Diante de um mundo que cada vez mais fala a linguagem
midiática, que efeito pode causar uma grande e importantíssima instituição
global que fala apenas através de vozes masculinas?
Artigo de Lucetta Scaraffia
Eis o texto.
O Papa Francisco não disse palavras novas sobre as mulheres
na entrevista – a primeira concedida a uma mulher –, mas a novidade já está no
fato de que, pela primeira vez, quem lhe fez perguntas sobre o lugar da mulher
na Igreja está diretamente envolvida.
O clima cordial – em certos momentos, até mesmo divertido e
brincalhão – em que a entrevista foi realizada prova mais uma vez, se fosse
necessário, que Bergoglio está acostumado a falar com as mulheres, a ouvi-las,
a levar em conta o seu ponto de vista: "As mulheres são a coisa mais
bonita que Deus fez" e são indispensáveis à Igreja, não por acaso
representada por um substantivo feminino, repete ele mais uma vez.
Mas essas palavras foram proferidas pelo papa em discursos
sobre temas gerais, e faltou, ao menos até agora, uma intervenção, um documento
totalmente dedicado às mulheres. O Papa Francisco deve agir junto com a Igreja,
deve levar em conta o parecer dos seus colaboradores mais próximos e do
sentimento difuso entre o clero, como confirma justamente essa entrevista. E
sabemos que não são muitos os membros do clero que o seguem nessa abertura.
Por isso, em vez de falar logo de dar um novo posto às
mulheres em papéis diretivos, Francisco fala de aprofundamento teológico. Se,
de fato, a inovação chegar não como adequação às mudanças sociais impostas pela
modernidade, mas sim como profunda compreensão do papel da mulher – e, mais em
geral, dos aspectos femininos – na construção da tradição cristã, então a
mudança será compreendida por todos e será enraizada em profundidade.
As razões da prudência do papa, portanto, são compreensíveis
e motivadas. Não se pode pensar em intervir com a varinha mágica, nem mesmo
sendo o papa. Mas, por outro lado, é difícil, hoje, aceitar que o Sínodo sobre
a família não preveja, na sua abertura, a escuta de menos um ponto de vista
feminino.
Diante de um mundo que cada vez mais fala a linguagem
midiática, que efeito pode causar uma grande e importantíssima instituição
global que fala apenas através de vozes masculinas? Provavelmente, muitas
posições da Igreja sobre os problemas graves e complexos seriam entendidos
melhor se fossem apresentadas por uma mulher.
Para dar um único exemplo: se a polêmica questão dos
preservativos para conter a epidemia da Aids fosse explicado por uma
missionária que vive e atua em uma região marcada por essa terrível doença, em
vez de um ótimo diplomata, ela não seria ouvida, talvez, com maior interesse?
Fonte: Ihu
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