Pesquisa entre mulheres brasileiras que trabalham como
vendedoras ambulantes aponta que este grupo espera ampliar as vendas durante a
Copa do Mundo Fifa 2014 no Brasil, mas acredita que o megaevento não é
prioridade para o país.
O estudo foi realizado pela Casa da Mulher Trabalhadora
(Camtra), instituição feminista sem fins lucrativos, em parceria com a Fundação
Roxa Luxenburg, integrando as ações do projeto "Impactos dos megaeventos
da vida das mulheres trabalhadoras”.
O levantamento abordou as mulheres trabalhadoras em suas
condições de vida e trabalho, especificamente sobre a percepção delas acerca
dos impactos dos megaeventos em suas vidas. Para isso, foram entrevistadas 120
trabalhadoras ambulantes nas ruas do Centro da cidade do Rio de Janeiro (62%) e
comerciárias do Centro Comercial da SAARA (48%), associação de comerciantes,
também no centro da capital fluminense.
Com relação aos gastos públicos com o Mundial, apenas 7% das
mulheres entrevistadas acreditam que estes serão investimentos importantes,
pois trarão retorno ao país, principalmente ligado ao comércio. Já 91%
acreditam que não haverá retorno. A maioria das trabalhadoras defende que a
Copa não deveria ser prioridade para o país, 80% delas apontam como prioridade
a saúde e 62% a educação. Transporte e segurança figuram em seguida, somando
17% cada um.
Com relação à exposição do corpo da mulher em propagandas da
Copa do Mundo, 27% dizem não haver percebido como eram retratadas, 20%
afirmaram que as mulheres aparecem de maneira "normal”, 7% acreditam que
elas aparecem como mercadorias e 5% creem que são exploradas fisicamente.
As trabalhadoras também foram indagadas se percebem mudanças
relacionadas à segurança pública da cidade em decorrência da Copa. No total,
67,5% delas responderam que sim. Destas, 69% dizem se sentirem menos seguras.
Sobre a repressão policial, 29% afirmaram que não há diferença, já 21% creem
que aumentou. "No entanto, muitas delas não percebem o aumento da
repressão como uma coisa ruim, pois a identificam como a forma de lidar com
roubos e outros tipos de insegurança”, frisa o resultado da pesquisa.
A respeito da violência contra mulheres, 55% acreditam que a
cidade do Rio de Janeiro está mais perigosa para essa parcela da população.
Quando indagadas se já sofreram violência, 30% responderam que sim. Das outras
70% que negaram ter sofrido violência, 43% afirmaram ter sofrido assédio.
"O que eleva o número de mulheres que já sofreram violência, atingindo 70%
das mulheres, e também revela a falta de reconhecimento das mulheres sobre o
assédio como uma forma de violência”, destaca o estudo.
Também foram discutidas as Unidades de Polícia Pacificadoras
(UPPs), sendo 24% delas moradoras de comunidades com presença de UPPs. 70% do
total das mulheres entrevistadas acreditam que as Unidades têm relação com a
Copa. No entanto, entre as moradoras de áreas com UPP, esse percentual fecha em
100%. "Revelando um olhar mais descrente entre as moradoras de áreas com
UPPs instaladas com relação a essa política”, avalia a pesquisa.
Do total de mulheres que acreditam que há relação entre a
Copa do Mundo e a UPP, 28% esperam que as Unidades acabem após a realização do
megaevento no Brasil e outros 28% creem que se trata de um projeto de
"maquiagem” para a imagem internacional do país. Já 24% das trabalhadoras
ambulantes acreditam que não há relação entre a UPP e a Copa. Isso porque a
maioria acredita que essa política já existia antes e outra parcela avalia como
uma maneira estatal de proteção diante do tráfico.
Fonte: Adital
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