Uma mulher foi molestada aos 8
anos. A segunda, aos 15 anos, quando quatro homens puseram uma venda em seus
olhos e a estupraram. E a terceira foi violentada sexualmente duas vezes, uma
quando criança e a segunda já adulta. Vergonha e medo calaram as três durante
anos, até que conseguissem contar suas experiências a alguém.
Por Yasmin Nouh, do Huffington Post
Agora, Breaking Silence, novo
documentário da cineasta Nadya Ali, narra as histórias dessas mulheres e o
processo de lidar com os fatos e de revelá-los para amigos e família.
“Para quem você conta e a
resposta que recebe podem influenciar muito como você [como uma sobrevivente]
irá continuar a enfrentar e se curar ou não [do trauma]”, disse Navila Rashid,
assistente social forense que participa do filme, durante um evento sobre o
documentário.
“O silêncio para mim foi a pessoa
mais fácil de conversar, porque o silêncio entendeu que eu não queria ser
julgada.”
Em suas próprias palavras, aqui
estão algumas recomendações sobre como responder quando uma mulher* conta que
foi violentada sexualmente:
1. Escute.
Fique em silêncio e apenas
escute. Pode ser desconfortável para ela, mas, ser solidário com esse
desconforto, acreditar no que é dito e mostrar seu apoio é muito mais poderoso
do que ficar fazendo perguntas investigativas ou tentar consertar o problema.
Embora o trauma seja indelével, a
presença de alguém que irá escutar sem culpar ou julgar é vital.
Dizer coisas como “sinto muito
pelo o que aconteceu, imagino como deve ser difícil e estou aqui para ajudar”,
pode ser muito mais útil porque valida a sobrevivente, reconhece sua dor e
expressa apoio.
2. Não tente resolver o problema.
Muitas vezes, fazemos perguntas
porque estamos tentando entender o que aconteceu a fim de encontrar uma solução
ou digerir o trauma.
Mas já é difícil o bastante para
essa pessoa compartilhar sua história, imagine responder perguntas sobre os
detalhes físicos e logísticos do evento. A pessoa ainda pode sentir muita raiva
e vergonha, e pode ser que ela apenas queira compartilhar sua história sem ter
o peso de explicar a fundo.
3. Pergunte sobre o estado mental/de saúde dela.
Quando uma sobrevivente compartilha
sua experiência, está claro que ela processou algo ou compartilhou a história
antes. Conversar com ela sobre como ela se sente ou em que estágio se encontra
em seu processo de cura pode ser útil. E, se ela não quiser falar, tudo bem de
ficar em silêncio.
4. Abstenha-se de minimizar a experiência da sobrevivente.
Comentários como “bem, pelo menos
não foi pior” ou “pelo menos isso não aconteceu” podem soar como
desconsideração ou uma tentativa de minimizar o ocorrido. No final das contas,
o sofrimento de uma sobrevivente — independentemente da gravidade — basta para
justificar o aconselhamento e apoio.
5. Não faça comentários que indiretamente culpam a sobrevivente.
Perguntas como “o que você estava
usando?” ou “tem certeza de que não estava interessada” ou comentários como “é
porque você não usa ‘hijab’ [véu islâmico]” podem fazer com que as
sobreviventes se culpem, e, portanto, deixá-las mais confusas e isoladas.
Também criam um clima que,
inadvertidamente, absolve o autor de seus crimes.
Além disso, só porque uma
sobrevivente não protestou violentamente ou não havia sinais de resistência
física, isso não quer dizer que ela não tenha sido atacada.
6. Fazer declarações violentas não ajudam. Isso se aplica
principalmente aos homens.
Afirmações como: “Onde ele está?”
ou “Vou quebrar a cara dele” não são sempre úteis. A raiva surge de um fonte de
amor, mas, quando a sobrevivente está contando algo sério e emocionalmente
desgastante, uma reação irada não a ajuda nenhum pouco processar o trauma.
Na verdade, pode fazer com que
ela se sinta culpada por jogar um fardo sobre você. Mais uma vez, fique calmo e
escute.
7. A pessoa que está contando a história pode não ser muito próxima.
Escute de qualquer forma.
Às vezes, as sobreviventes chegam
a um ponto onde elas estão guardando o trauma por tanto tempo que se abrem para
qualquer pessoa que esteja ali, mesmo se a pessoa não for próxima a elas. Neste
caso, é crucial permanecer em silêncio e ser uma fonte de apoio.
8. A negação pode agravar o trauma.
Se o agressor da sobrevivente for
alguém que você conhece, uma reação comum é entrar em um processo de negação.
Quando você nega os fatos, você atesta que a sobrevivente está inventando as
coisas, o que pode perpetuar o trauma ainda mais. É importante entender que
qualquer pessoa é capaz de cometer uma violência sexual, seja um parente, amigo
ou líder da comunidade.
9. Não faça fofocas.
Ao compartilhar a história, a
sobrevivente mostra que confia em você, por isso, trate a informação com
sensibilidade, não faça fofocas sobre isso com outros e respeite a privacidade
dela.
* * *
Ao participar do filme, as três
mulheres esperam iniciar o diálogo sobre o combate ao abuso sexual,
especialmente em suas comunidades, onde o sexo ainda é tabu.
Ao abordar como nossas respostas
às sobreviventes desempenham um papel fundamental no processo de cura, as
mulheres mostram que lidar com a violência sexual não deve ser o fardo de um
indivíduo, mas uma responsabilidade coletiva que assumimos com compaixão e
extremo cuidado.
*Optamos por usar a palavra
mulher para refletir a realidade de que a maioria das vítimas de agressão
sexual é composta por mulheres.
Precisa de ajuda? Ligue 180. Central de Atendimento à Mulher Para
Denúncias Contra a Violência.
Fonte: Huffington Post
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