Literatura e sexo foram as atividades principais de Gabriela
Natalia Silva, 22 anos, durante a graduação em letras. Ela se dividia entre o
curso na Universidade Federal de São Carlos (SP), e a atividade de garota de
programa. Ao se formar, começou a escrever na web sobre a experiência de
prostituição, com o pseudônimo Lola Benvenutti. É assim que ela assina o livro
em que volta a unir as duas atividades. "O prazer é todo nosso"
(Editora MosArte) sai no dia 11 de agosto.
Em entrevista ao G1, Lola defendeu a escolha pela
prostituição. "Tem uma categoria nos sites de acompanhantes de
universitárias e fazem isso porque fazem faculdade particular e precisam pagar,
mas eu nunca precisei disso, sou inteligente, fiz faculdade, optei por isso,
qual o problema?". Ela rejeitou comparação com Bruna Surfistinha, que
narrou a experiência em blog e livro. “Ela teve uma vida diferente da minha,
com outras oportunidades."
No novo livro, a jovem nascida em Pirassununga (SP) conta
sobre "momentos marcantes de sua vida como garota de programa, incluindo
suas experiências com a alta sociedade. A pré-venda começa no dia 30 de julho,
no site da editora.
Leia abaixo trechos
exclusivos de "O prazer é todo nosso":
'Nossa essência não
tem 'cura''
"Em função de minha profissão, dia a dia sou colocada
diante de questões que me fazem pensar cada vez mais sobre as barreiras
fortíssimas de nossa sociedade em relação à sexualidade e, sobretudo, em
relação à liberdade sexual dos indivíduos.
Embora eu não seja formada em psicologia, o fato é que
muitas pessoas me procuram crendo que eu posso ajudá-las. Um desses casos aconteceu
com Juno. Ele me ligou tímido, a voz triste quase não saía e eu mal podia
escutar o que ele me dizia. Explicou-me que era gay, como se isso devesse ser
justificado de alguma maneira, e logo demonstrou que não se conformava com
isso. Em linhas gerais, ele queria sair comigo para ver se gostava de mulheres,
queria sair com uma puta para tentar provar que era “macho”.
Sua súplica fez com que eu me compadecesse e cedi ao seu
pedido. Foi um dos atendimentos em que fiquei mais tensa, pois eu queria realmente
ajudá-lo, mas não acredito que se possa exorcizar o lado gay de uma pessoa,
justamente porque esse dado não é uma doença, embora “psicólogos” sem ética
vendam “curas” por aí, principalmente nas portas das igrejas.
O que eu queria era que Juno percebesse que viveria em
conflito até que conseguisse enfrentar seus medos, seus anseios e seus desejos.
[...] Conversamos muito e percebi que se ele não entendesse e aceitasse sua
orientação sexual, em um esforço de se enganar, ele seria muito infeliz.
Como não podia deixar de ser, embora haja exceções, Juno
vinha de uma família ultraconservadora: o pai era um médico tradicional e a mãe
uma dona de casa voltada exclusivamente às vontades do marido. O pai exaltou
seu primeiro filho homem e determinou que o criariam para que fosse um macho
capaz de “comer” uma menina por dia. Para isso não faltavam rituais: o doutor o
levava a puteiros constantemente e, quando Juno finalmente ia para o quarto com
uma garota, ficava tão inquieto e sem jeito que as garotas, entendendo sua
situação, simplesmente se deixavam ficar no quarto, apenas esperando a hora
combinada terminar.
O jeito como ele falava sobre as garotas evidenciava certa
aversão em relação ao ambiente e ao próprio corpo feminino. Era um bloqueio e
eu percebi isso quando tentei me insinuar algumas vezes. Juno fingia não me ver
diante dele. Seu olhar fugia de mim, direcionando-se para o teto, os móveis, o
quadro na parede... [...] Cada vez que ele se dava conta de que estava
“fugindo” de mim, seus olhos começavam a lacrimejar [...] Então bolei uma
estratégia [...]"
'A reinvenção dos
prazeres'
"O número de homens de meia idade, e casados, que vêm
até mim com a queixa de que suas mulheres não os desejam mais, ou que eles não
as desejam mais, é realmente elevado. Mas nem todos estão dispostos a ouvir o
que tenho a dizer: que devem conversar com suas parceiras, que um casamento
pode ser renovado apesar do tempo e que contratar uma prostituta para
“amenizar” uma frustração – embora me renda lucros – não vai resolver o
problema conjugal que eles têm. Assim como os corpos mudam com o tempo, também
os desejos seguem esse movimento de transformação e precisam ser redescobertos
a todo o momento.
Nossos desejos são subjetivos e dizem respeito a cada um
[...] Em uma relação conjugal, se o casal for realmente sincero entre si, os
parceiros conhecerão as necessidades e os desejos sexuais um do outro na medida
em que se relacionam sexualmente. Tenho prazer em descobrir nos corpos com que
me deito o que lhes dá prazer e o que neles me dá tesão. Sexo é, portanto,
sempre um ato de constante aprendizado já que os corpos se transformam
diariamente, natural ou artificialmente, havendo sempre algo por se desvendar e
experimentar.
Numa manhã de sexta-feira, recebi a ligação de Lúcia.
— Você é a Lola que é... – Tentava perguntar com uma
insegurança que lhe fazia tremer a voz.
— Garota de Programa? Puta? Sou eu sim.
— ...
— Posso ajudar?
— É que... Acho que meu marido não sente mais tesão por mim.
E eu até entendo, porque já não tenho mais 20 anos, não tenho mais um corpo
lindo e jovem como o seu... Mas estamos casados há um bom tempo e... Desculpa
por te falar essas coisas!
— O que é isso, querida. Fale mais, vai que posso ajudar
vocês.
— Eu já tentei de tudo, Lola. Até o que eu não gosto, que é
aquilo por trás, já deixei meu marido fazer, mas acho que ele quer se separar
porque não tem mais desejo por mim. Mas a gente se ama, sabe? Ou se acostumou a
se amar assim.
— O que acha de combinarmos um dia para conversarmos
pessoalmente. Se você está me ligando é porque acho que deseja fazer alguma
surpresa para ele...
— Você pode almoçar comigo hoje?
E lá fui eu, Lola, almoçar com essa mulher misteriosa.
Conversamos muito e a estranheza que ela sentia diante de algumas coisas que eu
falava era nítida, afinal, sexshops, sextoys, ménage à trois, etc. não eram
expressões comuns para ela. O legal é que a curiosidade persistia e ela
concordou em experimentar coisas novas com seu parceiro. No início, ela queria
me “dar de presente” para seu marido, mas depois de horas de conversas resolveu
que eu seria a encarregada de presentear os dois com uma noite inesquecível e
renovadora.
Na noite esperada, o casal chegou ao quarto do motel. Ele
mostrava-se sisudo e muito desconfiado de tudo e a Lúcia estava em nervos.
Chamei-os para perto da cama, servi-lhes vinho, petisco com queijos e
torradinhas temperadas, e me dediquei a conhecê-los melhor.
Alguns casais que atendo são verdadeiramente safados, não há
descrição melhor. Alguns acabam comigo em poucas horas e se divertem horrores,
já outros ficam assim, tímidos, receosos com a forma como seu parceiro reagirá
caso toque o meu corpo.
Depois de algumas taças de vinho comecei a puxar assunto
sobre sexo e aí a coisa foi ficando interessante [...]"
Fonte: www.g1.globo.com
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