioria das vítimas de
tráfico de pessoas no Brasil são mulheres pretas ou pardas. Dados do Comitê
Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conatrap) apontam que antes
essas pessoas eram levadas para nações europeias, mas, nos últimos anos, a
maioria das vítimas vem sendo encaminhada para países da América do Sul, como
Suriname e Guianas. Ainda de acordo com o comitê, a cada oito pessoas
traficadas, duas são goianas, considerando-se mulheres e travestis.
A presidente da organização não governamental (ONG) Astral e
representante goiana no Conatrap, Beth Fernandes, explica que uma das causas da
mudança da rota do tráfico é a ampliação da fiscalização internacional. “Loiras
continuam sendo levadas para a Europa, pelo perfil. Aqui, cresce o tráfico para
países vizinhos, mas as condições de escravidão são semelhantes e até piores.”
Outros Estados
Segundo ela, a maioria das vítimas atualmente vem do Mato
Grosso, Pará e Amapá, justamente pelo perfil físico. Segundo o relatório da
UnoDC, a Polícia Federal detectou em 2012 o maior número de casos de tráfico de
pessoas desde 2006: foram 348 registros. Três órgãos do governo federal –
Secretaria Nacional de Segurança Pública (que reúne dados das políciais Civil e
Militar no País), PF e Polícia Rodoviária Federal (PRF) – registraram 966
ocorrências e inquéritos. Das 130 vítimas de tráfico de pessoas identificadas,
104 eram do sexo feminino e 26, do masculino. O levantamento do Executivo
federal também apontou que 65% das vítimas de tráfico de pessoas têm até 29
anos.
Os números não são mais recentes porque, segundo o
Ministério da Justiça, essa é a primeira vez que vários órgãos de enfrentamento
ao tráfico humano se reúnem para compilação dos dados. Conforme o levantamento,
quando o critério é a cor da pele, 59% das vítimas mulheres são pretas ou
pardas. Dentre os homens, a porcentagem de pretos ou pardos, vítimas do crime,
é ainda maior: 63%. Além disso, o relatório observa que, em 2012, 43% das
pessoas resgatadas eram crianças e adolescentes. Em 2010, esse percentual era
de 60%. O número de casos de tráfico de pessoas registrado pela PRF em 2012 é o
maior identificado pela corporação desde 2008, quando haviam sido localizadas
906 vítimas.
Metade do tráfico é
para exploração sexual
Das oito vítimas de tráfico de pessoas identificadas pelos
consulados brasileiros no exterior em 2012, metade foi traficada para fins de
exploração sexual e a outra metade, para exploração laboral. Dois brasileiros
foram localizados na Alemanha e outros dois, na Índia. Em relação aos sete anos
anteriores, é a primeira vez que Sérvia e Romênia apareceram no mapa do tráfico
de brasileiros. Em 2011, o Itamaraty havia identificado nove brasileiros
traficados no exterior e, em 2010, 218.
Políticas
Beth Fernandes critica a falta de políticas em Goiás de
enfrentamento aos crimes. “Falta conversar cara a cara com essa pessoa que se
enquadra no perfil da vítima”. Beth, que também é psicóloga, destaca que a
maioria das aliciadas, sejam mulheres ou travestis, sempre está em busca de uma
vida melhor para a família e quase nunca acredita na possibilidade de ser
submetidas a situações degradantes. “É preciso traçar estratégias com todos os
públicos, mas a mulher agredida, violentada e pobre tem mais predisposição”.
Mas nem sempre as mulheres são traficadas para exploração
sexual. Beth acredita que esse percentual chega a 80%, mas existem casos de
pessoas levadas para trabalho doméstico, cuidado com idosos e trabalho em
indústrias. “Mas sempre com as mesmas característica de privação de liberdade,
recolhimento de passaporte e outros documentos e falta da aplicação de direitos
básicos”.
Ações
A Secretaria da Mulher e da Igualdade Racial (Semira)
realiza desde segunda-feira, 28, ações para conscientização sobre o crime
internacional de tráfico de pessoas. Na segunda, um grupo da pasta esteve em
Anápolis em caminhada. Na terça, junto com a Polícia Rodoviária Federal, a
Semira esteve em motéis e casas de shows de Aparecida de Goiânia. Ontem, o
grupo mobilizou o aeroporto de Goiânia para entrega de panfletos com a
participação da titular da pasta, Gláucia Teodoro. Hoje, das 10 horas até o
meio-dia, a mobilização será no posto da PRF na BR-060, na saída para Anápolis.
Secretária da Comissão de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
da Semira, Giovanna Alves Mendonça Teles afirma que todas as ações são
importantes para ampliar a percepção do crime. “Infelizmente, o tráfico de
pessoas avança e toma novos contornos. Goiás ocupa o quarto lugar no ranking
dos Estados que mais enviam essas pessoas para algum tipo de exploração”. Essa
é uma das razões que ela defende a conscientização com pessoas que podem ser o
público desse crime.
Fonte: www.portalohoje.com.br
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