Com o lema Este Sistema é
Insuportável: Exclui, Degrada, Mata, baseado em um discurso feito pelo Papa
Francisco na Bolívia, o tradicional Grito dos Excluídos pretende este ano
criticar o sistema capitalista. O evento ocorre sempre no dia 7 de setembro e é
organizado por movimentos sociais e pelas pastorais católicas.
A 22ª edição do Grito dos
Excluídos, que vai ocorrer quarta-feira (7) em várias cidades brasileiras,
pretende convocar a população para resistir à retirada de direitos sociais que
se anunciam com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff, por decisão do
Senado, ontem (31). “Este é um grito que deve alertar o povo sobre a gravidade
da situação, a necessidade de lutar. A crítica está sendo sufocada e ela tem de
voltar às ruas. Essa é uma ditadura disfarçada de democracia que quer passar
sobre o povo”, afirmou o economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior.
Para o economista, o momento
brasileiro não difere do que ocorre no mundo, em que a crise obriga os poderes
econômico e político a reorganizar o sistema capitalista, “ampliando a
exploração dos trabalhadores”. É nesse contexto que o economista avalia a
deposição da presidenta, ressaltando que o Grito dos Excluídos deve estar
“acima da disputa partidária, buscando uma revolução democrática e reformas
estruturais que não foram realizadas por nenhum governo até agora”.
“O grito chega em um momento
trágico. No dia 7, a parada cívica vai ser conduzida por um presidente
ilegítimo, um usurpador. E quem está sendo usurpado é o povo, que disse não ao
ajuste fiscal e a qualquer perda de direitos nas eleições. Querem reduzir as
políticas sociais para dar mais dinheiro aos rentistas”, avaliou Plínio de
Arruda Sampaio Júnior.
O lema deste ano do Grito dos
Excluídos está baseado na fala do Papa Francisco, em encontro com movimentos
sociais na Bolívia, no ano passado: “Este sistema é insuportável: Exclui,
degrada, mata”. A frase trata dos problemas sociais e ambientais do modelo
capitalista de produção. Durante toda a próxima semana vão ocorrer atividades
referentes ao evento, em centenas de cidades de 24 estados, pelo Brasil. Em São
Paulo, o Grito dos Excluídos vai se reunir quarta-feira na Praça da Sé, no
centro da capital, a partir das 9h. E às 10h será realizada uma marcha pelo
centro.
O bispo da Diocese de Barretos,
Dom Milton Kenan Júnior, ressaltou que é preciso estar “unido ao povo na
reconquista de seus direitos”. Ele disse que sempre foi entusiasta da Operação
Lava Jato e defendia que era preciso pôr fim ao governo petista, pautado nas
denúncias de corrupção. Porém, ele agora teme que a deposição de Dilma ponha em
risco a soberania popular e os direitos sociais.
“Há algumas semanas me chamaram
atenção para a criminalização dos movimentos sociais, com gente sendo presa sem
cometer crime algum. Quando a gente se dá conta das Propostas de Emenda à
Constituição (PECs) encaminhadas pelo novo governo, reduzindo gastos sociais,
além de ações para tirar da Justiça o poder de implementação da Lei da Ficha
Limpa e entregar aos Legislativos. O desafio da igreja hoje é ajudar o povo a
perceber os riscos que correm e se organizar para retomar lutas de 30 anos
atrás”, disse o bispo.
O tema principal do grito, ano
após ano, tem sido a defesa da vida. Nesta edição, procura-se evidenciar a
defesa da “vida em primeiro lugar”. “Nos preparamos para um momento difícil de
enfrentamento com um sistema que põe a vida em último lugar”, ressaltou
Soniamara Maranhão, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Segundo ela, o objetivo do Grito dos Excluídos segue sendo construir um projeto
popular de país, sobretudo “para enfrentar os golpes que ainda virão”.
Ela avalia que o golpe
consolidado ontem vai levar a perdas de direitos históricos da população,
ampliando os excluídos. Além disso, o novo governo já anunciou a intenção de
privatizar estatais e bens públicos, assim como realizar reformas na
Previdência social e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que não vão
beneficiar a população.
Questionado sobre a violenta
repressão policial que tem ocorrido contra os movimentos sociais críticos à
derrubada da presidenta Dilma, o coordenador nacional do Grito Ari Alberti
ponderou que a repressão não é novidade e ocorreu em edições anteriores do
evento. Considerou grave, no entanto, a forma como Temer expressou que vai
tratar os críticos do golpe e de seu governo. “Ele deixou claro que não vai
deixar barato. Mas o que vamos fazer? Não podemos ficar em casa esperando algo
mudar”, disse e chamou a imprensa à responsabilidade, pedindo que “exponha
fatos e não versões”.
“A maior defesa que a gente tem é
o povo na rua. Eles radicalizaram no ataque à democracia, nós temos que
radicalizar na defesa da democracia”, disse Plínio de Arruda Sampaio Júnior.
Fonte: EBC e Rede Brasil Atual
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