“Todos somos colocados em alerta,
também as comunidades cristãs, com as visões da feminidade contaminadas por
preconceitos e suspeitas prejudiciais à dignidade inviolável da mulher”. Foi o
que disse o Papa, durante a audiência geral na Praça de São Pedro, comentando o
Evangelho de Mateus que conta o episódio da “hemorragia”, a mulher que sofria
perdas de sangue e que conseguiu tocar a borda do manto de Jesus, que se virou
para ela, a animou, e a curou. Um comportamento que, explica Francisco, “indica
à Igreja o caminho que deve cumprir para ir ao encontro de cada pessoa”.
A reportagem é de Andrea
Tornielli, publicada por Vatican Insider, 31-08-2016. A tradução é do Cepat.
A mulher, disse o Papa, “se
aproxima para tocar a borda do manto” de Jesus, pensando: “Se conseguir só
tocar no manto serei salva”. “Quanta fé! – comenta Bergoglio – Quanta fé tinha
esta mulher! Avalia assim porque está animada pela fé e a esperança e com um
pouco de astúcia realiza o que tem no coração. O desejo de ser salva por Jesus
é tal que a empurra a desafiar as prescrições que a lei de Moisés estabelecia,
porque ela era considerada impura, já que sofria fluxos de sangue. E, por isso,
estava excluída das liturgias, da vida conjugal, das relações normais com o
próximo”.
Era uma mulher “marginalizada da
sociedade”. “É importante considerar esta condição de marginalizada –
acrescenta Francisco – para entender seu estado de ânimo: ela sente que Jesus
pode libertá-la da enfermidade, de seu estado. Sabe, sente que Jesus pode
salvá-la. Este caso nos faz refletir como, muitas vezes, a mulher é percebida e
representada: todos somos colocados em alerta, também as comunidades cristãs,
com as visões da feminidade contaminadas por preconceitos e suspeitas que
resultam prejudiciais à dignidade inviolável da mulher”. No entanto, recorda o
Papa, “são justamente os Evangelhos que restabelecem a verdade e a reconduzem a
um ponto de vista libertador”.
Não sabemos o nome da mulher,
observa o Pontífice, “mas as poucas linhas dos Evangelhos que falam dela
delineiam um itinerário de fé capaz de restabelecer a verdade e a grandeza da
dignidade de cada pessoa”. No encontro com Cristo, “em cada mulher e cada
homem”, está a “via da libertação e salvação”. O Evangelho de Mateus, observa
Francisco, “diz que quando ela tocou o manto, Jesus se virou para ela e a viu:
ela, temerosa, agiu nas suas costas para não ser vista, era impura. Jesus a viu
e seu olhar não foi de reprovação: não disse: “saia daqui, você é impura!”.
Não. Seu olhar é de misericórdia e ternura. Jesus não só a acolhe como também a
considera digna de tal encontro, até o ponto de oferecer sua palavra e
atenção”.
Na parte central da história, o
termo “salvação” é repetido três vezes. “Esse ‘coragem, filha’ de Jesus –
acrescentou Francisco – expressa toda a misericórdia de Deus por aquela pessoa
e por todas as pessoas marginalizadas. Quantas vezes nos sentimos interiormente
marginalizados por nossos pecados, temos tantos..., o Senhor nos diz: “Coragem,
vem, para mim você não é um marginalizado, uma marginalizada. Coragem filha,
você é um filho, uma filha”. Este é o momento da graça, do perdão, da
inclusão”. Temos que “ter a coragem de ir até Ele e pedir perdão por nossos
pecados e seguir adiante, com coragem, assim como fez esta mulher”.
Jesus, disse o Papa, “a liberta
da necessidade de agir secretamente. Um marginalizado sempre age se escondendo
de algo. Os leprosos, nós pecadores. Sempre fazemos algo secretamente, temos a
necessidade de agir assim porque nos envergonhamos do que somos. Ele nos
liberta, nos coloca em pé, assim como Deus nos criou: em pé, não humilhados”.
Jesus, concluiu Francisco, “com seu comportamento pleno de misericórdia, indica
à Igreja o caminho que deve cumprir para ir ao encontro de cada pessoa, para
que cada um possa ser curado no corpo e alma e recuperar a dignidade dos filhos
de Deus”.
Ao finalizar, o Papa cumprimentou
alguns refugiados provenientes do Iraque e Oriente Médio, presentes na praça:
“Que o Senhor os abençoe e os proteja do maligno”.
Fonte: Ihu
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