terça-feira, 2 de agosto de 2016

8 coisas para fazer quando alguém te contar que foi vítima de violência sexual

Uma mulher foi molestada aos 8 anos. A segunda, aos 15 anos, quando quatro homens puseram uma venda em seus olhos e a estupraram. E a terceira foi violentada sexualmente duas vezes, uma quando criança e a segunda já adulta. Vergonha e medo calaram as três durante anos, até que conseguissem contar suas experiências a alguém.


Por Yasmin Nouh, do  Huffington Post

Agora, Breaking Silence, novo documentário da cineasta Nadya Ali, narra as histórias dessas mulheres e o processo de lidar com os fatos e de revelá-los para amigos e família.


“Para quem você conta e a resposta que recebe podem influenciar muito como você [como uma sobrevivente] irá continuar a enfrentar e se curar ou não [do trauma]”, disse Navila Rashid, assistente social forense que participa do filme, durante um evento sobre o documentário.

“O silêncio para mim foi a pessoa mais fácil de conversar, porque o silêncio entendeu que eu não queria ser julgada.”

Em suas próprias palavras, aqui estão algumas recomendações sobre como responder quando uma mulher* conta que foi violentada sexualmente:

1. Escute.

Fique em silêncio e apenas escute. Pode ser desconfortável para ela, mas, ser solidário com esse desconforto, acreditar no que é dito e mostrar seu apoio é muito mais poderoso do que ficar fazendo perguntas investigativas ou tentar consertar o problema.

Embora o trauma seja indelével, a presença de alguém que irá escutar sem culpar ou julgar é vital.

Dizer coisas como “sinto muito pelo o que aconteceu, imagino como deve ser difícil e estou aqui para ajudar”, pode ser muito mais útil porque valida a sobrevivente, reconhece sua dor e expressa apoio.

2. Não tente resolver o problema.

Muitas vezes, fazemos perguntas porque estamos tentando entender o que aconteceu a fim de encontrar uma solução ou digerir o trauma.

Mas já é difícil o bastante para essa pessoa compartilhar sua história, imagine responder perguntas sobre os detalhes físicos e logísticos do evento. A pessoa ainda pode sentir muita raiva e vergonha, e pode ser que ela apenas queira compartilhar sua história sem ter o peso de explicar a fundo.

3. Pergunte sobre o estado mental/de saúde dela.

Quando uma sobrevivente compartilha sua experiência, está claro que ela processou algo ou compartilhou a história antes. Conversar com ela sobre como ela se sente ou em que estágio se encontra em seu processo de cura pode ser útil. E, se ela não quiser falar, tudo bem de ficar em silêncio.

4. Abstenha-se de minimizar a experiência da sobrevivente.

Comentários como “bem, pelo menos não foi pior” ou “pelo menos isso não aconteceu” podem soar como desconsideração ou uma tentativa de minimizar o ocorrido. No final das contas, o sofrimento de uma sobrevivente — independentemente da gravidade — basta para justificar o aconselhamento e apoio.

5. Não faça comentários que indiretamente culpam a sobrevivente.

Perguntas como “o que você estava usando?” ou “tem certeza de que não estava interessada” ou comentários como “é porque você não usa ‘hijab’ [véu islâmico]” podem fazer com que as sobreviventes se culpem, e, portanto, deixá-las mais confusas e isoladas.

Também criam um clima que, inadvertidamente, absolve o autor de seus crimes.

Além disso, só porque uma sobrevivente não protestou violentamente ou não havia sinais de resistência física, isso não quer dizer que ela não tenha sido atacada.

6. Fazer declarações violentas não ajudam. Isso se aplica principalmente aos homens.

Afirmações como: “Onde ele está?” ou “Vou quebrar a cara dele” não são sempre úteis. A raiva surge de um fonte de amor, mas, quando a sobrevivente está contando algo sério e emocionalmente desgastante, uma reação irada não a ajuda nenhum pouco processar o trauma.

Na verdade, pode fazer com que ela se sinta culpada por jogar um fardo sobre você. Mais uma vez, fique calmo e escute.

7. A pessoa que está contando a história pode não ser muito próxima. Escute de qualquer forma.

Às vezes, as sobreviventes chegam a um ponto onde elas estão guardando o trauma por tanto tempo que se abrem para qualquer pessoa que esteja ali, mesmo se a pessoa não for próxima a elas. Neste caso, é crucial permanecer em silêncio e ser uma fonte de apoio.

8. A negação pode agravar o trauma.

Se o agressor da sobrevivente for alguém que você conhece, uma reação comum é entrar em um processo de negação. Quando você nega os fatos, você atesta que a sobrevivente está inventando as coisas, o que pode perpetuar o trauma ainda mais. É importante entender que qualquer pessoa é capaz de cometer uma violência sexual, seja um parente, amigo ou líder da comunidade.

9. Não faça fofocas.

Ao compartilhar a história, a sobrevivente mostra que confia em você, por isso, trate a informação com sensibilidade, não faça fofocas sobre isso com outros e respeite a privacidade dela.

* * *
Ao participar do filme, as três mulheres esperam iniciar o diálogo sobre o combate ao abuso sexual, especialmente em suas comunidades, onde o sexo ainda é tabu.
Ao abordar como nossas respostas às sobreviventes desempenham um papel fundamental no processo de cura, as mulheres mostram que lidar com a violência sexual não deve ser o fardo de um indivíduo, mas uma responsabilidade coletiva que assumimos com compaixão e extremo cuidado.

*Optamos por usar a palavra mulher para refletir a realidade de que a maioria das vítimas de agressão sexual é composta por mulheres.

Precisa de ajuda? Ligue 180. Central de Atendimento à Mulher Para Denúncias Contra a Violência.

Fonte: Huffington Post


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