A Copa no Brasil é notícia no mundo inteiro, mas nem sempre
o assunto são os jogos dentro de campo. A revista americana Rolling Stone fez
um artigo de quatro páginas sobre a casa de saliência mais famosa do Brasil,
segundo o jornalista Amos Barshad, a Centaurus. "Cheio de mulheres bonitas
com comportamento erótico, a Centaurus, no Rio de Janeiro, tem atraído
celebridades e estrelas do futebol", diz a reportagem.
O repórter conversou com várias pessoas, incluindo o
ex-bartender Sergio Limas. Ele conta que apesar de ser proibido subir para os
quartos, vários clientes tentavam carregá-lo, seja para dormir com ele ou
assistir a performance dele com alguma das meninas disponíveis. Limas contou
que depois da vitória do Brasil no mundial de 2002, um dos deuses do futebol da
equipe brasileira, conhecido por um apetite sexual voraz, fechou o lugar para
sua própria festa privada (com direito a uma foto gigante na decoração).
Segundo ele, qualquer pessoa com dinheiro suficiente pode ter uma grande noite
no espaço. Certa vez um anônimo rico desembolsou milhares de dólares e pegou a
suíte master, além de 20 meninas. "Rolou de tudo naquele dia e qualquer
coisa lá se torna comum", disse Limas, que revelou alguns segredos de clientes
usuais, como um homem que sempre chegava com uma barra de Chokito e pedia para
as moças colocá-la em determinado lugar para depois comê-la de volta. "O
pessoal o apelidou de couve-flor. Um homem velho e sério que gostava de comer
seu próprio Chokito", contou.
Quando, no ano passado, o libertino desastrado Justin Bieber
tentou fugir de Centaurus cercado por paparazzi e se cobriu com um lençol, foi
um momento de reconhecimento internacional para a casa de sexo. Mas no Rio, os
cariocas conhecem o lugar, e muito bem.
"Em Copacabana, as prostitutas andam pelas ruas. Você
pode levar as meninas em alguns prédios e fazer sexo nas escadas ou no topo,
onde fica a caixa d'água. Todo mundo faz isso", disse Pelife, outro
personagem da matéria, que fez a despedida de solteiro na Centaurus.
Além da famosa Centaurus, outras termas na cidade são a
Monte Carlo, Solarium e 4x4. "A rotina nesses locais é a mesma: chegar,
pegar a chave de um armário, ficar nu e colocar um roupão. No andar de baixo
funcionam as acomodações de um spa e acima ficam as meninas. Este sistema foi
concebido pela termas pioneira Aeroporto, que ficava perto do Santos Dumont.
Como reza a lenda, a Aeroporto teve dois parceiros, Isaac e Williams. Houve
alguma controvérsia e Williams partiu para seu próprio negócio, abrindo a
Centaurus, e levou consigo uma garota de Programa chamada Najara, menina dos
olhos de Willliams, que, apaixonado, não quis que ela trabalhasse mais e a
transformou em cafetina. "Najara é arrogante e durona com as meninas, mas
suave com os clientes. Ela começa a trabalhar todos os dias às 8h e é
responsável pela seleção de novas garotas. Às vezes, o idioma pode ser um
problema. A maioria fala um pouco de inglês e outro problema são os modos. Elas
têm que ser meninas de elite. As de fora da cidade são quase todas européias e
trabalham de novembro até o Carnaval. As brasileiras vivem nos bairros
cobiçados Zona Sul e estão na faixa dos 20 anos. Uma prostituta de 30 anos é
avó", diz Limas.
A Centaurus abriu em 1985, em parte graças à fama de seus
proprietários, e à sua localização impressionante – uma rua com árvores
frondosas a minutos da praia e a poucos passos das lojas e restaurantes mais
tops do bairro de Ipanema e tornou-se quase que instantaneamente uma lenda. A
reputação de suas meninas era insuperável, com as mais belas garotas. A
Centaurus abriu um mercado de outras casas semelhantes e mais, digamos,
humildes, como a Vila Mimosa, 'o tosco distrito da luz vermelha'. De acordo com
os antropólogos cariocas Thaddeus Blanchette e Ana Paula da Silva, há
aproximadamente 300 pontos ativos no mapa do sexo da cidade.
