E é muito difícil explicar para
ele que a violência pode estar no tom de voz e não necessariamente nas palavras.
Se eu transcrevesse palavra por
palavra vários dos diálogos que tenho com meu namorado e que levam a brigas,
vocês achariam que eu sou exagerada e ele, no máximo, seco ou econômico com
palavras. Mas na verdade, a maioria das vezes ele foi superagressivo, só que no
tom de voz e na forma como dizia as palavras. Eu sei que é uma coisa muito
sútil, mas que também machuca. Porque o jeito como uma frase é dita pode te
diminuir, te colocar para baixo ou te culpar, sem que nenhuma das palavras
ditas tenha feito isso. Mas o pior mesmo é que ele não percebe que faz isso.A
gente está junto há muitos anos e eu demorei muito tempo para entender isso. No
começo, quando discutíamos, eu ficava extremamente chateada e dizia: “não me trate como burra” ou “não haja como se eu tivesse feito algo
errado”. E ele sempre respondia: “mas o que eu disse que te fez pensar isso?”.
E de fato, nenhuma palavra dele tinha qualquer um desses sentidos. E eu ficava
me sentindo mal, acabava recuando no meu ponto, cedia e ainda me sentia culpada
por tê-lo acusado injustamente.
Mas calma aí, eu sei muito bem
que não sou doida. E se depois de anos isso continuava se repetindo,
praticamente igual todas as vezes, talvez eu não estivesse tão errada assim.
Então comecei a prestar atenção e
percebi que, em geral, apesar de usar palavras sempre “do bem”, com frequência
ele era agressivo na forma de dizê-las.
Um simples “você que sabe”, vinha
carregado de acusação e crítica. Um singelo “não gostei” era capaz de me humilhar. E não, eu não estou
pirando, pensei muito sobre isso, dividi com muitas outras pessoas, até
construir toda a certeza sobre isso.
Claro que comecei a confrontá-lo
com isso. E o rapaz não consegue perceber! Afinal, eu não filmo nossas
discussões (devia começar a fazer) para provar que ele falou de forma violenta.
Está sendo um processo bem lento fazer com que ele perceba a própria
agressividade.
Porque ele é homem e homens
crescem acostumados a estarem sempre certos. E mais que isso, eles aprendem a se
impor na hora das discussões desde novos. Mas o que eles não aprendem é a ter
autoconhecimento, a reparar nas próprias emoções. Homens não conversam na mesa
de bar sobre seus sentimentos, não desabafam com os amigos sobre o que sentem,
não olham para dentro de si. Daí que o querido não consegue nem perceber quando
está com raiva ou nervoso ou agressivo, porque ele só olha pra superfície.
E como um dos famosos homens
desconstruídos, ele fala como se não fosse machista, mas o tempo todo dentro
dele está o machismo mandando ver, tão enraizado que dá seu jeitinho de escapar
de outras formas, sem ele nem perceber.
Um exemplo. Eu decido sair com
amigas, sem ele. Ele sabe que não vou aceitar que ele mande em mim, então diz,
“você que sabe o que faz”. Mas ele não gosta disso, ele tem ciúmes, então esse
“você que sabe” é agressivo, de cara fechada, sem olhar nos meus olhos, num
verdadeiro tom de ameaça. Porque no fundo, o que ele quer é dizer que a escolha
de sair envolve cultivar ou não nosso relacionamento. E por anos, eu caía nessa
ameaça sem perceber…
Claro que isso é fichinha perto
das outras formas de violência que homens manifestam por aí. Mas aposto que um
tanto bom delas poderia se resolver se os homens todos começassem a se abrir
com amigos e a explorar as próprias emoções.
Imagina só, o cara falar o que realmente sente, sem hipocrisia e
conversar sobre isso, ao invés dar um jeito de exigir o que quer indiretamente.
Fonte: AzMina
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