Jesus não rejeita o amor familiar
nem as relações amistosas. O que não aceita é que elas sejam sempre as relações
prioritárias, privilegiadas e exclusivas. Aos que entram na dinâmica do reino
de Deus procurando um mundo mais humano e fraterno, Jesus recorda-lhes que o
acolhimento aos pobres e desamparados deve ser anterior às relações de
interesse e aos convencionalismos sociais.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 14,7-14 que corresponde ao
22° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus está convidado a comer por
um dos principais fariseus da região. Lucas nos indica que os fariseus não
deixam de espiá-Lo. Jesus, no entanto, sente-se livre para criticar os
convidados que procuram os primeiros lugares e, inclusive, para sugerir ao que
o convidou a quem deve colocar à frente.
É esta interpelação ao anfitrião
que nos deixa desconcertados. Com palavras claras e simples, Jesus indica-lhes
como devem atuar: “Não convides os teus amigos nem os teus irmãos nem os teus
parentes nem os vizinhos ricos”. Mas, há algo mais legítimo e natural que
estreitar laços com as pessoas que nos querem bem? Não fez Jesus o mesmo com
Lázaro, Marta e Maria, seus amigos de Betânia?
Ao mesmo tempo, Jesus assinala em
quem se deve pensar: “Convida os pobres, aleijados, mancos e cegoss”. Os pobres
não têm meios para corresponder ao convite. Dos aleijados, coxos e cegos, nada
se pode esperar. Por isso, ninguém os convida. Não é isto algo normal e
inevitável?
É possível viver de forma
desinteressada? Pode-se amar sem esperar nada em troca? Estamos tão afastados
do Espírito de Jesus que, por vezes, até a amizade e o amor familiar estão
mediatizados pelo interesse. Não temos de nos enganar. O caminho da gratidão é
quase sempre duro e difícil. É necessário aprender coisas como estas: dar sem
esperar muito, perdoar sem exigir, ser mais paciente com as pessoas pouco
agradáveis, ajudar pensando apenas no bem do outro.
Sempre é possível reduzir um
pouco os nossos interesses, renunciar de vez em quando a pequenas vantagens,
colocar alegria na vida do que vive necessitado, oferecer um pouco do nosso
tempo sem reservá-lo sempre para nós, colaborar em pequenos serviços gratuitos.
Jesus atreve-se a dizer ao
fariseu que o convidou: “Feliz de ti se não te podem retriubir”. Esta
bem-aventurança ficou tão esquecida que muitos cristãos nunca ouviram falar
dela. No entanto, contém uma mensagem muito querida para Jesus:
“Felizes os que vivem para o
próximo sem receber recompensa. O Pai do céu os recompensará”.
Fonte: Ihu
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