segunda-feira, 7 de julho de 2014

Funcionários de bar, hotel e taxistas engrossam esquema de prostituição na Copa em BH

Funcionário de bar, taxista e atendente de hotel  revelaram que ganham comissão ou vantagens quando conseguem clientes interessados em prostitutas
Durante o Mundial, eles tentam 'fisgar' turistas estrangeiros em troca de comissão.

Uma cena em um bar tradicional da Savassi, com dois ingleses e três garotas de programa em uma “farra” paga em libras e regada a chope e caipirinhas, retrata como esquemas de exploração de prostituição em Belo Horizonte se expandiram para lucrar no período da Copa do Mundo. O “programa” foi agenciado por M., um funcionário do bar que se intitula o “maior cafetão da Savassi”. Além dele, a reportagem do EM foi às ruas na companhia de um norte-americano e flagrou funcionários de hotéis e taxistas oferecendo serviços de prostitutas. Eles ganham vantagens financeiras se fisgarem turistas, o que configura crime.

O mais disseminado desses esquemas é o que atende a vários hotéis e tem até um website em que, como num cardápio, as fotografias das mulheres e seus contatos de telefone celular para acerto dos programas são exibidos. Num hotel próximo à Praça da Liberdade, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul, a hospedagem custa R$ 200 por dia num quarto de suíte. Se o cliente quiser os serviços de prostitutas, tudo pode ser arranjado no lobby ou pelo telefone interno.

Dois atendentes explicaram o esquema depois de terem sido sondados para atender a norte-americanos. “Olha, temos as meninas que já trabalham com a gente. Mas se o gringo quiser, pode escolher outra pelo site. É só mulher de nível executivo e que custa a partir de R$ 150 pelo programa. A gente (do hotel) cobra só R$ 30 para a menina subir para o quarto”, disse um dos homens do balcão. Segundo ele, há três anos havia até um scotch bar no subsolo frequentado pelas garotas de programa, mas o espaço foi fechado depois que o esquema ficou muito evidente. “Agora, quem está dominando é o pessoal desse site. Eles têm meninas atendendo a todos os hotéis de BH. Ficou simples: você só ganha em cima da estada da mulher e o resto dos custos fica com eles (do website)”, afirmou o atendente.

Acordo
Em um bar da Savassi, quem oferece “facilidades” para turistas é M. Perguntados sobre indicação de acompanhantes, muitos garçons da região indicam os serviços dele. O homem, de meia-idade e camisa temática do Brasil, diz ter um acordo com duas boates de striptease e hotéis no Centro de BH. “Se você fechar um grupo de gringos para mim, consigo entradas gratuitas para eles nas casas noturnas. Vão ter de pagar R$ 300 por garota, mais R$ 75 pelo hotel e o que der de táxi. Mas para eles isso não é nada. Eles pagam em dólares, em euros e em libras”, contou.

M. nunca é visto atendendo às mesas e guarda cartões das casas noturnas para que os clientes possam avaliar as mulheres que representa pelas páginas dos estabelecimentos na internet. “Entro de graça em qualquer lugar. Fora isso, para cada programa que acerto levo uma comissão”, disse, sem revelar qual a “taxa” cobrada para agenciar as prostitutas.

“Esse pessoal (estrangeiro) quer é rir e namorar as meninas (prostitutas). Elas adoram e vão logo pedindo: me traz três pratos diferentes, uísque e champanhe. Nem comem tudo, só beliscam, e ganham muitas gorjetas. Assim, arranjo para eles a mulher que quiserem”, disse M. Enquanto a reportagem simulava uma negociação, uma das garotas indicadas por ele acariciava um homem numa mesa próxima. O cliente sinalizava positivamente para o agenciador, que diante do elogio não hesitou em dizer: “Olha como o rapaz está feliz. Sou o maior cafetão daqui”.

“Levo só a comissão”, diz taxista
Em diversos hotéis e nos táxis que vêm do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, outros esquemas de agenciamento de garotas de programa também buscam fisgar os estrangeiros que chegam para a Copa do Mundo. Os cartões desses serviços ficam à mão dos motoristas e, no caso dos condutores que fazem o percurso para Confins, dentro dos bolsões atrás dos bancos de passageiros. Num hotel repleto de estrangeiros na Avenida Bias Fortes, a reportagem sondou o agenciamento de acompanhantes na recepção, mas a atendente foi categórica em dizer que não tinham esse serviço. A resposta pareceu ser a senha para o mensageiro do estabelecimento: “Senhor, os meninos (dos táxis) têm o que o senhor está procurando. Só coisa fina e falam inglês e espanhol”, avisou.

Um dos taxistas que ficam em frente ao hotel logo apresenta um dos seus cartões com o contato de uma casa noturna, onde afirmou que ocorrem os programas. “Levo só uma comissão mesmo (do serviço). Mas nessa Copa já vi o diabo. Teve um iraniano ou argelino, não sei bem, que arrebentou uma garrafa de champanhe aqui dentro (do táxi) depois que saiu da boate com duas meninas para um motel”, contou o motorista. Segundo ele, os ingleses e franceses foram os que mais procuraram seus serviços. “Amigo, tem gringo aí querendo morar no Brasil e casar”, disse.

Apesar de os atendentes do hotel terem garantido que não havia negociação com acompanhantes no estabelecimento, uma turista que se hospedou no local registrou uma queixa reclamando do movimento frequente de prostitutas nos corredores. “Esbarramos com as mais diversas espécies de pessoas, de procedência duvidosa, incluindo garotas de programa hospedadas para atender a clientes no hotel por causa do valor baixo da diária”, disse a hóspede, identificada apenas como Michelle.

O que diz a lei

A prostituição não é crime no Brasil, mas quem explora esse tipo de serviço obtendo vantagem sobre o corpo de outra pessoa é considerado criminoso. Pelo artigo 229 do Código Penal, a pessoa que mantém, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente, está sujeita a pena de reclusão, de dois a cinco anos, e multa. O rufianismo – tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça – prevê reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Fonte: Estado de Minas

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