Tendo essas informações como base, Amos começou a circular
pela cidade, como no bairro da Glória. "Enquanto os trabalhadores passavam
usando ternos pastéis, fiz uma pausa numa sauna gay, o Clube 117, que ainda
estava fechado. Um homem idoso passando por ali fez o comentário: 'Gay'
repetidamente apontando para o letreiro, sem fazer contato visual. Outra noite,
na Lapa, onde a noite nunca termina, todos os cantos são habitados por
travestis. De repente me deparei com uma briga – era um círculo de travestis
batendo num homem. Ele teve a ousadia, pobre tolo, de tentar furtar um membro
da tripulação", relatou Amos.
Localizada próxima ao estádio do Maracanã e rodeada por ruas
cheias de lixo e prédios desleixados está a Vila Mimosa, desafiadora – há 100
anos ela existe escondida em plena vista. No Brasil, a prostituição é
tecnicamente legal. Mas as regras são rígidas: não pode haver benefícios de
terceiros. Qualquer coisa além de uma troca direta entre uma profissional do
sexo e um cliente é proibida.
Um lugar como a Centaurus – que não faz nenhum esforço para
se esconder, decorada com uma estátua metade-homem e metade-cavalo – é
flagrantemente ilegal. Mas a única vez que a casa sofre algum problema é em
época de megaeventos, quando a atenção do mundo se volta para o Rio. Em 2012,
durante a conferência da ONU Rio +20, o lugar foi fechado. No dia 29 de maio
deste ano, foi trancado novamente. Mas, nas duas vezes, a operação voltou ao
normal em semanas. De acordo com o ex-barman, durante seu tempo por lá,
policiais eram pagos para avisar quando teria uma batida por lá. "Se você
deseja ter uma termas no Rio, você tem que ter parceiros da polícia",
contou o atropólogo Blanchette.
A Vila Mimosa também é igualmente imperturbável pela
polícia, mas por diferentes razões. As 'profissionais' são ex-trabaladoras do
sexo e donas das próprias casas. Mas elas operam com a bênção da 'milícia'.
"Meu contato aqui, a Julie Ruvolo, uma repórter na luta pelos direitos das
trabalhadoras do sexo, diz que, em todos os seus anos de trabalho e relatórios
na Vila Mimosa nunca viu um policial de plantão. É um lugar calmo, mas com tons
de cinza: vários antropólogos deixaram de trabalhar depois de receberem ameaças
de morte", escreveu Amos. "Encontrei Ruvolo numa casa com uma ampla
varanda estilo New Orleans cheia de cadeiras de ferro cobertas com estampas
florais e várias mulheres na faixa dos 30 e 40 anos usando saltos e lingeries
com babados. Ruvolo, com a ajuda das mulheres, criou a RedLightRio, um banco de
dados com todas as mulheres que trabalham na área", contou Amos.
O trabalho de Julie tornou-se uma missão: "As prostitutas
são as pessoas mais marginalizadas e incompreendidas da sociedade. Estou apenas
focada em ampliar suas vozes", diz ela. Segundo Aline, umas das meninas,
desde que a Copa começou o negócio está fraco. Os cariocas estão assistindo aos
jogos enquanto turistas não têm coragem o suficiente para se aventurarem por
ali. "A Copa é boa para os jogadores de futebol. Mas o único aumento que
temos visto é o de jornalistas", lamenta Aline.
"A Vila é um amontoado de pequenos bares e clubes de
striptease. Dentro do complexo, a maioria dos quartos têm seu próprio sistema
de iluminação e trilha sonora. À frente de cada porta, uma menina desfila num
minúsculo biquíni com saltos de onça. Quando eu passava, algumas empinavam suas
bundas lentamente ou faziam sons de beijo. Mas todas pareciam entediadas",
relata o repórter.
Em 12 de junho, primeiro dia da Copa do Mundo, um bar 24
horas chamado Balcony, em frente à rua da FIFA Fan Fest, em Copacabana, foi
fechado sob a acusação de 'lucrar indiretamente' da exploração sexual de
menores. O proprietário disse que a acusação era absurda e que menores que
trabalham na área nunca foram autorizados a entrar no bar. Mas o local era, de
fato, o reduto das meninas.
Em 2010, a boate Help foi fechada para a construção do Museu
da Imagem e do Som. Mas nenhuma trabalhadora foi para casa: em uma semana as garotas
e a clientela mudaram o ponto para o Balcony.
"Antes da meia-noite, a praça do Lido está lotada de
croatas, argentinos e chilenos, usando orgulhosamente as camisas de seus times.
Os ambulantes aumentam o valor das cervejas. Espalhadas por clubes de strip, as
meninas arrastam os turistas para seus quartos. É o pequeno inferno de
Copacabana", resume Amos.
Fonte: Revista Epoca
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