Como se pode viver após ter sido vendido por seus pais como
escravo por apenas 30 euros? Como convencer a uma sociedade de que as crianças
não são mercadoria? Como frear esta espiral destrutiva, que traz o pior do ser
humano?
Estas são algumas das perguntas que surgem após a exibição
de “Não estou à venda. Tráfico de seres humanos na África do Ocidental”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión
Digital, 24-06-2014. A tradução é do Cepat.
Um documentário que traz, ao longo de 15 emocionantes
minutos, as histórias de Rachidi e Jules, duas crianças do Benin que foram
vendidas como escravas, e que foram exploradas e maltratadas. E também a sua
reabilitação através do trabalho inestimável de homens e mulheres como o
Salesiano Juan José Gómez, e toda a equipe das Missões Salesianas.
Ana Muñoz, das Missões Salesianas, falou do trabalho desta
ONG pelos mais desfavorecidos, presente em 133 países. “Não estou à venda”,
também é o lema da campanha, que denuncia que no mundo mais de 20 milhões de
pessoas são tratadas como mercadorias, traficadas contra sua vontade. Sem contar
as que, entre elas, lamentavelmente, são obrigadas a se casar, prostituir ou
são sequestradas para venda de seus órgãos.
“O tráfico de pessoas é a escravidão do século XXI”,
denunciou a responsável da ONG. A venda de pessoas “é infelizmente algo normal
em alguns países”. São mais de um milhão de crianças vendidas, mais de 07
milhões de menores explorados, mais de 300 mil recrutados para morrer e matar
nas guerras. Crianças que, como no caso de Rachidi, são vendidas por 30 euros.
Após a projeção, houve uma mesa redonda, na qual
participaram Jesús Díez Alcalde, tenente coronel e analista do Instituto
Espanhol de Estudos Estratégicos; Nicolás Castellano, jornalista especialista
em imigração; e o salesiano Juan José Gómez, missionário e diretor do Centro Dom
Bosco Portonovo, em Benin.
Díez Alcalde começou sua intervenção ressaltando a
importância da educação para evitar desastres como o tráfico de escravos em
Benin, assim como em todo o mundo. “Nem tudo na África é negativo. É um grande
continente, onde vive mais de um bilhão de pessoas”, assinalou o tenente
coronel, que se perguntou se “o que estamos fazendo é suficiente” para combater
este flagelo.
“O potencial da África é brutal. É o continente mais rico do
mundo, o que tem a maior capacidade para crescer”, destacou o militar, que não
obstante também contemplou com pesar a maneira como a sociedade civil e
governamental não funcionam em alguns destes países, como Mali ou a República
Centro-Africano. Assim como em relação ao surgimento de grupos jihadistas, que
“não são uma novidade. Já ocorre há muito tempo. Seria conveniente nos
perguntarmos para onde nós estávamos olhando”.
Díez Alcalde encerrou denunciando como, no último ano, um
milhão de pessoas tiveram que abandonar suas casas na África Central. “É como
se nos últimos meses as pessoas tivessem que abandonar Bilbao ou Sevilla”. O
que estamos fazendo na União Europeia?
De sua parte, Nicolás Castellano apontou que “a Espanha é o
principal ponto de entrada das vítimas de sequestros de pessoas que vem da África
e da América Latina”. O jornalista traçou o perfil das pessoas – homens,
mulheres e crianças – que são vendidas, e a relevância econômica do tráfico de
seres humanos: 32 bilhões de euros em todo o mundo, estando assim no nível do
tráfico de drogas.
Hoje, conhecemos o sequestro de mais de 200 meninas na
Nigéria, mas "Boko Haram está sequestrando e matando pessoas há mais de
dez anos”, destacou o jornalista, que denunciou a dupla moral de fazer
coberturas quando "celebridades" estão envolvidas, e não nos momentos
nos quais ocorrem os maus tratos em aeroportos ou nos Centros de Internamentos
de Estrangeiros. “Não estamos fazendo o suficiente”.
Mesmo que desde 2009 a Espanha conte com a legislação para
proteger mulheres que fogem de tráfico, em todo esta período – de cinco anos! –
somente foram beneficiadas e acolhidas duas pessoas. Isso sem contar aos filhos
das mulheres vendidas e exploradas.
Finalmente, Juanjo Gómez apresentou respostas a várias
perguntas. A primeira: o que é tráfico infantil? “Todo acordo que tenha por
objetivo a alienação a título gratuito ou onerosos de uma criança”. Isso é o
que diz a lei de Benin, o mesmo país, bonito e de valete, que sofre com este
flagelo. “Cerca de 600 mil crianças estão sendo traficadas em Benin”, denunciou
o missionário.
Os governos ocidentais são, de acordo com o missionário, em
boa medida, os que fazem com que esta mentalidade continue. “Nas fronteiras não
se controlam nem as pessoas nem as mercadorias: com 500 francos pode-se
ultrapassar a fronteira sem carteira de identidade”.
“O Estado faz o que pode. Que respostas dão as ONGS?”,
perguntou-se. “Nós estamos na questão da prevenção e da formação”, indicou,
destacando o papel das religiões. “Não fazemos proselitismo, favorecemos a
relação com Deus. Em nossos centros há pessoas de todas as religiões”.
Que efeitos são produzidos pelo tráfico infantil? Declínio
da população, educação, diminuição do nível... “Estamos cortando e anulando o
nível de um país, porque estamos os impedindo de serem crianças”, acrescentou
Juanjo Gómez.
“A solução está aí, com as famílias, e trabalhando com a
sociedade, porque o que faz falta é uma mudança de mentalidade”.
Fonte: Ihu
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